ENTREVISTA: MINERAL – UMA COMUNIDADE AO LONGO DO TEMPO

O ano é 1994 – subsequente à explosão do grunge e discos mais acessíveis do Sonic Youth, o lançamento do canônico “Copper Blue”, My Blood Valentine mudando de uma vez por todas como a guitarra poderia ser utilizada na música, com “Loveless” -, Sunny Day Real Estate lança o que viria a se tornar um marco do emo, “Diary”. Nesse disco, foi possível perceber que todas aquelas “guitar bands” poderiam ser associadas a letras completamente intimistas, voltadas a imagens e detalhes do cotidiano que carregam um tremendo peso simbólico. É quando, em Houston, a banda Mineral se reúne.

Em 1997, lança seu primeiro disco, “The Power Of Failing”. A crueza devocional e estridente é exatamente o ponto médio entre o rock alternativo do SDRE e o emo que corria solto no meio-oeste (o que veio a ser batizado como midwest emo), em que anseios e dúvidas eram catalisados por uma vontade arrebatadora de libertar-se dos próprios pânicos, numa época em que falar sobre saúde mental, principalmente em rock, era algo raro.

No ano seguinte, é lançado seu canto de cisne, “EndSerenading”, em que qualquer influência do punk era deixada de lado pra fundamentar uma espécie de busca espiritual, num processo de gravação não convencional, restabelecendo, apenas quatro anos após “Diary”, um parâmetro pra como o chamado emo poderia soar e como era possível falar de temas caros como família, religião, depressão e ansiedade social. Ainda em 1998 e antes do lançamento oficial de “EndSerenading”, a banda acaba, deixando um legado de apenas dois discos, que ganharia um cult following que só aumentaria e abraçaria novas gerações.

Christopher Simpson e Jeremy Gomez seguiram instantaneamente com a banda Gloria Record; cujo único disco foi uma expansão, principalmente pra música eletrônica, do som principal do Mineral. Scott McCarver e Gabriel Wiley formaram o Imbroco, lançando um único e necessário EP, “Are You My Lionkiller?”. Gabriel ainda tocou bateria no Kissing Chaos, mas ficou principalmente conhecido pelo “If Arsenic Fails, Try Algebra”, disco seminal do Pop Unknown, obrigatório pra qualquer fã de emo. O projeto mais recente de Simpson foi Zookeeper, agora conhecido como Mountain Time.

Uma turnê de reunião do Mineral foi anunciada em abril de 2014, dezesseis anos após a banda parar suas atividades. Em 2019, a banda celebra seu aniversário de vinte e cinco anos lançando as músicas “Aurora” e “Your Body Is The World” e uma turnê mundial que, felizmente, chega ao Brasil.

A banda faz três shows no Brasil em agosto de 2019, um no Rio de Janeiro, outro em São Paulo e finalmente em Curitiba.

No Rio de Janeiro, a apresentação acontece dia 23, no Kubrick (ex-Teatro Odisseia), na Avenida Mem de Sá, 66, Lapa. Ingressos podem ser comprados neste link a R$ 110,00 (meia e promocional) e R$ 220,00 (inteira).

Em São Paulo, o show acontece no dia seguinte, no Vic Club, localizado na Rua Marquês de Itu, 284, Vila Buarque. Ingressos a R$ 150,00 (meia e promocional), vendidos neste site.

A turnê brasileira termina em Curitiba, dia 25, no 92 Graus, na Avenida Manoel Ribas, 108, Mercês. O ingresso do segundo lote está a R$ 100,00 (meia e promocional) e R$ 200,00 (inteira), à venda neste site.

Floga-se: Sei que alguns de vocês continuaram a lançar músicas durante todo o tempo em que o Mineral não estava junto (eu pessoalmente estou ouvindo seus outros projetos), mas me pergunto como foi estar novamente com os outros caras na sala criando algo novo depois de um tempo tão grande.

Jeremy Gomez: Honestamente, no começo foi um pouco de choque. Vendo na sala esse grupo de caras, o que obviamente era algo que não ocorria há muito tempo. É como ser transportado de volta pra um momento diferente em sua vida. Dito isto, nós nos entendemos muito facilmente, e fomos capazes de trabalhar. Escrever novos materiais do Mineral certamente apresentou seu próprio conjunto de desafios, mas, mais uma vez, quando nos focamos no que tínhamos planejado realizar, tudo pareceu muito natural.

F-se: Qual era a definição de “sucesso” que vocês tinham quando começaram a tocar juntos, considerando tocar junto com Christie Front Drive e lançar pela Crank!, e – olhando para trás todos esses anos – vocês acham que conseguiram o que tinham em mente?

JG: Eu não me lembro de pensar muito sobre “sucesso”, pelo menos no sentido tradicional “começar uma banda, lançar um álbum, fazer algo, se tornar grande”. Nós éramos jovens, e pareceu completamente natural pra todos nós dedicar cada momento quando não estávamos trabalhando em nossos trabalhos de merda pra ensaiar, escrever e fazer turnês. Obviamente, pensamos em coisas como quantas pessoas estavam em determinado show, ou se vendíamos algum disco ou camiseta naquela noite, mas estávamos felizes por estarmos tocando música. Nós também tínhamos uma grande rede de bandas e amigos por todo o país com quem tocávamos. Tudo parecia muito comum; então, apenas dar um rolê pela cidade e sair para fazer shows com nossos amigos era o que podíamos chamar de “sucesso”.

