Podemos afirmar que os meios pra se produzir música estão muito mais acessíveis que há quinze anos. Diria até dez anos atrás, em se tratando de Brasil.
Embora o culto pelo lo-fi não seja nenhuma novidade, uma grande leva de artistas e bandas que gravam suas músicas nos próprios homestudios (geralmente localizado em seus quartos) vem ganhando a mídia alternativa e até a mainstream nos últimos anos. Novos subgêneros foram criados pra abrigar parte desse pessoal. Dois dos que vi chamarem muita atenção nos últimos anos foram o chillwave e o witch house, sem contar a ascensão do dubstep, mas vou deixar esse último de lado pra não fugir muito do assunto num post sobre o Grimes.
Ultimamente, a cultura das cantoras/compositoras também tem ressurgido – e com força total. Moças que têm feito bastante barulho sem usar apenas o balançar das bundas e caretas sensuais. O mainstream adotou Adele e logo a Florence Welch, mas existem inúmeras muito boas por aí, como é o caso de Julia Holter – que acaba de lançar o excelente “Ekstasis” e um dos melhores discos do ano passado -, Julianna Barwick, Zola Jesus e a queridinha do Pitchfork, Claire Boucher, que é de quem vou falar agora.
O Grimes é formado apenas por ela. Claire Boucher, uma jovem canadense de 24 anos, tem aparência “estranha” e voz peculiar. Ela já usou uma tag curiosa pra classificar o tipo de som que faz: “post-internet”. Classificação interessante, que dá ênfase à facilidade com que a geração dela – que também é a minha – teve/tem (e espero que continue tendo…) de conhecer música de vários gêneros, épocas e países ao alcance de um clique, desde o que em décadas passadas era dado como raro e inacessível até o que há de mais novo foi lançado ontem no Japão.
“Visions” é o terceiro disco do Grimes (“Geidi Primes”, 2010; “Halfaxa”, do final de 2010; além de um split com d’Eon) e apresenta uma sonoridade sombria, que é deliciosamente pop ao mesmo tempo, com elementos do synthpop, idm, post-punk, música ambient e até pitadas sutis do post-industrial – ao meu ver.
Embora sombrio, o Grimes também é recheado de doçura e de uma estranha alegria que se deve à voz de Claire. É uma voz que oscila entre a doçura e a sensualidade, uma espécie de mistura inusitada de Kate Bush com Elizabeth Fraser. É de fato muito interessante o contraste entre músicas como “Be A Body” e “Skin”. Existe um groove legal de ouvir nos beats e linhas de baixo com referência 80’s.
Ouça “Be A Body”:
Ouça “Skin”:
Claire faz parte da geração de artistas que, querendo ou não, podem ser rotuladas de chillwave ou witch house, embora ela não se enquadre em nenhum dos dois. Pode-se notar que ambos os estilos poderiam ser representados por ela entre aspas, pela estética e pelo modo como produz seu som – vale também ressaltar pequenos momentos que remetem ao dubstep, como na faixa “Eigh”.
Bandas que ganham esses rótulos jornalísticos inspiram em muitas pessoas certo preconceito – witch house e chillwave principalmente. Mas assim como existem bandas ruins em todos os tipos de classificação, também existem por aí preciosidades que carregam essas alcunhas.
O Grimes merece toda a reverência e atenção, independente da “caixinha” em que for colocado, independente da visão que já tiveram da banda.
Veja o vídeo de “Oblivion”:
01. Infinite Love Without Fulfilment
02. Genesis
03. Oblivion
04. Eight
05. Circumambient
06. Vowels = Space And Time
07. Visiting Statue
08. Be A Body
09. Colour Of Moonlight (Antiochus) [feat. Doldrums]
10. Symphonia IX (My Wait Is U)
11. Nightmusic (feat. Majical Clouds) (clique aqui e veja o vídeo)
12. Skin
13. Know The Way
Data de lançamento: 31 de janeiro de 2012
Gravadora: Arbutus
Produtor: Claire Boucher
Tempo total: 48 minutos e 4 segundos
O som que a Alex Winston faz, também é bem interessante e se enquadra nesta “safra´´de novas cantoras.
Gostei da sua resenha, cara. Bastante fundamentada. Da uma olhada no que eu escrevi sobre esse álbum (http://ovne.wordpress.com/2012/02/22/album-grimes-visions/). Eu tento ser mais direto e mais focado no trabalho atual, sem comparar muito com trabalhos anteriores ou com a cena atual. Mas essa foi a minha primeira resenha.
Abs
Ela é uma graça e o som dela é muito interessante!
[…] de Majical Clouds, está no terceiro disco do Grimes, alter-ego da moça de vinte e poucos anos, “Visions”. É o segundo vídeo oficial tirado do disco (o primeiro havia sido […]
[…] Claire Boucher, que em cima do palco atende como Grimes, estreou na tevê estadunidense com essa apresentação no Jimmy Fallon, na noite de 14 de agosto de 2012, tocando “Genesis”, do seu terceiro disco, “Visions”. […]