A japonesa que atende pela alcunha de Emamouse (エマ マウス) tem produzido música desde que é muito, muito nova, porém apenas recentemente ela tem se destacado com seu “denpai experimental” nos selos eletrônicos ou em seu gigantesco arsenal no Bandcamp (são mais de 40 lançamentos!).
A espontaneidade com a qual respondeu minhas perguntas sobre produção e relação dos seus trabalhos com reminiscências da infância também pode ser conferida em suas músicas: trilhas-sonoras de videogames aceleradas e invertidas, sobreposição de tons e letras confusas e labirínticas.
Emamouse lançou, só este ano, um brilhante trabalho multimídia com Yeongrak (leia a resenha aqui) e a continuação de sua saga ficcional “PSBB2”.
Emamouse é uma representante da geração que antecedeu a Z, ou seja, foi arremessada no período em que a combustão tecnológica invadiu os lares, principalmente em um país avançado nesse quesito como o Japão, e correlaciona o fantasma digital intrinsecamente com a produção sonora.
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Floga-se: Cresci no Brasil jogando muito RPG japonês e, quando ouço sua música, parece que estou voltando àquele tempo, mas visitando um “lugar mais escuro” que eu nem conhecia naquela época. Como você relaciona seu processo criativo à sua infância?
Emamouse: Obrigada! Às vezes eu via programas estranhos de TV à meia-noite, quando era criança. Acho que eles eram apenas programas de TV, mas era estranho, usavam cores vívidas. Eu assistia “à imagem de cores vívidas que eu não vi”, no escuro sozinha, no “horário em que uma criança não deveria estar acordada”. Naquele horário, eu ficava mais animada. E também me sentia admirada. Eu queria viver lá o tempo todo, é o lugar mais calmo. Então, estou sempre criando isso.
F-se: Às vezes, curto ouvir seus álbuns enquanto vejo o seu Twitter (mesmo que eu não entendo a maioria das coisas) e o Bandcamp, só porque o seu trabalho artístico é realmente impressionante. Como aconteceu de você terminar nesse estilo único de desenho?
Emamouse: Estou muito feliz. O efeito do jogo é muito forte. Quando eu era uma estudante do ensino médio, conheci um jogo chamado “LOOM” que meu irmão mais velho comprou. Acho que isso mudou minha vida. Eu fui inspirada pelo trabalho artístico deste jogo. Nunca tinha visto um mundo assim. E queria expressar essa atmosfera por conta própria. Recentemente, tenho andado de bicicleta na rua. Vou sublimar todos os belos edifícios e plantas que eu vir nessas voltas de bicicleta, a arte de Angkor Wat e a arte do Egito vistas na biblioteca. Além disso, como gosto de rir muito, acho que os jogos mais bonitos e engraçados são os melhores. Então, eu faço esses desenhos bobos (muitas risadas).
F-se: Como você planeja suas performances ao vivo?
Emamouse: Pra ser honesta, estou sempre me preocupando com isso. Porque eu não sei o que os outros querem ver. Sempre penso em como posso tornar minha vida mais impressionante. Mas ainda não tomou forma. O que você acha que eu deveria fazer? (muitas risadas)
F-se: Sua música é, ao mesmo tempo, assustadora e engraçada. Como você mistura esses elementos opostos?
Emamouse: Não tenho muita consciência disso. Estou apenas moldando desesperadamente minha “linda música”. E eu amo a progressão de acordes cada vez mais. Se tiver que escolher uma palavra, fico entediada facilmente. Eu pauso música que considero chata instantaneamente. Então, não quero que as pessoas digam “sua música é chata, então eu pausei”.
F-se: Sua cooperação com Yeongrak foi ótima. Como aconteceu a coisa toda (incluindo as belas ilustrações interativas no site da Quantum Natives)?
