Dois dos melhores discos de 2015 numa mesma noite é definitivamente algo tentador. Flores Feias, a viagem guitarrística de Aline Vieira, do selo curitibano Meia Vida, lançou o ótimo “F .˙. F .˙.” (leia e ouça aqui); enquanto a dupla Fronte Violeta nos presenteou com o hipnótico “Travessias” (leia e ouça aqui).
O local é o diminuto e nada confortável Hotel Bar (ex-Hotel Tees), bem localizado, horário decente, quarta-feira, 20 de janeiro, primeiro show de 2016 na minha agenda.
Mas as coisas nunca saem como a gente imagina de antemão. O evento marcado “pontualmente” (e de forma contundente) pras 20:00h, de acordo com a página na rede social, acabou começando mesmo quarenta minutos depois, sabe-se lá o motivo. Pra quem não conhece o Hotel Bar, os shows acontecem num espaço pra no máximo vinte pessoas (bem apertadas), de modo que se você quiser realmente ver algo, e não só ouvir, precisa chegar antes e se posicionar bem. Foi o que fiz e na mesma posição fiquei pelos quarenta minutos de atraso. Não queria perder nada.
Queria ver Vieira em ação, como ela faz pra tirar os climas do disco ao vivo. No palco, temos ela, sua guitarra, um microfone e uma penca de pedais e efeitos – além de uma boa expectativa gerada pelo disco.
Acontece que na hora do vamos-ver, nada aconteceu. A moça exibiu por uma hora um punhado de equívocos na manipulação do seu equipamento. Apesar de estar jogando em casa, entre amigos apenas, ela parecia nervosa e até admitiu ao final ser “atrapalhada”. Suas simplicidade e modéstia comovem. Nada do que estava em “F .˙. F .˙.” se ouviu de fato ali, cara a cara, embora em vários momentos ela tenha dominado a fera e, ajoelhada entre seus brinquedinhos, conseguido se sair bem nos ruídos.
Nada que ela deva se preocupar ou coisa do tipo. Entre amigos, todos conhecem o potencial dela pro que ela se propõe – e o belo disco é prova disso. Mas se algum gaiato tivesse caído de paraquedas ali, desavisado, pode ter torcido o nariz, não pela obra em si – que acabou não conhecendo – mas pela execução falha e atropelada.
Já a dupla Fronte Violeta me dava expectativa diferente. Seu brilhante “Travessias” não pode, ao que me consta, ser reproduzido tal e qual, e essa nem é a intenção. Carla Boregas e Ana Tokutake parecem bem mais à vontade com sua mesa de equipamentos e microfone. Visivelmente se divertem. Nem um erro técnico logo no primeiro terço de show as fez tropeçar ou se preocupar. Risos é só o que rendeu.
Nos trinta minutos de apresentação (que você vê na íntegra no vídeo abaixo), as duas criaram batidas tão dançantes quanto hipnóticas e soturnas, em looping, e ruídos e paisagens cativantes. Elas aparentemente estão criando na hora, improvisando, e mesmo assim possuem domínio do presente e do futuro imediato. Ou parecem ter tudo tão ensaiadinho que só lhes resta se divertir.
Fronte Violeta é de longe o que de melhor surgiu nos subterrâneos da música nacional nos últimos tempos. E ao vivo consegue manter tal status, despretensiosamente. Vê-se que não há intenções tais nas duas moças, a não ser medir as possibilidades de criação, improviso, condições de uso da técnica e impacto na plateia.
Com tempo, quem sabe, o maior domínio (e seriedade?) de seus recursos poderia fazer com que elas ganhassem projeção pra além do mundinho restrito a que estão agora.
realmente, atraso é para se indignar. Quarenta minutos! Absurdo. E ainda só tinha amigos no show. Coisa de amador. Nada a ver com a cena.