Três neurocirurgiões, uma terapeuta ocupacional e um arquiteto. Um grupo de profissionais que fazendo música, ninguém ligaria, a princípio, a canções cheias de guitarras, distorções e referências pop. Muito menos que eles embarcariam numa caracterização alegórica, do mundo de Lewis Carroll e suas “Alices…”.
Mas nada é o que parece. O quinteto atende pelo nome de This Lonely Crowd e é formado por nomes como Tweedledum (guitarra), Tweedledee (guitarra), Humpty Dumpty (voz e guitarra), Jabberwock (bateria) e Red Queen (baixo e voz).
Sim, nada é o que parece.
Pelas mãos da Sinewave, um dos selos mais determinados do Brasil, o This Lonely Crowd, entre estudos, pacientes e réguas e compassos, lançou três EPs e fez alguns shows. Chegou a hora do primeiro disco: “Some Kind Of Pareidolia” (clique aqui pra conhecer em detalhes e ouvir algumas músicas), que foi lançado hoje, dia 18 de maio de 2011, mais uma vez pela Sinewave.
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O quinteto diz que concilia “tudo numa boa, com 85% (do tempo no) trabalho e 15% (na) sonzeira”, que são todos “caretaços” e que dormem cedo. São “nerds ao extremo… e com orgulho!”.
Na banda, há um casal, que em agosto de 2010, ganhou sua primeira filha, Laura (que escuta os pais lendo “Alice…” pra ela). É uma família, literalmente. Uma família que gosta de literatura, de Lewis Carroll e Jorge Luis Borges, a Clive Barker, Neil Gaiman etc. E usa essas referências.
Sobre a música, são todos “obsessivos-compulsivos pra gravar e compor, e extremamente metódicos, o que dá gás na coisa”. O processo é relativamente simples, mesmo em meio a tantos afazeres: “trocamos rifes por emails direto. Quando um fica meio sem idéia, o outro começa a mandar. Daí o outro se inspira, mete um arranjo em cima, improvisa em uma jam e pronto”. Funciona.
Nessa entrevista exclusiva pro Floga-se, a banda conta como foi o processo de gravação do disco, se haverá shows, o que espera de “Some Kind Of Pareidolia” e procura manter a aura de mistério, dentro do seu próprio universo inspirador, criando uma fábula barulhenta. E com músicas maravilhosas.
Floga-se: Como nasceu a ideia desse álbum? Vocês mudaram muito de ideia durante o percurso?
Humpty Dumpty: Nossa, a ideia existe desde o “EPhemeris”, do meio do ano passado. E o título apareceu logo em seguida, porque a palavra “Pareidolia” tem muita força. E faz muito parte do dia-a-dia de todo mundo, sem que ninguém note…
Red Queen: Mudamos alguns detalhes, principalmente depois da apresentação no Festival da Sinewave, aqui em Curitiba. Tem até uma faixa que foi criada por causa do baixo (“Spotty Powder”) e até eu comecei a usar distorção às vezes, tem um BigMuff nessa.
Twedleedee: Depois do festival, a gente mudou um pouco a forma de montar as músicas. Tentamos deixar algo mais prático pra apresentar ao vivo, sem encher tanto de overdubs. Antes, tinha música com até 10 guitarras ao mesmo tempo. Agora ficou mais em cima das três mesmo, com dobra de canal pra cada uma e as vezes um ou outro arranjo adicional. O conceito do disco foi sendo aperfeiçoado pelo Humpty Dumpty, pra variar, e virou praticamente um ‘livro de fábulas’ barulhento.
Twedleedum: Pra variar…
F-se: Eu já havia explicado na matéria sobre o disco o que quer dizer “pareidolia”. Como vocês decidiram por esse título?
HD: Parecia ser a etapa natural depois do “EPhemeris”. A gente adora album temático e queria algo mais longo. Apareceu o desafio de transpor ‘pareidolia’ em música, fazer você ouvir algo e se lembrar de outra coisa, sem que o que você ouviu tenha nada a ver. Foi o que tentamos!
Jabberwock: Trabalhamos com um monte de tempo que fugisse do 4/4 usual. Já estavamos curtindo fazer isso, mas bem de leve. E deu muito trabalho, porque os arranjos enroscavam demais, torrava a paciência as vezes. Mas foi um tesão fazer, colocar a “pareidolia” nas musicas seja pelo ouvido ou pelo feeling. O som tá muito mais viajadão, mas também deu mais força. Dai só foi engrossar o caldo com as fábulas e um monte de pedais novos.
F-se: Vocês concordam em dizer que há uma forte ligação da música contida aqui com o Smashing Pumpkins fase “Gish” ou há mais influências a serem notadas. Quais?
