Nove e meia da noite, em ponto. O Explosions In The Sky sobe ao palco da comedoria do belísismo SESC Belenzinho, em São Paulo. Antes de qualquer nota, os quinhentos presentes daquela noite já puderam abrir o sorrisão: é muito bom se sentir respeitado.
Não só pelo preço – a gente sabe que o SESC pratica preços inviáveis pro mercado privado – mas pelo fato de marcar o espetáculo em horário decente e começar a apresentação na hora marcada (uma hora e meia depois, o público poderia ir embora sossegado de metrô, ou de carro, pagando apenas seis reais de estacionamento). E também pelo fato de que o som, algo essencial pra uma banda como o Explosions In The Sky, estar muito perto da perfeição. Sim, quem esteve no SESC pagou no máximo trinta e dois reais, e recebeu além do show uma boa dose de respeito.
E de noise. Uma enorme dose de noise e uma aula de uso criativo de texturas de guitarra. Eram três, cada uma com uma função, cada uma delas hipnótica o suficiente pra deixar em transe não só os músicos, mas igualmente a plateia e os funcionários da comedoria.
Munaf Rayani, o guitarrista de traços indianos, deu as boas-vindas, num esforçadíssimo português, “nôs sonmois os explosóes nu cêu”, e completou, poeticamente, “fechem os olhos e venham sonhar com a gente”, antes de começar os primeiros acordes viajantes de “The Only Moment We Were Alone”, do disco de 2003, “The Earth Is Not A Cold Dead Place”.
A hipnose começou. Não é força de expressão. O silêncio, algo preciosíssimo pro EITS, predominou de maneira surpreendente. Ao contrário do que é de praxe em plateias jovens no Brasil, não havia zumzumzum de bate-papo e pouquíssimas câmeras iluminaram o ambiente (a nossa, uma delas, admito). Era possível ouvir o bater de pé dos músicos, os sussurros deles, o copo de água batendo no chão atrás do palco, jogado pelo baterista Chris Hrasky. Público que se trata com respeito trata o evento com respeito também? Ou é, de novo, pura hipnose apenas?
O Explosions In The Sky tem um nome que faz jus a sua música, e que no palco tem um conceito que se traduz muito melhor do que em disco: são esporros inacreditáveis de guitarras, basicamente guitarras (ou um baixo tocado com tanta ferocidade quanto um guitarrista poderia fazer – no caso, Michael James, o carequinha imerso em seus próprios rifes estrondosos), alternando momentos de calmaria. É a explosão no ambiente de tranquilidade que todos esperam atingir pós-morte, o céu, no ideário coletivo. A música do quarteto (no palco, um quinteto, com o baixista contratado) é basicamente isso: esporros no céu, o choque, o distúrbio, o contraponto.
Há a questão visual. Embora tudo pareça anárquico, os movimentos dos braços dos três guitarristas a frente, um tanto sincronizados e bastante expressivos, formam um balé que acrescentam beleza às canções. É visível que há paixão ali, aquelas músicas só podem ser executadas daquela maneira.
Os fãs sentiram falta de “Last Known Surroundings”, a canção que abre o mais recente disco, “Take Care, Take Care, Take Care”, de 2011. Ela caberia muito bem. Por conta da diminuição das explosões sonoras, a reta final da apresentação se fez um tanto monótona. Executar o hit, se posso chamar assim, talvez ajudasse. Mas, também, talvez o encanto estivesse se esvaindo. A banda não faria um bis, ciente de que fez o melhor, os integrantes suados, felizes, missão cumprida. Eis “The Moon Is Down”, acabou.
Não houve quem pudesse apontar na hora qualquer defeito na apresentação. Tudo funcionou como deveria. O céu – a redenção – se encontra nessas explosões de fúria, de paixão e de emoção.
(veja como foi o show do segundo dia)
1. The Only Moment We Were Alone
2. Yasmin The Light
3. Greet Death
4. The Birth And Death Of The Day
5. Six Days At The Bottom Of The Ocean
6. Postcard From 1952
7. Catastrophe And The Cure
8. Let Me Back In
9. The Moon Is Down
eu queria saber se alguém que não conseguiu comprar antecipado conseguiu entrar no show… se conseguiu, vou tentar ir também hoje.
[…] mais uma vez bonito. Foi mais uma vez intenso. Foi mais uma vez uma sucessão de esporros. Mas foi melhor do que o primeiro dia. Quem foi no primeiro dia e não no segundo, porém, não precisa se lamentar. A diferença entre […]
Foi fantástico, hipnótico, surreal, etéreo. Como fã, senti falta da “Last Know Surroundings”, e “With Tired Eyes, Tired Minds, Tired Souls, We Slept”. Mas é achar pelo em ovo, a apresentação (e o Sesc Belenzinho) foi perfeita.