André Luiz Souza é o paulistano por trás do FITA, projeto bem pessoal de música eletrônica, com poucas guitarras, e com um olhar tanto no saudosismo quanto na provocação.
O primeiro EP do Fita, “Stick The Crazy”, com a etiqueta da Howlin’ Records, saiu em 24 de abril de 2017, com quatro canções que fincam estacas no synthpop melancólico oitentista. É música eletrônica, mas não é “pra dançar”.
“Minha ideia era fazer um lance que juntasse Justice, Daft Punk, New Order, coisas tipo College e (o DJ) Kavinsky… Os sons da trilha sonora do ‘Drive’ (filme de Nicolas Winding Refn, de 2011)” (ouça aqui), disse André em conversa com o Floga-se. “Tudo com um pé no Death From Above”, completa.
“Não queria seguir uma linha de estilo, não queria fazer show tipo um DJ, não sou DJ. Adoro Daft Punk mas sei que não é só ‘One More Time‘. Não quero fazer house, preciso fazer darkwave, synthwave, vaporwave…”, diz.
“Sitck The Crazy” surpreendentemente consegue unir essas preferências em suas poucas músicas. Surpreende ainda mais por André ser guitarrista e seu instrumento principal ficar em segundo plano nesse projeto.
Ele tocou numa banda chamada Ronca (de 2013, ouça aqui), onde ele compunha, tocava guitarra e fazia o vocal. Terminada a banda, foi tocar guitarra na Loyal Gun (ouça aqui).
O Fita, porém, é um projeto só dele, por ele e pra ele. André compõe, executa, produz, grava, faz tudo sozinho, com algumas ajudas especiais – como os vocais femininos de Cíntia Murphy (da In Venus), em “Lies”; e de Adriana Marroni, em “Take Me To A Ride Tonight”.
“A ideia era ser só instrumental, tipo trilhas de filmes, texturas e tal, mas às vezes quando sinto que precisa de voz, eu tento escrever ou peço pra alguém”, conta. A letra de “Take Me To A Ride Tonight” é de Marroni. “Uma pena que não posso contar sempre com elas pros shows. Até hoje, sempre rolou, mas quando não puderem, vou ter que dar um jeito. Esse é um problema que eu queria não ter, mas tem musica que pede e preferi dar atenção à criação de um disco bom, pensar menos no ao vivo e mais no disco”.
O Fita vai lançar o primeiro disco cheio já em 2017. A ideia é ser “provocador”: “é tudo laboratório. No disco, vou poder explorar mais coisas. Vou juntar até ‘funk carioca’, bem sutil. Quero que seja uma afronta ao ‘rock conservador’. Ou aos puristas de musica em geral”.
Pode soar algo contraditório: Fita remete a algo analógico (as fitas-cassete, as gravações de rolo), conservador. Mas André rebate: “nisso eu quis colocar nostalgia, mas ‘fita’ pode ser a gíria também (termo usado com frequência em São Paulo pra ‘situação’, por exemplo), o que é algo mais atual; eu quero me confrontar também, sou conservador em várias coisas, amo os anos 70 e 80 e bandas velhas; quero me desafiar”.
“É difícil inovar em música”, diz. “Roqueiro gosta de falar que funk não é musica, muito menos cultura. O Frank Sinatra achava o mesmo do rock. Músicos eruditos acham o jazz muito pop também. Mas é uma tarefa árdua. Isso é pra galera mais nova.
Uma cara de dezoito anos, que ouve de tudo, que tem dom pra música, ok. Pros mais velhos, é mais difícil, são mais resistentes”.
O próprio André sabe que esse papo de “som inovador” é uma balela. Hoje é dia é difícil provocar sem parecer gratuito ou se apoiando em alguma jogada de marketing. Mas ele quer mesmo é se provocar: “meu som nem é inovador, só pra mim, que sou criado no rock”.
Fruto dos tempos atuais, “Stick The Crazy” enfrentou problemas dos tempos atuais. Ondas de nostalgia surgem a todo instante e em todos os estilos, mas isso não quer dizer que os passos não possam ir em direção ao futuro. O EP do Fita quase não foi ouvido e noticiado (uma busca na Internet dificilmente vai retornar algum artigo ou matéria sobre o disco, infelizmente), porque há muita coisa pra ser ouvida e não necessariamente noticiada, de modo que sua propalada intenção de ser um trabalho “bem pessoal” fica por isso mesmo, no limbo entre muitas outras boas obras desconhecidas.
“Mas espero que o disco traga lembranças de sons nostálgicos com coisas estranhas”, resume.
“Stick The Crazy” é certeiro ao traduzir em música as suas intenções inciais. Falta expandir seu alcance pra, daí, quem sabe, “provocar” ou “contestar”.
1. Radio Delay
2. Lies
3. Looking For You
4. Take Me To A Ride Tonight (clique aqui pra ver o vídeo)
5. Take Me To A Ride Tonight (Hungry Gilli Remix)