FELIPE NEIVA é um carioca de Niterói, 22 anos, estudante de sociologia e apaixonado por cinema não comercial. Descobriu sua vocação musical e a expande em dois projetos (até aqui): o Meat e o que leva o seu próprio nome.
O Meat “é um projeto paralelo que privilegia mais os sintetizadores… O sentimento que levou a dar outro nome foi o fato de ter sido um processo criativo completamente diferente. Eu tava fazendo direção cinematográfica na Darcy Ribeiro (Escola De Cinema Darcy Ribeiro) e pesquisando arte minimalista também. Eu tava muito impressionado na época com “O Lobo Da Estepe”, do (Hermann) Hesse, e com o expressionismo de um filme que vi do (F.W.) Murnau… O nome do álbum ia ser ‘Expressionism'”, diz Neiva, em bate-papo com o Floga-se.
Como Meat, ele lançou “(this is not what you think it is?.?)” (ouça aqui). Mas o som do projeto que leva o seu nome é diferente. É baseado em guitarras e vocais, apenas isso. Melodias MPB e tratamento lo-fi. Como Felipe Neiva, ele lançou em 2013 o EP “Come On Now, Take A Bow” (ouça aqui) e agora lança esse primeiro disco cheio, “Chegou Fim De Festa”.
Sobre o tipo de som, “eu não sei definir ainda. Uma amiga definiu como MPB pós-apocalíptica (ri), mas o primeiro EP, por exemplo, é bem diferente desse… Então, tô definindo ainda e nem acho que eu vá migrar pra um estilo definitivo. Escuto muita coisa diferente entre si. Curto muito a obra de alguns singer-songwriters específicos. Acho que a principal referência de fora seria Elliott Smith e Cat Power, que são coisas que me tocaram e tocam muito. Também tenho especificamente o ‘Blood On The Tracks’, do Dylan, como referência e alguns trabalhos da Fiona Apple. Aqui no brasil, minha principal referência são os trabalhos do Jards Macalé com o Waly Salomão, o ‘Todos Os Olhos’ do Tom Zé… Sou muito influenciado por Caetano também, por ter escutado em todas as fases da minha vida, desde a primeira infância, por causa do meu pai, por exemplo”.
Guitarrista “fuçador” e amador, Felipe acaba fazendo de tudo. “Chegou Fim De Festa” foi feito, como a maioria dos discos subterrâneos brasileiros desse século, na casa dele, com ele compondo, ele executando, produzindo e finalizando. É um trabalho meio de tentativa-e-erro, de modo que nem sabe ao certo se tantas referências bacanas acabam em sua música: “acho que só de uma forma muito própria, só dentro da minha cabeça, talvez. Ainda estou arranhando certas experimentações e quero expandir isso, tenho um ideal de ‘música pop’ na minha cabeça, que remete ao Bowie, ao Television, ao Talking Heads, que é de tentar fazer ‘música pop’ com detalhes, normalmente estranhos a ela”.
“Chegou Fim De Festa” é um disco bem calmo, tranquilo, contemplativo e individual, pra ser ouvido sozinho, rodeado de solidão. É uma MPB estranha, principalmente quando Neiva canta. Ele parece mais inspirado nas faixas instrumentais “Intro Instrumental” e “Instrumental”, embora faixas como “Estranho No Ninho”, “Eu Nunca Fui Feliz”, “Alegria, Alegria” se mostrem bem interessantes ao mesclar a guitarra evocativa do Durutti Column com o vocal preguiçoso da MPB.
A exceção é a faixa final, “Saudades”: “ela é com uma simulação de piano upright“, explica. “Saudades”, porém, carrega o mesmo sentimento introspectivo de todo o disco.
Felipe Neiva fez apenas dois shows na carreira. Mas pretende se dedicar a partir de “Chegou Fim De Festa” e ampliar o alcance de sua música. “Minha vontade e expectativa é, sinceramente, viver disso. Eu componho muita coisa mas tenho lançado poucas delas, 2014 foi um ano muito complicado e acabei divulgando pouco, lançando pouco, mas agora em 2015, quero lançar mais coisas e – uma coisa complicada no meio independente brasileiro – fazer muito show, que é onde rola a maior interação, onde a música ganha vida própria de alguma forma, como uma espécie de vírus bom que se auto-reproduz (ri)”.
O novo disco, publicado dia 3 de março de 2015 no Bandcamp e você pode ouvir na íntegra aqui:
01. Intro Instrumental
02. Estranho No Ninho
03. Eu Nunca Fui Feliz
04. Alegria, Alegria
05. Cinema Mudo
06. Inter Instrumental
07. Instrumental
08. Dificuldades
09. Você Abusou (trecho)
10. Saudades