O Secret Colours é uma das grandes bandas-pequenas da atualidade. O quinteto de Chicago, Esteites, surpreendeu com a estreia revivalista no disco “Secret Colours”, de 2010, cheia de microfonias, de distorção e com uma semelhança (não tão clara pra banda) com o ensurdecedor Loop – uma referência que transforma qualquer banda em “grande”.
Porém, chamo de “banda-pequena” porque não é reconhecida mundialmente como deveria, muito menos no Brasil (bom, se nem o National, tão badalado, consegue encher um Citibank Hall, ex-Palace, em São Paulo…). Mas ela só é nova mesmo. A banda, formada por Tommy Evans nos vocais e guitarra, Dave Stach na guitarra e backing vocals, Dylan Olson no baixo, Justin Frederick na bateria e Margaret Albright nos teclados, backing vocals e meia-lua, diz nessa entrevista que nem mesmo sai muito de Chicago pra se apresentar. São ainda universitários e entre a banda e as aulas ainda preferem se debruçar sobre os livros.
Dave Stach foi quem recebeu o pedido de entrevista do Floga-se e respondeu as perguntas (por e-mail). Por causa do “tamanho” do Secret Colours, Stach se surpreendeu com um pedido vindo do Brasil. Entretanto, não era pra tanto. O Secret Colours tem dois dos posts mais lidos neste blogue em 2011. Ou seja, o grupo tem alguns bons admiradores no país. Mas Stach não teria como saber disso. Bom, ninguém, além de mim mesmo, teria como saber dessa informação, de todo modo – ele serve, de qualquer forma, pra ilustrar a importância do pedido.
Deixar a mente ser preenchida pelas distorções do Secret Colours não depende de fronteiras, ou de traduções ou ainda de receitas previamente escritas. A psicodelia pura da banda já é razão suficiente, mesmo que nem os próprios integrantes tenham noção do seu alcance.
Numa Chicago atual, famosa pelos ventos fortes que zunem por entre prédios, sibilando o frio cortante na maior parte do ano, ou pelas famosas rajadas de balas da gangue de Al Capone, na época da Lei Seca e tão retratada no cinema, o barulho aqui é outro. Ainda não tão conhecido a ponto de ser ouvido pelos quatro cantos do mundo. Mas a cena psicodélica da cidade cresce com muitas outras bandas barulhentas e em breve esse zunido encherá os cérebros planeta afora. Assim espero – e não haverá surpresa se a psicodelia pura vinda de Chicago chegar lá.
Floga-se: Secret Colour é um bom nome pra uma banda psicodélica. Como o escolheram?
Dave Stach: Na verdade, Tommy tirou a ideia de uma música dos Beatles.
F-se: Como a banda começou?
DS: Nós nos conhecemos no colégio. Tommy escreveu um bocado de canções no seu porão, e queria formar uma banda. Eu estava em outra banda na época, larguei e começamos o Secret Colours. Tommy conhecia Dylan do colégio e eu, Justin, também do colégio. Poucos meses depois, Tommy perguntou se Margaret, sua namorada de muito tempo, queria entrar também. E aqui estamos nós.
F-se: Há em Chicago uma série de novas bandas que gostam de distorção, psicodelismo e shoegaze (como vocês, Disappears e Calm Palm Vapor, por exemplo). Seria uma tendência ou apenas coincidência? É possível dizer que a “cena de Chicago” é uma das mais estimulantes no país na atualidade? Que outras bandas de Chicago você recomendaria?
DS: Chicago definitivamente está crescendo e se tornando uma das mais excitantes cenas musicais do país. Há algumas poucas bandas psicodélicas em Chicago, mas o que é mais legal é que todo mundo tem seu próprio som. Há um tipo real de revival psicodélico, neo-psych, shoegaze, garage rock, toda espécie de bandas surgindo na cidade no momento. Gostamos de nos ver como neo-psicodélicos. E há uma dúzia de bandas incríveis, mas as que não saem da minha cabeça são Radar Eyes, Verma, The Great Society Mind Destroyers, Rabble Rabble, Panda Riot… A lista segue e segue…
F-se: Há uma semelhança conceitual com canções do Loop, especialmente do disco “A Gilded Eternity”, de 1990. Concorda? Que bandas vocês ouvem que os inspiram a compor?
