FERNANDO MOTTA & ELIMINADORZINHO – LAPSO EP

Há um certo complexo de vira-latas rondando novamente a terra pátria. Um presidente lambe-botas do presidente estadunidense é só o maior exemplo, mas desde que a Internet disponibilizou sua vastidão a quem soubesse clicar nos locais certos, qualquer bandinha que cantasse em inglês virava a última bolacha do pacote. Não que fossem bandas ruins, só não precisavam ser vendidas como salvadoras da música jovem.

É justamente o caso deste “Lapso”, EP conjunto entre Fernando Motta e Eliminadorzinho, frutos da excitante Geração Perdida de Minas Gerais, que não se curva a tendências quentes, faz o que lhes parece pertinente. Fosse um disco lançado na Grã-Bretanha ou Esteites e seria mais um a alçar o altar da salvação, simplesmente porque tem as guitarras certas, os vocais gritados apropriados, a bateria enfurecida (mas escondida), as distorções e as letras atraentes. Se a Pitchfork ouve este EP, poderia perceber que seu mundo é mais amplo do que o quintal de cappuccinos, baseados e óculos de armações pretas e grossas deles. Abaixo da linha do Equador tem muita coisa empolgante sendo produzida, que se encaixa no que se pode chamar de “música sem fronteiras”: jovem, de guitarras explosivas, desassossegada.

São apenas quatro músicas, é certo. É pouco. Pouquíssimo mais de treze minutos. Mas é suficiente.

O Eliminadorzinho de Gabriel Eliott Garcia (guitarra), João Pedro Haddad (baixo) e Tiago Souto Schützer (bateria) vinha de dois EPs interessantes – “Nada Mais Restará.” (2016, leia resenha aqui) e “Aniquiladorzinho” (2017, ouça aqui), ambos sem medo de acelerar e descer a porrada – e Fernando Motta, de dois discos – “Andando Sem Olhar Pra Frente” (2016, ouça aqui) e “Desde Que O Mundo É Cego” (2017, leia resenha aqui). Juntos soam mais sujos e inconsequentes. Melhores, enfim.

Comprove aqui, especialmente a derradeira “Contraditória”:

Aqui, você vê o clipe de “Paranoia”:

A peça foi produzida por Gabriel Olivieri, no estúdio Cavalo, em São Paulo, entre os meses de abril e maio de 2019, segundo consta nas notas do disco.

Num mundo verdadeiramente globalizado e não-restritivo, Fernando Motta, Eliminadorzinho e Olivieri estariam sendo resenhados em inglês, francês, espanhol e subindo nos palcos “vistosos”. Não como salvação de nada, mas como autores de uma obra vibrante. O que já é suficiente.

1. Memória (com Luden Viana)
2. Nostalgia
3. Paranoia
4. Contraditória

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