Fiquei com essa sentença na cabeça: “soa como a trilha sonora de um spaghetti western sul-americano”. O disco de estreia dos argentinos do FAMILIA DE LOBOS é exatamente isso. Ou coisa que o valha.
As sete canções, a maioria delas longas, são hipnóticas, lentas, envolventes e cantadas em espanhol, o que difere basicamente dos chilenos do Föllakzoid e dos portugueses do Dreamweapon e 10.000 Russos, por exemplo.
Além disso, o Familia De Lobos adiciona antigos instrumentos locais aos tradicionais guitarra-baixo-bateria, como a caja vidalera e o bombo legüero.
Esse molho faz a acidez psicodélica do grupo se diferenciar do setentismo lisérgico empregado por grupos como Moon Duo, Black Angels (em menor parte) e Kikagaku Moyo. O Familia De Lobos constrói algo minimamente seu. Está mais pra “mexicano” do que pra “saxão”, uma banda que utiliza-se de signos estrangeiros pra realçar uma identidade nacional.
A banda foi formada em Lomas de Zamora, ao sul da grande Buenos Aires, em 2016, com Eric Moreno (guitarra, voz, caja vidalera, arco, sintetizadores), Charly Cross (guitarra, baixo, percussão, bombo legüero, programação), Maria Anselmo (bombo legüero, caja vidalera), além de Andres Merlo (sintetizador), Matias Blanco (percussão) e Fermin ugarte (baixo). Esse é o seu primeiro disco, com lançamento pra 19 de janeiro de 2018, via Riot Season Records, do Reino Unido.
“Todo Lo Que Brilla” e “El Viento Y La Luz” iniciam o processo de travessia por esse deserto imaginário com um lento de desgastante psych-kraut alucinógeno, preparando terreno pra “Sangria”, quando o ouvinte já percebe urubus sobrevoando e prevendo você virar uma carniça desidratada pela secura do deserto. A guitarra de “Mi Amor Salvaje” é como se o você já não se importasse com a proximidade da morte.
Não há sofrimento, porém. O sexteto oferece apenas tranquilidade e acalanto “psicosonoro” a quem se atreve a enfrentar as entranhas desérticas da mente.
“Conquista Del Desierto (Canto De Precipicio)” e a faixa-título não impedem qualquer solução desesperadamente final. Na hora crítica, quem poderá julgar? Se mesmo com a ausência de sofrimento a morte é inevitável e o homem está sempre desafiando-a, que esse enfrentamento aconteça com a trilha sonora adequada.
1. Todo Lo Que Brilla
2. El Viento Y La Luz
3. Sangria
4. Mi Amor Salvaje
5. Familia De Lobos (Preludio)
6. Conquista Del Desierto (Canto De Precipicio)
7. Familia De Lobos
Confesso que tenho uma “queda” por bandas latino-americanas, e após ver esse texto, fiquei muito interessado em conhecer Familia de Lobos. Fui dar uma conferida e fiquei besta! Som de alto nível, uma viagem sem tamanho. Já tô seguindo eles para ficar por dentro dos futuros lançamentos. Valeu pela indicação.
A capa dos caras é uma obra do Gilvan Samico, o artista pernambucano?