Um lugar pra sepultar estranhos, mas não a estranheza. O nome da banda é apropriado. Em 2003, na cidade de Nova Iorque, quando Oliver Ackermann se juntou a um conhecido e se ofereceu pra ser baterista, a música finalmente veria de volta toda a insanidade e barulheira que há muito havia sumido com a onda do britpop.
Ackermann acabou ficando com a guitarra ao invés da bateria, o tal amigo saltou fora e a ele se juntaram Jason “Jay Space” Weilmeister e Jonathan “Jono MOFO” Smith (Dion Lunadon entrou no seu lugar em 2010) pro A Place To Bury Strangers surgir de vez. Pra ficar. E fazer barulho. Muito barulho.
Com dois discos lançados (e um terceiro a caminho, como esta entrevista feita por e-mail revela, e que viria a ser “Worship”, lançado em 2012), o A Place To Bury Strangers já se aninhou numa grande gravadora e mesmo assim consegue fazer seus ruídos. Pode-se dizer que a banda “venceu” – e num curto espaço de tempo.
Venceu, mesmo que a palavra de ordem na banda seja “estranheza”.
Porque fazer música alternativa é exatamente isso: pegar o que é feito por aí, o que a sociedade entende como normalidade, e fazer o contrário, fazer o “estranho”. Não é preciso nem mesmo desconstruir, embora seja imensamente saboroso pegar referências de quem já fez isso e moldar sua música. Por “estranho” entenda isso.
E melhor, como a própria banda diz aqui, “sem pegar leve”. Não, o A Place To Bury Strangers não “pega leve”. As guitarras soam alto, pra deixar ouvidos zunindo. Não é pra qualquer um. Não é pra fracos. Não é pra quem pega leve.
Floga-se: Tudo começou no Brooklyn, Nova Iorque, menos de dez anos atrás. Do primeiro show, em 2003, até hoje, o que mudou no A Place To Bury Strangers? Vocês notaram alguma mudança?
A Place To Bury Strangers: Bem, a banda começou muito mais como um quarteto tranquilão (depois virou um trio) e foi ficando mais áspero e doido desde então. Achamos que a banda supre a lacuna daquela música intensa que queríamos ouvir e desde então continuamos fazendo nossa música mais e mais alta e doida e fodona. Desde que Dion se juntou à banda, ano passado, nos voltamos ainda mais pra auto-destruição.
F-se: Ano passado, o A Place To Bury Strangers veio pra América do Sul, pra alguns shows em Bogotá, na Colômbia. Por que não vieram ao Brasil? Não tiveram convites?
APTBS: Queríamos ter tido (convites). Adoraríamos ter ido ao Brasil. Alguns amigos que estiveram por aí disseram que é um dos lugares mais sensacionais pra tocar e definitivamente o Brasil está no topo da lista dos lugares que precisamos ir.
F-se: Em 2009, APTBS assinou com a Mute Records, entretanto o segundo trabalho, “Exploding Head”, continuou soando barulhento e alto como o primeiro disco (homônimo, lançado por uma pequena gravadora, a Killer Pimp Records). Normalmente, isso não acontece. Vemos a banda mudando seu som e pegando mais leve. Qual foi a mágica ou o grande argumento pra conseguir isso?
APTBS: Funcionou de verdade porque a Mute já era fã do nosso trabalho e eles realmente não quiseram mudar nada, e deixaram-nos criar o álbum que queríamos. Não poderia ser de outra maneira, se eles não gostassem tanto, provavelmente teríamos rompido e começado com outra (gravadora) só pra lançar o disco que queríamos.
F-se: O que podemos esperar do próximo disco? Vocês estão trabalhando nele, certo?
APTBS: Estamos trabalhando no próximo disco agora e estamos realmente bastante entusiasmados. As músicas que escrevemos recentemente estão numa nova pegada pra gente, ao mesmo tempo que mantém o senso A Place To Bury Strangers de criação. Deverá ser lançado em 2012, mas vamos lançar um EP este ano, que será uma prévia da vibe que o próximo disco terá. Juntamos um bocado de equipamentos pra gravar esse disco, como pré-amplificadores, unidades de reverberação, clippers, compressores e tal pra criar um som especial. Também estivemos fazendo um bocado de experimentações malucas com coisas bizarras e gravando os instrumentos e lugares estranhos e em estranhas condições, e achamos que há uma energia inconfundível nas composições que virão.
“To Fix The Gash In Your Head”, de “A Place To Bury Strangers”, vídeo de 2007:
F-se: O APTBS já tocou com o Jesus & Mary Chain, Black Rebel Motrocycle Club, Brian Jonestown Massacre… Ainda são comparados a essas bandas depois de tantos anos? Vocês se importam com isso?
APTBS: Poderíamos às vezes ser comparados a essas bandas, mas sentimos que as comparações são tênues, então não damos muita atenção sobre o que as pessoas pensam disso.
F-se: Qual o maior prazer nesse negócio?
APTBS: Criar a música que amamos.
F-se: O APTBS tocou uma sessão acústica pro blogue vienense They Shoot Music, Don’t They?. As canções pareceram bem legais no formato acústico. Há a possibilidade da banda gravar um disco assim ou algo do tipo?
APTBS: Valeu! Não achamos que vamos fazer isso, a menos que fosse um pedaço de um lançamento, de um disco. Não faria sentido pro que nós fazemos como banda. Mesmo que gostemos desse tipo de coisa, há bandas que não funcionam assim, que não pegam leve, e nós somos uma dessas bandas. Nós não pegamos leve.
F-se: Qual sua opinião na questão dos direitos autorais? Acham que a Internet ajuda as bandas?
APTBS: (Direito autoral) É uma bobagem, mas pode ser que a gente seja os únicos a pensar assim. Somos humanos, vamos trabalhar juntos. Mas no mundo de hoje, tem quem ache que precisa dessas coisas. A Internet ajuda a difundir a música por aí e conecta músicos e pessoas que querem fazer ou compartilhar algo, mas também cria um bocado de lixo que é preciso peneirar e classificar, e (a Internet) até mesmo deprecia a audição inicial dos discos, ao colocar as pessoas de frente a uma tela de computador enquanto ouvem.
F-Se: O que vocês conhecem de música brasileira?
APTBS: No colegial um dos nossos amigos amava o Sepultura e dirigíamos por aí ouvindo alto, no nosso Chevy Caprice 1989.
F-se: Em poucas palavras, defina A Place To Bury Strangers
APTBS: APTBS é a manipulação da percepção das massas.
“Keep Slipping Away”, de “Exploding Head”, ao vivo, em Fresno, Esteites, 2010:
[…] Leia também a entrevista que o Floga-se fez com a banda. […]