ENTREVISTA: MIDLAKE – BOM HUMOR POR TRÁS DAS BARBAS

O Midlake sempre esteve entre minhas bandas preferidas. Adoro o “Bamnan And Slivercork”, disco de estreia de 2004; e o mais recente, “The Courage Of Others”, de 2010; mas pouca coisa já lançada na história da música supera a beleza de “The Trials Of Van Occupanther”, de 2006.

Ok, colocar as coisas nesse nível pode soar bastante exagerado pra quem não está ligado musicalmente ao Midlake. Mas o disco de 2006 é sublime em vários aspectos, embora nenhum deles seja exatamente a originalidade, como bem destacou nesta entrevista exclusiva ao Floga-se Eric Pulido, guitarrista da banda (que entrou no quinteto após o EP de estreia “Milkmaid Grand Army”, de 2001, no lugar de Jason Upshaw): “realmente não sei se temos uma identidade”.

Essa foi uma das afirmações mais surpreendentes de Pulido aqui. Infelizmente, foram poucas. Embora tenha insistido, Pulido não revelou nada do novo disco da banda, que chega ainda em 2013. Mas ao contrário do que tal atitude possa parecer, não, ele não foi sisudo. Pulido mostrou na verdade um recorrente bom humor por trás das barbas “que unem” os integrantes.

Um bom humor que contrasta com a música invernal do grupo. Mas é só impressão. O Midlake é uma banda sossegada, que não gosta de badalação, e vive na dela, trabalhando demoradamente em cada disco.

Um bom humor que me surpreendeu, como a música do Midlake segue me surpreendendo.

Floga-se: Há um pequeno tópico na biografia do Midlake que é um tanto diferente da maioria das bandas dessa geração: vocês foram estudantes de jazz na universidade North Texas College Of Music (UNT). Que tipo de impacto esse histórico tem na música do Midlake?

Eric Pulido: Acho que o histórico de jazz deu a todo mundo na banda um conhecimento melhor de música, mas há aqui em Denton uma grande comunidade de músicos que vieram da UNT e eles continuam fazendo ótima músicas e nos inspiram todos os dias.

F-se: Num entrevista pra Prefixmag, em 2010, você disse que o sucesso do “The Trials Of Van Occupanther” fez toda a banda “largar seus empregos e se tornarem músicos”. Que tipo de empregos eram e, agora, Midlake vive especificamente da música?

EP: Alguns ensinavam música e outros trabalhavam em empresas de computação. Sim, vivemos de música agora… Mas nós também somos donos de um bar chamado Paschall. Venha nos visitar!

F-se: O que você acha do download gratuito e da música na era da Internet, então? Isso preocupa o Midlake?

EP: Acho que há muitos jeitos de ganhar dinheiro com música nos dias de hoje, então você deveria aceitar os downloads gratuitos. A esperança é que esses downloads gratuitos acabem gerando outras fontes de renda através da exposição.

F-se: “The Trials Of Van Occupanther” é um álbum com relativo sucesso no Brasil, mas nenhum dos discos do Midlake foi lançado por aqui. Daí que o Midlake meio que virou “cult” pra alguns brasileiros, obviament,e graças à Internet. Isso te surpreende?

EP: Acho que precisamos mudar isso! Adoraríamos visitar o Brasil e tocar por aí… E se rolar, pode ter certeza que levaremos alguns disco.

“Chasing After Deer”:

Vídeo oficial de “Head Home”:

F-se: Por que o Midlake nunca veio ao Brasil? Nunca houve convites?

EP: Infelizmente, pelo o que eu saiba, jamais recebemos um convite.

F-se: Bella Union é um selo inglês. Por que assinar com um selo de fora dos Esteites?

EP: Uma outra banda de Denton, Texas, assinou com o Bella Union, a Lift To Experience, e ela compartilhou nossa música com o selo. E mais: recebemos um e-mail do chefão Simon Raymonde dizendo simplesmente “eu quero ter bebês com o Midlake”. Achamos uma bela cantada!

F-se: Desde 1999, quando Midlake foi formado, até hoje, a banda só lançou três discos. O processo de composição é um tanto mais lento que outras bandas contemporâneas. Vocês recebem muita pressão dos fãs por novos materiais? Há um novo disco a caminho?

EP: Lançamos um EP em 2001, daí discos em 2004, 2006 e 2010. Nosso próximo disco será lançado este ano, em 2013. Nosso desejo não é levar muito tempo pra fazer discos, só queremos fazê-los direito. E qualquer que seja o tempo que leve, achamos que o tempo terá valido a pena.

F-se: As influências do Midlake vão de Radiohead a Fleetwood Mac, passando por Jethro Tull e Grandaddy. Você acha que sua música tem uma identidade notável, uma marca original Midlake?

EP: Realmente, não sei. Tomara que sim, mas como você mesmo disse, nossas influências são amplas e não param por aí. Ainda bem, há um fio em todas essas bandas e que nos une e que são… nossas barbas?

F-se: Por que escolheram a música do Black Sabbath “Am I Going Insane” pra fazer uma versão (pra série “Late Night Tales”)? Significa algo especial pra banda?

EP: Bem, estar numa banda provavelmente é o mesmo que implorar fazer essa pergunta várias vezes ao dia. Além disso, somos fãs do Sabbath e achamos que essa é uma boa pra fazer de um jeito diferente e, talvez, fugir um pouco do óbvio.

F-se: Acredita que “The Courage Of Others” é seu álbum mais maduro e também o mais triste?

EP: Sempre esperamos progredir a cada álbum que fazemos. então, se isso se traduz em maturidade, sim, esperamos que seja. Não posso definitivamente enxergar como o mais triste. Mas as letras e o fato de que todas as canções, menos uma, serem num tom menor, pode induzir, sim, à tristeza.

Vídeo oficial de “ulers, Ruling All Things”:

F-se: Qual sua canção favorita do Midlake?

EP (rindo): É uma do novo disco e não posso te dizer nada sobre ela, nem o nome, ainda.

F-se: Um recado aos fãs brasileiros…

EP: Esperamos ver seu povo lindo, no seu lindo país num lindo e próximo futuro!

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