DS: Definitivamente é possível ver ligações entre o Secret Colours e o Loop, mas eles de fato não estão entre nossas influências principais. Cada membro da banda é influenciado por bandas psicodélicas diferentes, mas juntos todos somos influenciados pelo The Black Angels, The Dandy Warhols, The Brian Jonestown Massacre, Spacemen 3 e Stone Roses, pra citar algumas.
F-se: “Tomorrow Never Knows” ficou ainda mais lisérgica na versão do Secret Colours. Foi difícil tocar um clássico dos Beatles? O que os levou a gravar essa cover?
DS: Na verdade, há uma certa hesitação ao falar sobre isso. As canções dos Beatles são perfeitas do jeito que elas são. Ouvimos um bocado a versão “Anthologies” de “Tomorrow Never Knows”, e gostamos como ela é um tanto mais psicodélica e pesada. Realmente, queríamos ver como ela soaria se o Secret Colours a tivesse escrito. Tocamos originalmente no formato acústico nos primeiros shows. Então, decidimos que seria legal gravar uma versão completa e dar de graça online, o que nos ajudou bastante.
Ouça “Tomorrow Never Knows”:
F-se: Qual a recepção do público nos shows Como é o Secret Colours ao vivo? Há a possibilidade de vermos o Secret Colours algum dia no Brasil?
DS: Os shows têm sido maravilhosos pra gente. Não saímos muito de Chicago, mas recentemente tocamos no SxSW 2011, em Austin, Texas. Foi fenomenal. É demais ver novas pessoas descobrindo nossa música. Em Chicago é demais, porque você toca com bandas diferentes em cada show, mas no geral é o mesmo, e todo mundo sabe que tipo de música esperar. Nossos shows são um tanto rápidos e cheio de energia, e acho que as pessoas percebem isso na gente. Ir ao Brasil seria demais! Definitivamente adoraríamos tocar por aí algum dia.
Veja a banda ao vivo no SxSW 2011:
F-Se: No disco, há uma música curiosa, “Western”. Parece uma criação do Ennio Morricone, se Ennio Morricone escrevesse algo com guitarras distorcidas. Qual é a história dessa música?
DS: “Western” começou como uma jam session entre Dylan e Tommy. No começo da banda, decidimos que poderíamos tocá-la, achamos legar ter uma música instrumental. Quanto mais a tocamos e a desenvolvemos mais ela se tornava uma música propriamente dita, e mais legal achávamos que era, e então decidimos mantê-la!
F-se: A banda já está trabalhando num segundo disco? Soará como o primeiro? Quando pretendem lançá-lo? E quais os planos da banda daqui em diante?
DS: Estamos planejando começar a trabalhar no segundo álbum. Estamos perto de escolher um produtor, o que será excitante porque nós não tivemos um no primeiro disco. Esse será um pouco diferente do primeiro. Deverá ter uma pegada mais rock’n’roll e um tanto mais de garage rock. Será excitante, estamos realmente felizes com as canções que temos escrito ultimamente. Não tenho certeza de lançamento, mas podemos dizer pra você que será em vinil! Descobrimos com nosso primeiro disco que as pessoas tendem a querer mais o vinil do que CD, então é o que faremos!
F-se: Secret Colours tem apenas um vídeo, pra “Popstar.” Não acreditam em vídeos? Como a banda se promove? Qual a parte mais difícil?
DS: Fazer vídeos é um processo que exige bastante. Leva muito tempo e recursos, algo que não temos no momento. Ainda somos universitários, e todos temos nossas vidas pessoais, então entre a banda e as aulas nós não temos muito tempo pra rodar vídeos. Porém, você pode esperar pra ver um novo vídeo no final deste ano, pra uma canção do nosso novo álbum. Clipes são legais, porque a Internet se tornou a melhor maneira de promover uma banda. Pra isso, usamos o YouTube, Bandcamp, Facebook, Twitter, MySpace, Last.FM, basicamente todo tipo de mídia social. Tornou-se mais fácil promover uma banda.
F-se: O que conhecem da música brasileira?
DS: Nós não nos aprofundamos na cena musical brasileira de fato. O que você recomendaria?
F-se: Mande uma mensagem final pros brasileiros.
DS: Amamos vocês. Espero vê-los em breve!
Para mais:
Bandcamp: http://secretcolours.bandcamp.com/
YouTube: http://www.youtube.com/user/thesecretcolours
Twitter: http://www.twitter.com/SecretColours
Facebook: http://www.facebook.com/secretcolours
[…] desde The Black Angels, passando por A Place To Bury Strangers até desconhecidíssimas bandas como Secret Colours e Punk […]