Jacob Kirkegaard é um artista dinamarquês que estuda o som. Em seus trabalhos existe sempre a pesquisa e exploração de ressonância e do comportamento do som em ambientes específicos com aspectos científicos explicitados dentro das propostas e conceitos quando necessário.
“4 Rooms” é o quinto trabalho de Jacob lançado em disco – o segundo pela Touch – e teve como ponto de partida a idéia de “I Am Sitting In A Room”, trabalho de 1970 do compositor americano Alvin Lucier onde ele gravava sua voz em um determinado espaço e depois a tocava repetidas vezes gravando novamente.
No caso do trabalho de Kirkegaard, temos a apresentação/retrato sonoro de quatro salas desertas dentro da “zona de alienação” em Chernobil, na Ucrânia. Jacob escolheu salas que foram ativos pontos de encontro: uma igreja na aldeia Krasno, um auditório, um ginásio e uma piscina em Pripyat. Tudo foi gravado em outubro de 2005.
O som de cada sala foi evocado por camadas sonoras de tempo: em cada sala, ele gravou dez minutos e depois tocou a gravação de volta no quarto, enquanto gravava novamente. Este processo foi repetido por dez vezes. Conforme as camadas ficavam mais densas, cada sala vagarosamente começava a manifestar um drone peculiar.
Pelo que consta todos essas salas foram esvaziadas com urgência. De repente, as pessoas tiveram que sair às pressas sem tempo pra resgatar seus pertences. Se você não conhece bem a história ou nunca ouviu falar no desastre nuclear de Chernobil, é uma pesquisa interessante.
Chernobil ainda é uma cidade fantasma, por conta do maior acidente nuclear da história da humanidade, ocorrido em 26 de abril de 1986. Vale muito ver esse documentário exibido pelo Discovery Channel e, caso você não tenha vivido aqueles alarmantes dias, entender a gravidade do que se passou.
O que me marcou nesse trabalho de Kirkegaard foi a riqueza dos sons extraídos e a mítica intrigante que traz o conceito. Um caso em que a proposta e o texto enriquecem e muito a subjetividade da obra.
Kirkegaard lançou o disco no ano em que o desastre completou 20 anos, em abril de 2006. Gravou o acúmulo sonoro desses espaços repletos de radioatividade em que não se aconselharia ficar muito tempo, e eles falam por si só, de alguma forma.
São apenas quatro musicas, que você ouve abaixo, na íntegra:
“Church”
“Auditorium”
“Swimming Pool”
“Gymnasium”
Outro trabalho intrigante de Kirkegaard é a instalação que também virou disco: “Labyrinthitis”, de 2008, onde ele transforma os ouvidos em “instrumentos musicais”, usando emissôes octoacústicas como base. Mas aí já é outra história, que também vale uma pesquisada.
—
1. Church (12’47”)
2. Auditorium (13’05”)
3. Swimming Pool (13’30”)
4. Gymnasium (13’04”)
Data de lançamento: 26 de abril de 2006
Gravadora: Touch
Produtor: Jacob Kirkegaard
Tempo total: 52 minutos e 26 segundos