Albert Wolski não é Nick Cave. A EXEK, sua banda, não é o Birthday Party, nem mesmo o Joy Division. Mas alguma coisa espectral os liga. Wolski é de Melbourne, da mesma Austrália de Cave, porém suas bandas estão separadas por quatro décadas de distância.
Quando começou a escrever suas canções, Wolski não tinha sequer como realizá-las. Não havia quem tocasse com ele. Daí que o músico conseguiu com certo esforço agrupar quatro malucos pra empreitada: Andrew Brocchi (sintetizadores), Henry Wilson (baixo), Sam Dixon (bateria) e Neil Grant (sax). O EXEK nasceu assim, em 2014.
O primeiro disco surgiu em 2016, “Biased Advice” (ouça aqui), seguido de um cassete e discos compartilhados com outros artistas. “Ahead Of Two Thoughts” é o segundo disco.
Assim que “U Mop” começa a tocar, vem à memória a distância dos quarenta anos, logo após o punk sucumbir ao ímpeto marqueteiro da novidade e virar produto. Algo precisava surgir na cola e surgiu. O pós-punk não foi a grande novidade (seria o grunge, mais de uma década depois? Não importa…), mas serviu pra mostrar que a época era mais de depressão e existencialismos do que propriamente de explosão adolescente inconsequente. Aquela moçada queria farrear, beber, se drogar, mas também queria mostrar que tinha sentimentos, que pensava e tinha um tanto de leitura, afinal. Se misturasse tudo, melhor ainda.
Só que o pós-punk foi supervalorizado pela crítica e pelas próprias bandas – e por um público mínimo, porque isso não era música pra tocar no rádio. Com os passar das décadas, de uma forma ou de outra, o estilo, que é bem amplo e difuso, foi sendo (re)explorado e reempacotado pra novos públicos.
Bandas que Wolski cita como inspiração, PiL, This Heat e Swell Maps, dificilmente são citadas quando há referência à época. E “To Medicine (Biased Advice)” remete a Swell Maps, bem como as baterias de “Ahead Of Two Thoughts” poderiam ser produzidas pelo xaropeta Martin Hannett, o criador do “som Joy Division”.
EXEK transita por essas referências. E se não é uma banda única nesse sentido e muito menos inovadora, o que faz do quinteto australiano algo a se colocar no radar? Pra colocar em pratos limpos, o som faz a memória trabalhar com cacos dos primeiros The Cure, do Bauhaus (“Elevator Etiquette”, a voz até lembra por vezes a de Peter Murphy), do Birthday Party, do This Heat, do Joy Division, criando uma porcelana repintada.
Só que eles têm uma impressão digital: o sax e o sintetizador são tão importantes quanto a bateria arrítmica e o baixo deprê. Os dois instrumentos constroem uma via paralela por onde a música avança com mais inquietude. O ruído e o desprezo (no vocal de Wolski) acrescentam a última passada de pano que limpa a poeira daquele passado.
O EXEK não é nenhum grande nome, mas merece ganhar nossa atenção.
O disco foi lançado em 26 de janeiro de 2018, via W.25TH e Superior Viaduct.
1. U Mop
2. Punishment
3. Weight Loss (Henry’s Dream)
4. Fluent In English
5. Prawn Watching
6. To Medicine (Biased Advice)
7. Elevator Etiquette
8. Actress Practice