GIALLOS – AMOR SÓ DE MÃE

“Amor Só De Mãe” é o segundo disco do Giallos. O trio havia lançado o porra-louca “¡CONTRA!”, em 2013, e um EP em 2015, “Anjos Negros”. Nenhum dos dois se compara a esse novo trabalho: “Amor Só De Mãe” é mais sujo, é mais punk, é mais insano, é mais… politicamente consciente.

Sim, politicamente consciente. “Amor Só De Mãe” é um disco “político”. Os tempos atuais inspiraram o trio a chegar aqui.

Claudio Cox, vocalista e letrista, explica: “o disco todo vem carregado desse nosso momento sociopolítico atual. A ideia da letra surgiu quando vi um documentário sobre o Darcy Ribeiro. Num depoimento do Leonardo Boff, ele relatou a última conversa que teve com Darcy, que estava com câncer terminal… Darcy era ateu e Leonardo disse a ele que o deus dele era uma mulher, seria uma mulher que o receberia no céu, numas de quebrar essa construção machista de deus e tal que o Darcy tanto abominava. A letra (da faixa título) fala sobre isso, sobre essa nossa era machista, de como a ideia do ‘deus pai’ perpétua essa parada… Aí o título (do disco) veio meio que na sequencia, ‘Amor Só De Mãe’ ficou perfeita na ideia, além de ser uma frase do sistema carcerário, tatuagem de cadeia e tal, serviu também como provocação pra essa mentalidade fascista do ‘bandido bom, bandido morto'”.

E continua: “é um retrato desse nosso momento histórico, um recorte. Mas o mais interessante é que não foi pensado, ele foi surgindo, meio que inconsciente, não sei. E a sonoridade deu esse sentido de caos, agonia… Por exemplo, ‘Eles’ é a letra mais antiga do disco, foi escrita no calor das manifestações de junho de 2013. É sobre manipulação de informação, como uma manifestação de esquerda acabou virando uma marcha conservadora pela mídia. Maniqueísmo politico, o bem contra o mal. Tem muito coisa autobiográfica nas letras, é difícil tentar resumi-las ou dar um único sentido, apesar de serem um tanto mais diretas, elas ainda carregam muita subjetividade. Mas falam sobre racismo, consumo, religião ou ditadura religiosa…”.

Nos tempos bicudos atuais, o Giallos acaba sendo um oásis no meio de tanta pasmaceira isentona, de artista não se posicionando (especialmente os do subterrâneo – leia esse texto aqui o que pode ser um motivo pro fato).

“Pra mim a arte serve pra provocar, antes de tudo. Agora, cada um faz da sua arte o que bem entender. Somos uma banda que tem um público pequeno, mas muito interessado no que a gente faz. Não é clichê, mas é ‘quantidade X qualidade’, saca? Claro que queremos tocar mais por aí, com mais estrutura e tal, mas se isso acontecer não vai ser porque nos moldamos pra isso, vai acontecer pelo que somos”, diz Claudio.

Com esse posicionamento, o trio ficou ainda mais agressivo na sonoridade. Não mais pesado ou algo do tipo: mais sujo, mais garageiro, mais cru e punk. “Amor Só De Mãe” é uma porrada do começo ao fim. O responsável por isso é Lê Almeida, da Transfusão Noise Records, selo por onde o disco saiu, nesse dia 8 de abril de 2016.

“A sonoridade foi coisa da Transfusão, do Lê. A gente chegou lá e falamos: ‘faz do jeito que você quiser”. Aí ele retrucou: ‘vamos gravar no tascam de k7’. Na verdade, a gente não tinha noção de como iria ficar, saca? Gravamos ao vivo, como sempre fazemos e tal… Agora não consigo imaginar de outra forma, a sonoridade deu mais sentido pras músicas, que são densas. Uma coisa claustrofóbica”, conta Claudio.

Lê Almeida ainda toca guitarra em “Eu Era Um Lobisomem Adolescente”, versão brasileira da grande “I Was A Teenage Werewolf”, que o Cramps lançou em 1980, no disco de estreia “Songs The Lord Taught Us” (o Giallos tem até a ideia de lançar um EP só com versões do Cramps mais a frente – “a gente fez umas seis ou sete versões pra um show ano passado”).

O disco foi produzido e gravado no Escritório, quartel-general da Transfusão, no Rio de Janeiro, em janeiro de 2016. Lê e João Casaes produziram a obra. Casaes masterizou.

Claudio ficou empolgado com o resultado final: “a Transfusão é uma coisa louca. O que esses caras estão fazendo pela música, sem grana nenhuma, sem equipamento de ‘ponta’ etc, é louvável, naipe Dischord e tal”.

E o formato é diferente também. A Transfusão lança em K7 e CD, mas no cassete as faixas estão agrupadas em cinco de cada lado formando algo como uma faixa só. “O disco funciona mais se você ouvir inteiro”, diz.

Ouça na íntegra (levando em conta a descrição das faixas abaixo):

LADO A

01. Açougue
02. Eles
03. Amor Só De Mãe
04. Eu Era Um Lobisomem Adolescente
05. Dança Macabra

LADO B

06. Memento Mori
07. Baobá Blues
08. Movimento
09. Pombo Bomba
10. Síndrome De Estocolmo

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