Poltergat. O nome chamou atenção. Fui ouvir. Havia um EP, um único trabalho de três músicas lá no Bandcamp. De cara, Black Rebel Motorcycle Club. Beleza. Em exatos sete minutos, o trio formado por Gabriel Muchon (voz e guitarra), Luís Eduardo (baixo) e Guilherme Migliavaca (bateria), todos entre vinte e oito, vinte e nove anos, conseguiu passar seu recado. Eficiência.
É algo que não se encontra com facilidade pelos subterrâneos da música do Brasil. Por estar fora do radar, esses artistas não exitam em experimentar, em ultrapassar limites e mais afastar do que aproximar. São pontos positivos. Mas o Poltergat não está preocupado com isso: sua palavra-chave é “urgência” e é com ela que consegue sintetizar sua sintética música.
Sete minutos que fizeram a diferença pra mim. Eles foram diretos ao ponto. Corri e falei deles nessa matéria que apresenta o EP.
Poltergat, por sinal, tira seu nome de algo a ver com a velocidade, com a objetividade e com a simplicidade. Nessa entrevista exclusiva ao Floga-se, a primeira com tal destaque pra banda, o vocalista Muchon conta como surgiu o grupo, revela o andamento do primeiro disco cheio, e dá ideia das suas inspirações e aspirações: “temos que ir pra rua. Tocar à céu aberto, fazer festivais, gravar tudo isso em vídeo, espalhar a mensagem, criar esse interesse”.
No subterrâneo, a banda vai fazendo seu corre como pode.
Floga-se: Qual é a história da banda?
Gabriel Muchon: A banda surgiu no final de 2011, quando voltei pro Brasil e me reuni com os caras pra tocar umas jams sem nenhum compromisso… O Luís Eduardo, baixo, era parte da minha antiga banda, os Butterholics; e o Guilherme Migliavaca sempre foi um batera que nos impressionou, além de ser muito brother… Nos juntamos pra tomar umas e tocar sem muito objetivo… Nessas, saíram três musicas em um ensaio. Vimos que podíamos criar mais e a coisa foi crescendo. Eu morava em Londres (antes disso). Estava lá para estudar, trabalhar e, claro, ver muita banda. O maior objetivo era esse mesmo, entender porque aquela ilha tem tanta banda boa. Morei lá pouco mais de dois anos.
F-se: E o que mais te impressionou?
GM: As bandas que mais me impressionaram ao vivo, que eu me lembre agora, foram o Jay Reatard, o Bo Ningen… Tinha uma cena de shoegaze que tava muito forte na época. Também curto muito a bagunça do Ty Segall, Thee Oh Sees…
F-se: Por que Poltergat?
GM: É por conta do queniano, imperador da São Silvestre, Paul Tergat. Parece meio bobo e babaca, mas fez todo o sentido pra gente. E, no final, é apenas um nome. A nossa temática sempre foi bem urbana, falando bastante de São Paulo, e achamos ele um ícone que poderia remeter a isso. Tem gente que imagina ter relação com “Poltergeist” (“Poltergeist – O Fênomeno”, filme estadunidense de 1982, dirigido por Tobe Hooper, que mostra uma família que teve sua casa tomada por fenômenos paranormais), mas nem tem. É uma duvida que faz bem pra mística do nome.
F-se: A viagem à Inglaterra exerceu que tipo de influência no som de vocês? Ele mudou de 2011 pra cá?
GM: Sim, acabou influenciando. Sempre tive a música britânica como minha maior referência: punk 77, brit 90’s, mas o que mais me impressionou e de alguma forma mexeu com os caras também foi o profissionalismo que vi até na menor banda da cidade lá. E todo o profissionalismo do rolê, desde ensaios, equipamentos, até shows e esquemas de produtoras. Ver isso em São Paulo não só é um sonho como uma meta também.
F-se: Uma cena, você diz?
GM: Sim, a forma como as bandas conseguem tocar lá me fez sonhar em ter banda de novo. Isso me influenciou em querer voltar a tocar mesmo.
F-se: Musicalmente, como é sua história pré-Poltergat? Quais bandas você teve e o que aconteceu com elas?
GM: Tive duas bandas antes do Poltergat, que foram a Matilda e os Butterholics (clique aqui pra ouvir). Matilda era um bubblegum de moleque, tinha dezesseis anos e era coma galera do colégio. Depois veio o Butterholics, que foi bem legal e durou de 2005 a 2009. Lançamos três EPs. Acabou porque ficamos perdidos com as nossas intenções e demos um tempo.
F-se: O Poltergat lembra um bocado o Black Rebel Motorcycle Club, principalmente em “Dead Sense”. Também acha isso?
