Victor Fabri é o Frabin. Ele já apareceu aqui no Floga-se, na lista de 50 discos pra ouvir na segunda metade de 2014. O motivo era o EP “Selfish”.
Chegou, pois, a hora do primeiro disco cheio, “Real”, lançado em 20 de novembro de 2015, via Balaclava e Midsummer Madness. Você pode ouvir na íntegra, aqui:
São doze canções indiepop/dreampop escritas, produzidas e executadas pelo próprio músico, que pra masterização chamou um nome de destaque, Rob Grant, que conduziu o disco de estreia da Tame Impala, “Innerspeaker”, queridinho de dez entre dez fanzocas de indie.
De fato, pra quem curte o estilo, “Real” é um prato saboroso. Vide a faixa-trabalho, a boa “Kids From Outer Space” (veja o vídeo abaixo), cujo título remete ao desenho “DoDo”, de Lady Stearn Robinson, exibido na tevê na década de 1960.
“Real” tem clima etéreo, um jeitão lo-fi retrô que até soa moderninho hoje, e não espantaria receber bons elogios mundo afora. Esse psicodelismo de FM está em alta e são apenas duas músicas em português (“Em Vão” e “Desabrigo”), o que facilita.
“As músicas em português começaram a aparecer só depois do ‘Selfish’ mesmo, elas vieram porque na época eu estava escutando mais coisas em português, tipo Holger, Maglore, Lupe De Lupe, e fiquei afim de tentar a escrever na nossa língua. Acho que escrevi umas quatro músicas e as duas que estão no álbum foram as que eu achei que fechavam com a ideia do álbum. Confesso que tenho muito mais facilidade e ainda prefiro escrever em inglês, acho que por ser outra língua eu me sinto mais a vontade de falar sobre as coisas sem parecer ‘cafona’, e também tem o fato que a grande maioria das coisas que eu escuto e me inspiro são em inglês, então acaba sendo uma referência muito forte e já impregnada dentro de mim”, disse numa entrevista de divulgação publicada pelo selo Midsummer Madness.
“Em Vão”, obviamente não por ser em português, tem cheiro de naftalina. Oitentista, a canção soa como se o Hanói Hanói ousasse ser melancólico. Os excessos de teclas flutuantes na alturas de “Bad Vibes” inflam demais a música, que se torna irritante como o seu despertador de manhã cedo. Assim como “Disease” parece um Lulu Santos preguiçoso, como que modernizado pela produção jovem atual, de DIIV a Wild Nothing, passando, claro, pelo Tame Impala.
Esse é o lado de “Real” que incomoda: o disco parece querer soar “moderno” o tempo inteiro, como a se encaixar editorialmente nas páginas da Pitchfork. Falta-lhe ousadia, e talvez por isso seja um produto certo pros tempos atuais.
Mas o artista tem bons feitos no disco. Preste atenção em “Sunday” e na mais diversificada “The Lone Nothing”, que tem até solo de guitarra (!!). Em “Clues”, ele volta ao seu melhor terreno: uma balada simples adornada pelas tilitantes cores do dreampop. “Desabrigo” vai por aí. “Day By Day” tem uma leve dose de barulheira (mesmo que sem ousadia).
Fabri diz que prefere fazer tudo sozinho e pra os primeiros trabalhos é até uma boa, expõe o artista como ele é. Ele toca todos os instrumentos e cuida das bases usadas no álbum. Não seria mal, é claro, daqui pra frente, receber mais gente em sua bolha. “Real” mostra como Frabin é e qual seu potencial – mas será que mostra tudo do que ele é capaz?
01. Memoir
02. Kids From Outer Space
03. Sunday
04. Icarus
05. Disease
06. Day By Day
07. The Lone Nothing
08. Em Vão
09. Bad Vibes
10. Clues
11. Desabrigo
12. Daily Anger