Emamouse: Nós nos encontramos na web há dois anos. E gostamos dos trabalhos um do outro. Eu respeito Yeongrak. O mundo de Yeongrak é semelhante à TV vívida naquele lugar sombrio em que eu estava. No caso de Yeongrak, parece ser um “templo dentro das vísceras”. É divino ouvi-lo sozinha. Há o melhor desconforto e relaxamento lá. E eu queria fazer um novo santuário no PC. Eu queria que fosse Yeongrak e eu. E uma galeria web criada com Awe IX, que é um dos proprietários da Quantum Natives. Ele também é um artista maravilhoso. Ele entendeu, mesmo sem precisar explicar, meu conceito de trabalho. E sublimou-o à perfeita beleza da “arte da Quantum Natives”. Existem muito poucas pessoas que podem fazer essas coisas.
F-se: Como você começou a criar músicas no PC?
Emamouse: Tenho criado música desde que era pequena. Mas sempre foi só pra mim e nunca pros outros. Porque eu mal posso tocar guitarra ou piano, mas há cerca de quinze anos, um amigo me ensinou a existência de DAW (digital audio workstation) e o método de operação facilitado. Então, tenho feito isso o tempo todo. Tenho uma natureza que me faz continuar fazendo o que me parece divertido igual a um macaco (muitas risadas).
F-se: Como está a cena musical de Tóquio agora? Quais coisas você tem apreciado?
Emamouse: Acho que não estou muito familiarizada com ela. Eu não digiro muita música nova. No entanto, quando vou a eventos musicais, sempre há artistas divertidos lá. Muitos deles e aqueles que os rodeiam são sérios e sinceros. Eles estão se esforçando pra expressar coisas interessantes. É muito emocionante pra mim. Em relação à música experimental, as áreas fora de Tóquio também estão ativas.
F-se: Quais são suas obsessões artísticas ao criar um novo álbum?
Emamouse: A beleza. E estou falando sério sobre a imagem da beleza no meu coração. Pra imaginar fortemente o novo mundo, pra imergir lá. Tento levar as pessoas que ouvem minha música pra outra dimensão.
F-se: De que maneira você acha que o lugar onde você mora se reflete nas suas músicas?
Emamouse: Acho que reflete muito mesmo. Porque muitas imagens das minhas coisas (que considero) belas nascem de um passeio pela cidade.
F-se: Pra você, quais são os maiores desafios ao criar um novo trabalho?
Emamouse: Quero fazer algo como uma nova música folclórica étnica. Mas é difícil pra mim nesse momento. Então, vou tentar o desafio no futuro. Além disso, simplesmente tenho pouca habilidade técnica pra operar o DAW. Então, vou estudar mais.
F-se: Como você acha que a rede de relacionamentos criados online influencia, de alguma forma, sua música?
Emamouse: Conheci um amigo próximo, que trabalhou na arte do “PSBB2”, na web. E, por causa dele, comecei a estudar pra desenhar na rua. Isso é muito excitante. E conheci Yeongrak na web, aprendi que o conceito de desconforto e profundamente relaxante podem viver juntos. Interagi online com os criadores de jogos independentes americanos. Eles são muito originais e engraçados. Então, acho que minha arte ficou mais engraçada por conta deles.
F-se: Este é a última. “PSBB2” é uma extensão clara do “PSBB1”? E, em caso afirmativo, por que você decidiu fazer isso depois de dois anos?
Emamouse: Fiquei pensando que queria fazer essa trilha-sonora o tempo todo desde que toquei o R-TYPE com um motor de PC(TurboGrafx-16)no ensino médio. Criei o “PSBB1” como uma trilha-sonora original de um jogo fictício de tiro. E já que é o meu trabalho de vida, eu criei recentemente o 2. A razão pra levar dois anos é apenas porque havia muitas coisas pra fazer em outros lugares (risos). Acho que nós também faremos o 3, 4 e 5 no futuro. É isso. Foi uma entrevista muito divertida. Obrigada!
muito loco!
fui ouvir outros trabalhos no bandcamp dela, que equisitice !
originalissima