GM: Acho que faz todo o sentido! Gostamos muito deles e do A Place to Bury Strangers também.
F-se: Por que em três anos de existência a banda lançou apenas um epzinho de três músicas e que duram no total apenas sete minutos? Qual a dificuldade que vocês mais enfrentam pra criar ou pra lançar algo?
GM: A banda começou de forma bem despretensiosa, né? Não pensávamos em gravar nada até o final de 2012. Quando a gente entendeu o que queríamos fazer começamos a gravar em um estúdio zoado, e não deu muito certo. Foi quando conhecemos o estúdio Subway, do Anderson Lima (ex-Single Parents). Ali ficamos mais à vontade de criar as coisas nesse processo de gravação. Gravamos seis musicas lá. Logo depois fomos convidados a integrar a Howlin Records, que é do mesmo dono do estúdio. Falei tudo isso pra dizer que estamos gravando nosso primeiro álbum, que deve ser lançado no primeiro semestre do ano que vem. Três das seis musicas gravadas foram guardadas pra esse lançamento. (Quanto ao fato do disco ter sete minutos cravados) é total coincidência.
F-se: Músicas curtas são por conta de algum tipo de urgência na linguagem de vocês? Preferem assim?
GM: Sem dúvida! Urgência e caos mental fazem parte da nossa ideia, mas isso acontece de forma bem natural. Som direto, sem enrolação…
F-se: Quem compõe as músicas da banda? Como funciona o processo de criação?
GM: Todas as musicas foram e são criadas em conjunto. Entramos no estúdio, alguém começa um rife e a coisa acontece naturalmente. Mas, por eu ser o vocalista, prefiro escrever as letras. Consigo fazer com que elas soem melhor, se encaixem melhor na melodia da música e tal. Mas, no geral, todos tem o mesmo nível de participação.
F-se: E sobre quais temas você prefere tratar nas letras?
GM: Caos, fuga, libertinagem… Coisas urbanas e esfumaçadas.
Ouça o disco na íntegra:
F-se: O quão avançado está o primeiro disco cheio? As músicas, além daquelas três, estão criadas, e qual o planejamento pra fechar esse projeto?
GM: Estamos gravando nesse momento. Acredito que já temos uns 30%, 40% resolvidos, mas tem chão ainda pela frente. Serão entre dez e doze musicas no total.
F-se: Como são os shows da banda?
GM: Os shows são bem rápidos e pesados. Gostamos muito de tocar ao vivo. Achamos que é a melhor forma de nos conhecer de verdade. Aliás, essa é a melhor parte de se ter uma banda. Shows são sempre insuperáveis.
F-se: Como vocês fazem a divulgação do trabalho? Como preferem atuar pra se comunicar com o público, pra criar novo público?
GM: Bom, talvez esse seja nosso calcanhar de Aquiles. Nossa divulgação é feita apenas nas redes sociais e boca-a-boca. Precisamos evoluir muito pra conseguir ter o publico que queremos.
F-se: Você acha que a música de vocês tem potencial pra atingir qual público no Brasil, que historicamente não é muito amigável com bandas novas? Como quebrar essa barreira?
GM: Eu vejo como duas frentes. A nova geração está totalmente órfã de bandas aqui no Brasil. Eu acredito que alguma coisa vai acontecer, não tem como ficar assim por muito tempo. Então, esperamos despertar a atenção dessa molecada de alguma forma. Por outro lado, a galera que curte o som garage, shoegaze, curte um belo boteco sujo e tem uma relação como a nossa com os anos 90, pode se interessar também. Não sei bem, na real. Eu acho que existem muitas bandas fodas hoje no Brasil, mas todos estão dentro da caverna ainda. Inclusive a Poltergat. Quem não vai atras das bandas, não fica sabendo de nada…
F-se: Como você vê o papel da mídia, a grande e os blogues, nesse processo?
GM: Vejo como um papel fundamental pra essa evolução. Credencia a música, credencia a informação… Acho extremamente importante.
F-se: Mas está cumprindo o papel dela?
GM: Os pequenos e médios sim; os grandes não muito. Vejo a grande mídia completamente desinteressada e distante dessa realidade, o que é uma pena.
F-se: E qual seria a saída pra que uma cena como você deseja se consolide pelo menos em São Paulo?
GM: Sinceramente? Temos que ir pra rua. Tocar à céu aberto, fazer festivais, gravar tudo isso em vídeo, espalhar a mensagem, criar esse interesse naqueles que curtem, mas ainda não sabem disso. Vejo São Paulo com um potencial absurdo, falta alguma faísca pra que a máquina comece a funcionar legal.
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