ENGRENAGEM #9: PRURIENT – BERMUDA DRAIN/TIME’S ARROW

Dominick Fernow é um nome bem conhecido em Nova Iorque. É um dos artistas mais prolíficos que conheço no noise, produz incessantemente sob diversos nomes. Prurient é um projeto de noise/power electronics (PE, pra facilitar), que ultimamente tem trilhado um caminho um tanto distinto pro que é comum no gênero – o PE é caracterizado por letras extremas que costumam explorar os limites do psicológico, narradas ou berradas por cima de grandes paredes de ruído e bastante feedback.

Explicando assim, de forma resumida, pode parecer algo bobo, mas não é. Também não é algo confortável de se ouvir e, como quase tudo influenciado pelas raizes do industrial, não foi feito pra ser.

Em 2011, o Prurient lançou “Bermuda Drain”, um disco surpreendente, tenso, visceral mas ao mesmo tempo climático e inebriante – um dos melhores do ano passado pra mim.

Dominick parece ter sido um pouco influenciado pelo projeto synthpop/post-punk/darkwave Cold Cave, do qual também faz parte há pouco tempo. Suponho que isso tenha trazido ao Prurient uma certa frieza melódica, uma espécie de flerte do noise com o minimal synth.

O disco foi bem recebido pela critica, embora muitos dos fãs antigos tenham estranhado algo bem menos harsh noise. Músicas hipnóticas como “Palm Tree Corpse”, perturbadoras e recheadas de emoção são o forte do disco, que abriu espaço até para momentos ambient melodiosos e beats ocasionalmente dançantes, como na ótima “Let’s Make A Slave”. Mas ainda existem momentos caóticos, como em ‘Watch Silently”.

Ainda em 2011, saiu “Time’s Arrow”, também pela Hydra Head, um EP de cinco faixas que faz um mix entre o Prurient visto no “Bermuda Drain” com o noise hostil de trabalhos antigos do projeto. O contraste entre “Slavery In The Bahamas”, uma “sinfonia” de noises disconexos que se constrói ritmicamente, e a própria “Time’s Arrow”, com camadas melódicas criando um clima de tensão envolvente por cima de um beat rígido e da narração de Dominick, é sensacional.

Pra quem nunca ouviu ou não está acostumado com PE ou mesmo noise, tanto o disco quanto o EP são ótimos pra começar, e não porque os considere um “easy-listening” pro gênero, muito pelo contrário. “Bermuda Drain” e “Time’s Arrow” mostram a versatilidade de um dos artistas mais respeitados do noise.

No YouTube, você encontra diversas apresentações ao vivo do Prurient com convidados. Dentre os vários, pra citar um, temos o próprio Thurston Moore tocando com Dominick.

Dominick possui sua própria gravadora independente, a Hospital Production, que tem um catálogo doentio. Se você tiver ouvidos resistentes e nervos fortes, vale a garimpada. Aliás, tem disco do Cold Cave – que não é doentio, é uma boa pedida para os fãs do velho post-punk/darkwave – pela gravadora, vale a pena uma ouvida.

Esse é “Bermuda Drain”:

1. Many Jewels Surround The Crown
2. A Meal Can Be Made
3. Bermuda Drain
4. Watch Silently
5. Palm Tree Corpse
6. There Are Still Secrets
7. Let’s Make A Slave
8. Myth Of Sex
9. Sugar Cane Chapel

Data de lançamento: 13 de julho de 2011
Gravadora: Hydra Head Records
Produtor: Dominick Fernow e Kris Lapke
Tempo total: 35 minutos e 28 segundos

Ouça na íntegra:

E esse é “Time’s Arrow”:

1. Time’s Arrow
2. Time’s Arrow (Unsolved)
3. Let’s Make a Slave (De-Shelled)
4. Maskless Face
5. Slavery In the Bahamas (Instrumental)

Data de lançamento: 25 de outubro de 2011
Gravadora: Hydra Head Records
Produtor: Dominick Fernow
Tempo total: 22 minutos e 17 segundos

Ouça na íntegra:

Leia mais:

Comentários

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3 comentários

  1. […] O Pedestrian Deposit foi formado por Jonathan Borges no ano de 2000. Jonathan é um artista que lida com field recordings, tape loops, feedbacks e colagens de som. Assim como grande parte dos contemporâneos que gosto nessa seara, o PD já teve cassetes e discos lançados em diversas gravadoras independentes de renome, como a Monorail Trespassing e a própria Hospital Productions (já citada nessa coluna – veja aqui e aqui). […]

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