ESCALIER – QUANDO OS OMBROS NÃO SUPORTAM MAIS O MUNDO

Bruno Rocha, Fabricio Franklin, Heverton Herieno, Paulo Rocha e Leonardo Mapuche tocavam em outras bandas e projetos antes de formarem o ESCALIER, em 2012, em Belo Horizonte. São conhecidos de longa data.

Depois de três anos, a banda apresenta seu primeiro disco, “Quando Os Ombros Não Suportam Mais O Mundo”, lançado de forma independente, em 16 de outubro de 2015.

São (digamos) nove canções que se mostram pesadas e influenciadas por Neurosis, Godspeed You! Black Emperor, Converge e outros na linha. E, a despeito de todo conceitual que o álbum tenha, é a sonoridade que vale a pena em “Quando Os Ombros Não Suportam Mais O Mundo”.

De acordo com a banda, o trabalho situa-se “em único dia na vida de um sujeito sem rosto que depois de um sonho ruim sai de sua casa e anda pela cidade, confrontando suas próprias escolhas e erros”. Mas talvez você não perceba isso, não é algo explícito. Ao contrário de outro conceito, esse bem interessante, de que todo o “projeto é feito de colagens e plágios”, e que todo o “projeto pode ser copiado e usado como quiser!”.

Talvez, por isso, os interlúdios cheio de colagens. Talvez por isso, infelizmente, o único deslize do disco seja a despropositada e desnecessária apropriação de “4’33″”, obra icônica de John Cage (leia mais aqui), em quatro minutos e trinta e três minutos de silêncio, na faixa que fecha o disco. Cage, como se sabe, queria causar incômodos na audiência de uma casa de espetáculos. Ao não tocar nada com sua orquestra, ressaltava os ruídos feitos pelo incômodo da plateia, o que causava ainda mais incômodo. Tinha um porquê.

Mas não deixe que tal escorregão o afaste de “Quando Os Ombros Não Suportam Mais O Mundo”. É um disco bem interessante, ou pelo menos nas quatro canções que se desenvolvem de fato (as “Partes”). Uma banda que honra as inspirações, principalmente guitarra, bateria (socada) e climões criados.

Ouça na íntegra:

Há cérebro aqui – e não só hormônios, como se dá em bandas jovens. Não se trata apenas das referências ou das citações (as letras buscam James Joyce, Samuel Beckett, Carlos Drummond de Andrade e Charles Bukowski), ou mesmo do próprio conceito da banda, que tira seu nome do “espírito da escada” (“L’esprit de l’escalier”), ideia instruída pelo filósofo Denis Diderot, em “Paradoxe Sur Le Comédien” (publicado em 1830), sobre o “tarde demais”, o raciocínio atrasado, aquela tirada ou contra-argumento que não usamos no momento certo e só formulamos quando já “descemos as escadas da tribuna do embate”.

Se trata de pensar o “fazer”. O álbum tem formas: um zine-encarte que vem enrolado numa pedra (projeto gráfico de Matheus Ferreira), vídeos pras faixas, a abordagem sobre os plágios… Ou você pode, como os dias atuais nos oferecem, simplesmente baixar o disco ou ouvir nas plataformas disponíveis, sem se envolver, de maneira que mesmo assim ele sobrevive.

1. Introdução – Sonhos De Um Homem Monocromático
2. Parte I – Psicose 4:48
3. Interlúdio – Castelos De Areia
4. Parte II – Através Do Punho Puído Ele Viu O Mar (“Se Afogar, Se Esquecer, Ver Partir…”)
5. Interlúdio – Band A Part/Barney Kiernan’s Pub
6. Parte III – Sobre Bêbados E Náufragos
7. Interlúdio – “Voltar Para Casa É Sempre Demorado, Lento E Triste Como As Segundas-Feiras”
8. Parte IV – Suicídio Em Legitima Defesa
9. Final – Quadrado Preto Sobre Preto/4’33”

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