FAIXA A FAIXA: THIS LONELY CROWD – PERVADE

Discos com parcerias são importantes porque forma-se uma rede forte, interligando mentes criativas, ousadias e qualidades diferentes.

O This Lonely Crowd é um bom exemplo disso. O novo disco, “Pervade”, lançado na sexta-feira, dia 23 de novembro de 2012, via Sinewave, mostrou um avanço impressionante dos curitibanos. A diluição do acento smashing pumpkinsiano foi o mais considerável acerto. Isso teria vindo da aproximação de gente como Cadu Tenório, do Sobre A Máquina? Ou de Jonathan Garcia, do Copa do Ar? Ou dos outros convidados especiais?

Pode ser, é provável. Nesse faixa a faixa, Humpty Dumpty, vocalista e guitarrista da banda, conta como cada música de “Pervade” nasceu, qual o caminho que a banda queria percorrer no disco e como essas influências e intercâmbios foram importantes.

O conselho óbvio é que você baixe o disco e leia esse material ouvindo as canções. Faça isso aqui – é de graça e é imperdível.

É a história de como um disco nasceu e de como uma banda cresceu, talvez uma relação muito forte com o tema central da obra. No começo, quase todo artista ainda está cego, sem rumo certo, sonhando com sua obra final. Como chegar até ela, como materializá-la, como torná-la realidade é o que se lê aqui.

FAIXA A FAIXA

01. The Fugue
“Queríamos muito um disco com começo, meio e fim. O SKOP (“Some Kind Of Pareidolia”, de 2011) tem uma vibração muito boa, saudosista, mas foi uma obra heterogênea meio que de propósito. Então, pra abrir um disco que fala sobre como os cegos sonham, a barulheira tinha que entrar por camadas, nada de vozes, só os sons se difundindo, como um nenê deve escutar na barriga da mãe. Aliás, imagine que tipo de imagem vem nos sonhos deles, os nenês ‘in útero‘. Tinha que ter uma participação especial violenta, que complementasse o caos. Quem melhor que o Sr. Cthulhu Tenório pra fazer isso? Quando juntamos a instrumental com o arranjo dele, ficou claro que a sonoridade que queríamos pro disco foi encontrada. Pra complementar, fomos até os livros do Clive Barker e roubamos o ‘Fugue‘ e parte do conceito”.

02. Blind At Early Age
“Nada como meter um redibenzi no ouvido depois de uma faixa introdutória. Essa é a música mais explicita sobre o conceito do disco, a começar pelo título. O rife não tem muito mistério, mas quisemos fazer um arranjo mais melancólico e arrastado que de costume. Em cima disso, um poema do Willian Blake”.

03. Delicacy
“Essa faixa é meio que single. A Honeydew (ex-Red Queen, risos) bolou o rife, que é extremamente simples. Depois só vieram variações. Em poucas horas, tínhamos a faixa montada. Tem um andamento mais sombrio que de costume. Então, apareceu mais Clive Barker na letra, e boa parte de um belo poema da Emily Dickinson…”.

04. Palimpsest
“Quase que íamos deixar essa música instrumental, mas no final das contas, resolvemos insistir no poema do Barker que ajudou a moldar as palavras do disco. A partir daqui, queriamos deixar a coisa cada vez mais arrastada, mais desolada. Enchemos de ecos e feedbacks, mas não foi suficiente. Daí veio o Israel (Bela Infanta) e arrebentou. Não dá pra saber o que ele faz ao certo porque se integrou totalmente com o que havía inicialmente. Ou seria o contrário? A hora que entra o peso é uma das nossas partes favoritas do ‘Pervade'”.

05. Losing Contact
“É uma das poucas músicas sem distorção (ou quase) que temos. Queríamos uma faixa que passasse uma impressão ‘estou indo embora, estou perdendo contato’. Os arranjos são meio improvisados, as três guitarras ficam passeando na música, já que o baixo puxa tudo. O Jonathan ‘Copa do Ar’ completou a música com arranjos adicionais mais um prológo e um epilógo (posso chamar assim?), e valorizou o negócio de um jeito muito intimista. A essa altura do ‘Pervade’, está
tudo se dissolvendo…”.

06. Abandon
“…pra entrar a ‘Abandon’. Bem no meio. É uma faixa, quase parando, acho que usamos uns 40 e poucos bpm nela e deu muito trabalho gravar, porque ficávamos atravessando o metrônomo. A primeira parte foi bolada pelo Cyrus The Brewer (ex-Tweedledum), daí inventamos aquelas notas meio ‘pianescas’ e enrolamos um tempão para estourar no final. O Hagin Freud fez o recheio, e que recheio fabuloso. Sensação de abandono e isolamento completo, uma prisão sem muros. E no final, aparece uma rachadura pra luz poder entrar”.

07. She Who Art In The Tree
“Essa faixa nasceu de duas coisas. Um livro, chamado “My Father Who Art In The Tree”; e um filme polaco chamado “Jesten”. O Julian Fisch, nosso colaborador criativo permanente, definiu bem: é a música onde a tem uma luz nascendo. É uma faixa simples mas com um significado especial para nós”.

08. Golden Sadness
“Como disse o Fisch, se a luz nasce na ‘She’, aqui a luz entra de vez. Engraçado que o rife é antigo, da época do “EPhemeris”. Talvez por isso seja uma música mais parecida com as nossas faixas de dois anos atrás”.

09. Oneironauts
“O Cthulhu Tenório havia nos mandado um arquivo que ele havia composto e falou ‘usem do jeito que quiserem’. A gente queria muito tocar em cima de alguma criação dele. Essa ‘terata’ (criação monstruosa, diria o Barker) que ele fez nos inspirou em colocar umas partes meio faladas e uns interlúdios mais ‘shoegaze‘. E a letra só reforça a mensagem do disco”.

10. Colostrum
“Essa música era totalmente diferente no começo. A gente tinha os rifes, tocava tudo bem mais rápido, diferente. Daí refizemos tudo e sem querer nasceu aquele fill de guitarras do começo. É uma música onde trabalhamos na zona de conforto e creio que o resultado foi fantástico, visto a beleza das frases que roubamos das outras músicas…”.

11. Last Stop Before The Sun
“Minha favorita; é uma pedrada. É um heavy metal iluminado; como disse a Honeydew, aqui é onde se começa a enxergar com o amor, então não se precisa mais de olhos. Queríamos que o final parecesse uma britadeira e foi assim que ficou. E a letra também tem todo um significado. Em alguma parte da música colocamos as vozes das nossas filhas, mas como elas são muito pequenininhas ainda, deu dificuldade pra captar e se infiltrou na instrumental. Ou seja,
do jeito que deveria ser”.

12. Kissoon
“Pra fechar o disco, queríamos a antítese da ‘Fugue’. Uma canção de ninar ao contrário, chamando-nos pra acordar, ou pra colocar tudo pra tocar de novo, se a paciência aguentar e se a viagem fizer efeito. É uma daquelas músicas que vieram ao mundo em poucas horas, graças à melodia fácil de trabalhar”.

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