F-se: Zines foram bastante importantes na divulgação do rock independente nos anos 1990. Você acha que blogues e sites independentes podem ser comparados a zines de alguma forma ou os zines foram mais importantes porque eram periodicamente aguardados?

JG: Não tenho certeza absoluta se estou qualificado para responder a isso, como alguém que nunca prestou muita atenção a esse tipo de coisa. De volta à época original do Mineral, eu me informava mais no boca a boca. Como mencionei antes, as bandas que costumávamos tocar e sair em turnê juntos formavam uma comunidade muito unida; então, se alguém mencionasse uma nova banda, ou se íamos a um show e acabávamos surpreendidos, era assim que descobríamos o que estava acontecendo. Claro, essa foi a nossa perspectiva como banda. Pessoas que não estavam necessariamente em turnê pelo país e tocando com novas bandas em todos os lugares, tenho certeza que eram mais dependentes de coisas como zines para ficar informadas. Acho que os blogues são muito parecidos a esse respeito, mas também sei que, na maioria das vezes, o conteúdo é mais direcionado pela propaganda e pelo marketing, e menos pela pura paixão. Embora eu nunca tenha sido um ávido leitor de zines, respeito que a maioria deles foi criada por pessoas que se sentiam muito apaixonadas pelo que estavam fazendo.

F-se: Qual era a vibração daquela época que acabou “moldando” bandas de rock como a sua, Sunny Day, CFD, Texas Is The Reason? Vocês conscientemente pensaram sobre isso ou foi apenas uma manifestação daquele tempo específico?

JG: Talvez não seja necessariamente uma manifestação do tempo, mas mais uma manifestação daquilo em que estávamos imersos ou expostos musicalmente na época. Nós nunca discutimos o que estávamos tentando fazer com nossos amigos em outras bandas, mas quando você está tão ligado a outros músicos, é inevitável que você comece a compartilhar algumas semelhanças musicalmente. É interessante, porque nós viemos de um viés um pouco diferente do que muitas das bandas que conhecíamos na época. Muita dessa comunidade foi muito influenciada pelo hardcore e pelo punk, e não de onde viemos. Fomos muito influenciados desde cedo por bandas como Sugar, Catherine Wheel, Swervedriver, Slowdive, etc. Mas é muito legal saber como todas essas influências, e a influência que todos nós tínhamos uns nos outros, acabou criando algo que era ao mesmo tempo único e comum em todas as músicas que criamos.

F-se: O fandom Mineral é tão intenso sobre a música de vocês. A que você atribui tal paixão à música e às bandas que foram, e algumas ainda estão, tocando estilo similar?

JG: Nos perguntam muito isso, e ainda não tenho uma boa resposta. Mas, como um ávido fã de música, entendo. A música é uma coisa muito poderosa e visceral. Às vezes, há uma certa música, ou em muitos casos, uma certa banda ou artista, com a qual uma pessoa simplesmente se conecta em um nível muito profundo. Como sempre digo, sou extremamente grato e agradecido como artista pelo fato de que eu pude fazer parte de algo que significa muito pra muitas pessoas. Não é comum que alguém possa dizer isso e sei que nenhum de nós faz pouco caso disso.

F-se: Suas músicas são principalmente sobre superar medo, ansiedade social e tantas lutas que a vida pode forçá-lo a entrar. Eu me pergunto se vocês tinham, desde o início, a intenção da Mineral ser uma banda que abordasse essas questões?

JG: Não sendo aquele que escreve as letras, só posso comentar de uma perspectiva externa, mas eu sei que Chris (Simpson) escreve letras muito pessoais, que refletem as coisas que ele passou ou está passando. É incrível, no entanto, o fato de que ele pode escrever sobre coisas que são tão pessoais pra ele, mas fazê-lo de uma forma que também é universal, o que torna fácil pras pessoas se conectarem e obterem o seu próprio significado. Apesar de ser uma decisão da banda abordar certas questões, nunca tivemos conversas em grupo sobre isso. Esse sempre foi o espaço pro Chris ser criativo e expressar o que quer que estivesse em sua mente.

F-se: Eu e muitos dos meus amigos ouvimos suas músicas nos últimos dez, quinze anos, e quando vocês foram anunciados aqui no Brasil, ficamos loucos. Como vocês veem o fato de suas músicas terem seguido por tantas décadas e lugares e como vocês se sentem tocando pela primeira vez na América do Sul?

JG: É realmente incrível. Estivemos em muitos lugares que nunca em um milhão de anos imaginaríamos que iríamos como banda, e nunca deixa de nos surpreender que existem pessoas em todo o mundo que permaneceram conectadas à música que criamos tantos anos atrás. Estamos super animados para finalmente conhecer todos e tocar pra todas as pessoas que estão esperando a Mineral no Brasil!

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