ENTREVISTA: LAS ROBERTAS – PELO MUNDO

Com o segundo disco lançado em junho de 2014, “Days Unmade”, o trio Las Robertas consolida-se como uma “banda mundial”, pra além das fronteiras da Costa Rica. Não que “Cry Out Loud”, de 2010, não tenha feito esse trabalho – foi, de fato, o estopim. Mas o segundo disco sempre é aquela prova de fogo: teria sido mera empolgação dos críticos descoladinhos do primeiro mundão?

“Days Unmade” mostra que não: Las Robertas é sim uma banda pra se perseguir de perto. Crua, rasteira, divertida, barulhenta e doce, a banda formada hoje por Monserrat Vargas, Mercedes Oller e pelo “novo” baterista Fabrizio Durán está mais madura e nesses dois anos de gestação do disco (“Days Unmade” foi gravado, na verdade, em 2012 e só lançado em 2014) a visão é outra: se antes a banda não acreditava no que estava acontecendo, hoje está mais pé no chão.

Nessa entrevista exclusiva com Mercedes Oller, ela versa sobre a relação da banda com a música, amadurecimento, internacionalização, analisa com mais clareza o disco, e fala sobre a relação artística com o produtor Jon Greene (que mixou o primeiro dicso e agora produziu o segundo, e foi responsável também por trabalhos com Dum Dum Girls, Crocodiles e The Soft Pack).

Um papo curto pra colocar no mapa dos leitores do Floga-se esse que o produto de exportação mais bacana da Costa Rica.

Floga-se: Entre “Cry Out Loud” e “Days Unmade” foram quatro anos. Por que levou tanto tempo entre um disco e outro? A banda passou por mudanças, certo?

Mercedes Oller: Não levou tanto tempo pra gravar. Na verdade, nós gravamos em 2012 e apenas esperamos a oportunidade certa, além de um selo apropriado. E, sim, algumas mudanças aconteceram nesse período (a entrada de Fabrizio Durán no lugar de Ana M. Valenciano foi a principal).

F-se: Na visão de vocês, há muita diferença entre um disco e outro, musical e esteticamente falando?

MO: Sim, claro que há! Acho que nós “amadurecemos” um pouco, vivemos diferentes experiências como indivíduos, ouvimos diferentes tipos de música que definitivamente influenciaram as canções e o disco. Esteticamente, procuramos por um estilo mais simples, uma tipografia menos “adolescente” que em “Cry Out Loud”.

F-se: Tecnicamente, qual foi o ganho de trabalhar com Jon Greene? Como decidiram trabalhar com ele?

MO: Começamos trabalhando com Jon quando nosso selo anterior, Art Fag Recordings, assinou com a gente. Ele mixou “Cry Out Loud”, nos encontramos no SXSW e nos tornamos bons amigos, a química foi bem natural. Ele se ofereceu pra trabalhar em “Days Unmade” e todos nós fizemos acontecer. Amaríamos trabalhar com ele de novo, no nosso próximo disco, adoramos como esse disco ficou e a experiência que vivemos durante todo o processo.

F-se: “Days Unmade” parece mais acessível que “Cry Out Loud”, perto de bandas como Dum Dum Girls e Best Coast, por exemplo. As viagens aos Esteites contribuíram pra esse som mais “ensolarado”?

MO: (enfática) Não achamos que soe mais ensolarado (ri), na verdade a maioria das pessoas que ouviu o disco acha que ele é mais “sombrio” que “Cry Out Loud”. De verdade, achamos que é o oposto! E, não, nós não nos inspiramos em nossas visitas aos Esteites. De fato, a Costa Rica é mais ensolarada e “praiana” que qualquer lugar no mundo, talvez o clima tropical e a natureza do nosso país nos inspire a explorar mais batidas, como em “Dissected Affair”. (pra entender melhor o disco, leia um faixa-a-faixa bem interessante neste link aqui e ouça o disco abaixo)

F-se: As pessoas ainda se surpreendem com o fato de vocês virem da Costa Rica? Enfrentam algum tipo de preconceito?

MO: Acho que as pessoas realmente gostam da Costa Rica ou ao menos estão bem interessados nela, por conta de ser um lugar turístico bem famoso, pelo seu clima, natureza, praias. Talvez o preconceito venha se as pessoas acharem que na Costa Rica só há bandas de salsa ou de ritmos latinos! Nos perguntam muito se moramos na praia ou se a Costa Rica é uma ilha… Mas, não, na verdade nossas vidas são bem normais! Queria que ao menos a gente soubesse surfar (risos).

F-se: Como o mercado estadunidense descobriu Las Robertas? Como vocês se fizeram notar pelo mundo?

MO: Basicamente por blogues de música e pelo trabalho de relações públicas que o nosso selo fez à época. Nós fomos publicados pelo Gorilla Vs Bear e daí começamos a ser notados, pessoas escreviam resenhas e mandavam entrevistas pra gente, foi um choque, nunca esperamos tanta atenção ou um contrato pra gravar. Não sabíamos como reagir!

F-se: Nessa altura da carreira, é possível viver exclusivamente da música de vocês?

MO: Não, não vivemos de música. Todos temos nossos empregos e carreiras que não são relacionados à música. Agora é até mais difícil, porque temos mais responsabilidade e viagens pro exterior são bem caras! Então, toda vez que saímos em turnê, realmente tentamos tirar proveito disso e tocar o máximo que podemos.

F-se: No Brasil algumas bandas cantam em inglês e são criticadas por isso. Na Costa Rica, como a imprensa trata o fato de vocês não cantarem em espanhol?

MO: Costa Rica é um país globalizado e há um bocado de bandas que cantam em inglês também, então eu acho bem normal na cena. Somos questionadas às vezes sobre a razão de cantar em inglês, mas, não, não somos definitivamente criticados por isso.

F-se: Como é a cena da Costa Rica e quais bandas vocês indicam?

MO: Está se tornando mais sólida e mais sólida a cada dia, muitas bandas estão em turnê fora do país e até conseguindo acordos pra gravar mundo afora! Ficamos bem felizes de fazer parte disse e de ser possivelmente uma das primeiras bandas que começou uma carreira fora da Costa Rica. Amamos bandas como nossos irmãso do Ave Negra, Los Waldners, Los Cuchillos, Monte, Malas Palabras, Timber of Trees, Desorden Siniestro, Colornoise e Seka among others… Existem tantas!

F-se: Há planos pra tocar na América do Sul, pra promover o disco?

MO: Infelizmente, não temos planos ainda. Sonhamos em excursionar por ai. Por favor, nos convide! Não recebemos ainda nenhum convite.

F-se: Qual é o futuro de Las Robertas nos próximos… dez anos?

MO: Não sei… Espero que possamos fazer umas doideiras e música, não importa o quão velhos a gente seja!

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