O Festival de Ruído foi uma iniciativa minha e do J-P Caron pra trazermos pro Rio de Janeiro um festival onde a matéria-prima fosse de fato o ruído (clique aqui pra ver a programação).
Não que a iniciativa seja pioneira. Não é. Já tivemos vários festivais, como o Outro Rio e outras iniciativas do nosso tradicional Plano B, mas queríamos algo que fosse um reflexo do que tem acontecido nesse ano de 2013. Tivemos festivais onde o ruído esteve em destaque: em Curitiba (PERTURBE), São Paulo (Synnfest) e BH (BHnoise). E é capaz de terem acontecido outros que não chegaram até mim. Queríamos que acontecesse no Rio de Janeiro.
Conseguimos marcar o festival de forma independente e convidamos alguns parceiros de fora que nunca haviam tocado pelo Rio. Juntamos alguns dos nomes que têm feito bastante coisa por aqui nesses últimos tempos. Claro que, como só temos um dia de festival, faltou bastante gente, inclusive daqui do Rio de Janeiro. Mas resolvemos fechar dessa forma com a idéia de que se correr tudo bem com essa edição, ela será apenas a primeira.
Como disse, chamamos artistas que têm o ruído como um dos principais ingredientes em seu trabalho – mesmo os artistas visuais. Apesar de todos os convidados já terem um tempo de carreira e dedicação ao que fazem, poucos têm uma abertura na mídia alternativa brasileira. Acho que essa é uma das boas coisas de um festival: a partir de um dos nomes que conhecemos e queremos conferir, acabamos conhecendo outros trabalhos que nos interessam.
Por conta disso, resolvemos, eu e J-P Caron, fazer um guia do festival aqui pelo Floga-se, com o desafio de falar dos artistas e projetos em poucas palavras, deixando um link com uma amostra do trabalho de cada um.
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SANANNDA ACÁCIA
Sanannda diz que pinta frequentemente seus sonhos. Paisagens oníricas nas quais personagens emergem de um fundo multifolheado, opaco e ruidoso. O gosto pelo ornamento, não mais enquanto enfeite como algo inessencial, mas enquanto substância mesma da obra. Em outros trabalhos, as personagens desaparecem e o fundo se torna figura, subsistindo apenas o campo de onde emergiram antes, cores e intensidades. Acompanhe pelo Facebook.
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MARIO BRANDALISE BARIL
Mario Brandalise Baril é um ruidista. Sua obra visual pende entre alguma ordem musical e a espontaneidade do ruído, ora gravando desenhos produzidos sem pretensão, ora retalhando meticulosamente modelos vivos cristalizados através do processo fotográfico, próprio e apropriado. Explora a gravura como o faz com o silêncio. Gritando, tentando manter certo ritmo ou apenas seguindo o caos.
Aprendeu a desenhar sozinho, foi educado formalmente em xilogravura e serigrafia artística por Nelson Edi Hohmann, no museu da Gravura de Curitiba.
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PARALIZED BLIND BOY
Obra de Guilherme Henrique, com a frequente participação de Mario Brandalise Baril, habita obsessivamente o universo power electronics/noise/drone. Tem lançado consistentemente, destacando-se seus dois trabalhos “The Phlegm Of Gaia”, de junho de 2013, e “All Eyes Blind”, de julho de 2013. Música repetitiva, lenta e obsessiva que se faz e desfaz ao redor de pequenos ritornelos.
Ouça na íntegra “All Eyes Blind”:
Ouça na íntegra “The Phlegm Of Gaia”:
Veja o PBB em ação, em agosto de 2013:
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AFRO HOOLIGANS
Unindo elementos de ruído à música eletrônica de pista, Afro Hooligans, formado por Marcos Felinto e Everton Andrade, é uma incursão industrial dentro da rítmica repetitiva. Longe do pathos, perto do transe; ao vivo, o duo frequentemente se torna um trio com a presença de Guilherme Henrique (Paralyzed Blind Boy).
Ouça na íntegra “Tiny”, de outubro de 2013:
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VICTIM!
O VICTIM! – de Cadu Tenório – é um projeto de música extrema inspirado, entre outras práticas, por power electronics e noise, fazendo um extensido uso de field-recordings.
Segundo J-P Caron, “a categoria básica que orienta a música do VICTIM! é a de lugar. Trata-se de uma música de lugares – lugares por onde ela passa e de onde ela foi retirada (via registros) e lugares que ela cria”.
Ouça na íntegra “Lacuna”, de abril de 2013:
Veja o vídeo de “Wash My Face; Awake”:
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SLEEP OF AGES
O Sleep Of Ages é um dos projetos de Elias CJ. Apesar de ter iniciado sua trajetória nos palcos recentemente, o projeto já tem um extenso número de lançamentos no catálogo, tanto em selos nacionais quanto de fora. Ao vivo, as manipulações de Elias ficam mais próximas do power-electronics/industrial.
Ouça na íntegra “Sword And Sandals”, de maio de 2013:
Aqui, ao vivo, no Perturbe 2013:
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-notyesus>
o -notyesus> é um duo de noise/drone composto por J-P Caron e Rafael Sarpa. As apresentações do duo costumam ser lembradas pela intensidade. Algumas já são consideradas históricas no underground carioca, a exemplo da que gerou o disco “Preto Sobre Preto”, que, apesar de já ter mais de seis anos de existência, só foi lançado oficialmente nesse ano de 2013.
Ouça “Preto Sobre Preto”:
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GOD PUSSY
God Pussy é Jhones Silva. Segundo o próprio, seu som é baseado no “ódio ao opressor”. Uma expressão extrema de liberdade. Dedicado ao harsh noise, Jhones já lançou incontáveis registros como God Pussy, tanto em gravadoras nacionais como internacionais.
Ao vivo:
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ALEXANDER ZHEMCHUZHNIKOV
O russo Alex Zhem é um músico improvisador em extrema atividade no cenário carioca. Já colaborou com diferentes artistas que vão de Bonifrate a Chinese Cooke Poets. No Festival de Ruído, o saxofone agressivo do russo aparecerá como interferência na performance do VICTIM!.
Ouça a participação dele em “Vão”, do Sobre A Máquina:
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SÁVIO DE QUEIROZ
Músico, produtor e improvisador carioca. Conhecido por seu trabalho com música eletrônica tanto no duo Ceticências quanto no Epicentro do Bloquinho – do qual não faz mais parte -, atualmente Sávio está mais envolvido na cena noise carioca. Através de sintetizadores analógicos e guitarra processada, seu trabalho com loops e camadas é o que veremos esse ano no Festival de Ruído.
Ouça “Vis”, do Ceticências:
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DEDO
DEDO é um coletivo dedicado às artes, tanto visuais quanto sonoras. Em show, o DEDO é um trio, formado por Arthur Lacerda, Lucas Pires e Rafael Meliga. Separadamente seus integrantes já se envolveram em variados aspectos da improvisação livre e do industrial. O trabalho do DEDO é de imersão tanto dos músicos envolvidos quanto dos espectadores de suas performances, que são sempre minuciosamente estruturadas.
Ouça na íntegra “& escola Ltda. Andropausangineismo”, de fevereiro de 2013:
“O Divino Contra DEDO”: