FARMACOPÉIA – SUICÍDIO

“É, sem querer, um disco temático”, diz Renato Albuquerque, o cidadão por trás do Farmacopéia, que lança agora seu terceiro trabalho, sucedendo “Batom Preto”, de 2012.

“No geral, o disco ficou meio que carregado com um peso, até a música ‘Maria’, que fala sobre maconha, tem um pouco disso, porque se trata de um escape a algumas pressões”, revela.

A conclusão veio por conta da versão de “Crucificados Pelo Sistema”, do Ratos de Porão, faixa que dá título ao já clássico primeiro disco da banda punk paulista (de 1984): “bom, é um pouco simples a razão de ter escolhido esse cover… Tem a ver com ser crucificado pelo sistema (ri). Mas a historia é a seguinte: no ano passado, a minha família esteve com problemas financeiros complicados e eu, pra não ser um estorvo, fui atrás de um emprego e o arrumei. Eu já trabalhava com meu pai desde a minha adolescência e depois, lá pelos meus 18 anos comecei a trabalhar em outras empresas, mas não pela necessidade. Só que desta vez, eu me vi numa situação realmente complicada em casa e estava me dedicando apenas aos estudos. Pra não ser o estorvo, arrumei esse emprego. E foi muito pesado conciliar a faculdade com esse trabalho, quer dizer, seria na minha cabeça, eu só trabalhei la um mês. Mas isso de ter que trabalhar por necessidade, foi um choque muito grande e me deixou profundamente tocado, pelo fato de que tem gente que é mais obrigado a fazer isso do que eu, então eu escrevi o texto que falo no início da música, exatamente no dia que levei minha carteira de trabalho. Então, quando estava gravando o álbum, eu havia gravado um som que não tinha letra ainda, aí tive uma luz (a gente nunca sabe como essas coisas aparecem) de colocar esse texto, falado mesmo, na música e por uma espécie de consequência óbvia, tive a outra luz de fazer a versão do Ratos. A letra fala do ser humano sendo obrigado a participar desse sistema em que vivemos acorrentados a certos afazeres, ter a obrigação de se sacrificar.

“Suicídio”, o novo disco, lançado dia 21 de junho de 2014, de forma independente, via Bandcamp, é sobre pressões e sacrifício. Os nomes das faixas (que você vê abaixo) resumem um tanto disso.

A sonoridade, crua, rasgante, sujíssima, inapropirada aos ouvidos não acostumados, algo lo-fi e shoegaze, dá ao projeto da Grande São Paulo – da periférica e classe média Osasco – a ideia de problemas que pros adultos já são distantes e bobos, mas que na transição da adolescência pra vida madura criam justamente o choque que faz nascer aquele “espírito rock’n’roll” velho de guerra, aquele mesmo cuja morte já foi decretada tantas vezes.

Vale se ater nas ótimas “Medo”, a melhor do disco; além da cover do Ratos, totalmente modificada; e na última, “Maria”, uma bossa nova lo-fi.

Ouça na íntegra:

O disco foi gravado e mixado pelo próprio Renato Albuquerque, e tem masterização do sempre presente Paulo Casaes, da Transfusão Noise Records.

1. Medo
2. Ódio
3. Myself/Luta/Doença
4. Crucificados Pelo Sistema (cover Ratos de Porão)
5. Cinza E morto (Ode À Metrópole De São Paulo)
6. Maria

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