HD: Concordamos, sim. O Smashing Pumpkins do período 93-96 é uma inspiração grande pelo conjunto da obra e seus extremos. Nesse disco, tentamos trazer um monte de outras referências, de Sigur Rós até Slayer. Tem música inspirada diretamente no “Diamond Dogs”, do David Bowie, tem outra que apareceu por causa da “Station To Station”, do Bowie também, e no final das contas não tem nada a ver, nem sequer lembra. Mas nasceu dali. Como as guitarras sempre predominam, Smashing Pumpkins, My Bloody Valentine, Sonic Youth e outros barulhentos são referenciados na frente. Isso é lugar comum nesse estilo…
Twedleedum: Essas bandas marcaram demais os anos 1990 por causa dos timbres pesados e rifes, e essa é a época que a gente emula. Nas músicas nossas mais pesadas, tem rife com os dois pés no heavy metal mesmo.
Twedleedee: A gente ainda escuta muito heavy metal.
F-se: Agora que você chegaram ao primeiro disco cheio shows irão aparecer? Vocês estão preparados pra uma turnê de lançamento?
HD: Não, nem temos competência pra tanto, nem tempo. A gente adora fazer os álbuns, preparar as músicas. Mas muitos shows e turnês é coisa pra bandas de verdade, com músicos de verdade. O fato é que, pelo menos uma, talvez duas vezes por ano, em situações especiais como os Sinewave Festival, a gente encara tocar. Ensaia uns três meses, cria um tema dentro do show e celebra em aparições isoladas pra ser especial de verdade.
RQ: A gente quase não ensaia, ficamos só experimentando as músicas. Para o Sinewave Festival, paramos tudo e ficamos várias semanas ensaiando. Foi maravilhoso, é legal show ser raro pra ficar aquele mistério no ar…
Twedleedum: Não sendo furada, não atrapalhando nossos trabalhos, não virando rotina, estamos dentro. Tem que ser especial.
F-se Qual a expectativa sobre o disco? Como a banda espera que o público irá recebê-lo? Vocês acham que vão ampliar o público conquistado com os três primeiros EPs?
HD: Parece bobagem, mas nem temos expectativas reais porque sabemos quais são as nossas limitações e as limitações do estilo. O disco é uma homenagem aos timbres e melodias que emula e a gente já morre de saudades por isso. Se os nossos amigos e pessoas queridas gostarem do “Some Kind Of Pareidolia”, a missão foi totalmente cumprida. Passar disso será uma grande honra e uma grata surpresa! Até vamos fazer uma tiragem em vinil, mas pequena, só para quem gosta mesmo.
Jabberwock: Não sei se amplia público, até deve chegar a mais ouvidos por causa de Internet. Mas que chegue a ouvidos que gostem de sons desse tipo, de distorção, de melodia.
Twedleedum: O vinil é pra mostrar pros filhos quando forem crescidos…
F-se Ficou alguma música de fora? Foi difícil escolher esse repertório?
HD: Ai, ai, ai. Ficou um monte de coisa de fora. Foi fácil escolher o repertório porque fazemos triagem de rifes logo de cara, então poucas semanas depois de começar a gravar, já havia o esqueleto da coisa. Contamos umas doze músicas incompletas, cinco completas, umas quatro covers e algumas versões alternativas. Pouca coisa gravada, tá tudo na cabeça e no coração.
RQ: Tem uma cover de “Planet Caravan”, do Black Sabbath, tem cover do Abba, da Madonna… Queremos gravar umas covers de algumas bandas curitibanas dos anos 90, se nos for permitido.
Twedleedum: Estamos descansando das idéias pra desenrolar isso tudo daqui uns meses. Queriamos lançar em cinco albuns separados, um pra cada integrante. Igual o Kiss fez e o Melvins satirizou. Vai ser divertido aprontar uma dessas.
Twedleedee: E tudo em cima das três guitarras. Temos uns rifes escondidos nas mangas ainda.
F-se: Falem em poucas palavras o que cada um acha do resultado final.
Jabberwock: Curto e grosso: viagem total. Tá muito mais experimental, adorei. A veia pop tá lá, mas é bem menos digerível pra quem gosta de música base/refrão/base/refrão.
RQ: Aumentamos o campo de atuação. Ficou um disco bem bonito sem ficar só repetindo (repeatiinnngg) o pouquinho que a gente fez. É uma canção de ninar pra crianças diferentes e de idades distintas! Para as nossas crianças…
Twedleedum: É um disco difícil de digerir mesmo, foi um trabalho modesto e muito inspirado. Uma bela homenagem a esse tipo de som e aos sentidos.
Twedleedee: Colcha de retalhos tentando não perder o fio da meada! Olha o clichê: barulho bonito!
HD: É mais um capítulo do This Lonely Crowd. E mais agradável na releitura… E esse capítulo ficou maior e especial por causa do Luiz e do Elson, da Sinewave, responsáveis por colocar gasolina aditivada no TLC. E também pelo Thiago Kerzer (do Tenho Mais Discos Que Amigos!), que corrigiu um monte de cagadas nossas nas mixagens e deixou o som mais redondo. E do nosso amigo e artista Julian Fisch, que deu a cara do disco concebendo a arte do álbum. Me arrepio só de olhar a capa.
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