GIALLOS NO SESC POMPEIA – COMO FOI

O projeto Prata da Casa 2014 está em boas mãos. E eis que o SESC enfim abre suas portas pra bandas menos “modelo SESC”. Esse é o caso do Giallos, do ABC Paulista. Que alívio.

Desde 2013, um bocado de gente de reputação ilibada tem falado sobre esse trio formado por Cláudio Cox (voz), Flávio Lazzarin (bateria) e Luiz Galvão (guitarra), muito por conta o impactante primeiro disco, “¡CONTRA!” (que você pode ouvir na íntegra e baixar gratuitamente aqui). Eu passei direto pelo primeiro estrondo de empolgação. E, na segunda leva, quando me deparo com a oportunidade de ver a banda ao vivo num palco brilhante como o do SESC, não recuso. Chegou a hora.

A experiência, porém, se determina da seguinte forma: prometo a mim mesmo que não ouviria nada de nada da banda até a primeira nota ao vivo. Virgem de Giallos, esperava que o grupo me surpreendesse, mesmo que eu já estivesse infectado com as altas expectativas alheias.

Deu certo. Pelo menos a princípio, deu certo. Logo na primeira nota de “Mundos Probabilidades”, encaro um trio de força única, como poucos no atual subterrâneo brasileiro. Ele está ancorado por metais, que tiram o peso do que poderia se resumir a um clichê guitarra-bateria-sem-baixo desse novo século. Os responsáveis: André Calixto no saxofone e Richard Firmino no trompete. Ainda há a participação de Will Aleixo no órgão.

De cara, Cox, uma espécie de Tom Waits com o velocímetro no máximo, se destaca pela energia incessante: ele pula, grita, se contorce, enquanto “canta”. Mas a alma da banda parece estar na bateria simples e econômica de Lazzarin, bem ao centro, comandando a balbúrdia ensaiada (sim, o Giallos não parece tão espontâneo quanto quer se vender em cima do palco: há mais ensaio e suor aqui do que se imagina). Presença de palco bastante eficiente do trio entrosado.

Musicalmente, agora comparando com o disco, ao vivo a banda soa menos suja e barulhenta do que se apresenta em “¡CONTRA!”. Pontos pro trabalho de estúdio. Cara a cara com a plateia, pelo menos naquela imensidão da choperia do SESC Pompeia, o Giallos é menos contundente e rascante. Mas não deixa de ser bom, mas cabe a ressalva.

As músicas são a grande explicação pra isso. Tirando a sujeira garageira do disco, ainda sobra uma banda potencialmente divertida e competente, pra fazer pular e suar. Canções empolgantes como “1973” e, principalmente, “El Santo Diesel” (não há mau humor que resista a essa) valem qualquer ingresso que você venha pagar pra ver o grupo ao vivo.

Mas o trio ainda mandou a boa e inusitada (pela escolha) versão de “A Verdadeira Corrida Espacial”, dos Replicantes; e contou com a ajuda do folclórico Clemente, do Inocentes, em “Medo De Morrer”, que também está no disco.

O que peca nos Giallos são algumas letras meio bobas e o fato de que o futuro talvez reserve enigmas criativos: ou eles se agarram a essa fórmula garagem-mexican-blues pra sempre e vão cansando ou arriscam pra… pra sabe-se lá onde eles poderiam ir, e essa é a questão. Ou resolvido está, como se diz, e segue-se em frente. Por enquanto, toda a euforia é justificada: é uma baita banda, com os colhões que há tempos o subterrâneo brasileiro tanto carecia.

Uma pena que pouca gente viu. Eram cinquenta pessoas no SESC Pompeia (não é nenhum inferninho, certo? É o SESC, pombas!). E era uma terça de noite bem agradável. O horário também era perfeito pra uma cidade transtornada como São Paulo: nove da noite e começando em ponto. O preço? De graça. Repito: de graça. Se nem de graça, nessas condições, com uma banda de qualidade, empolgante, uma das que o Brasil oferece de melhor na atualidade, a plateia comparece, acho que estamos mesmo perdidos.

Pelo menos, ainda há esperança.

01. Mundos Probabilidades
02. 1973
03. Ramirez Santiago
04. Deadman
05. El Santo Diesel
06. A Verdadeira Corrida Espacial (Replicantes cover)
07. Giallo
08. Bem-Vinda!
09. Medo De Morrer (Inocentes cover)
10. A Juventude X Giallos
11. Anjos Negros
12. Salve-se
13. Ramblin’ Rose (Ted Taylor/MC5 cover)

O show foi gravado na íntegra e acabou disponibilizado no Bandcamp da Giallos. Ouça aqui:

Veja a banda executando “Ramirez Santiago”:

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Comentários

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3 comentários

  1. Gostei bastante do texto!
    Já vi três shows do Giallos, fora este, e realmente senti que a guitarra ficou um pouco apagada no palco do Sesc. Fazendo com que parte da sujeira esperada pelo trio não aconteça. Além disso, o Cox costuma cantar plugado num amplificador de guitarra, gerando também um vocal mais sujo.
    Recomendo fortemente que você vá a um show menor da banda para provar isso por conta própria.
    A explosão Giallos é tão grande ao vivo quanto no disco.

    Abraço!

  2. Valeu, Eduardo. A ideia é essa mesmo. Talvez num lugar com menos estrutura, a banda ganhe a vida que existe no disco. Mas, contraditoriamente, é uma banda que merece palcos melhores, inclusive – por que não? – em festivais. Torcemos.

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