“Uma salada de referências”. É assim que o próprio Gimu define seu novo “Heights & Abysses”, trabalho de quatro músicas, lançado em 14 de março de 2012, apenas virtualmente (“depois de pronto, achei um pecado ser só virtual”, disse Gimu), pela netlabel russa Pocket Fields.
Acho uma pena um artista como ele ter tão pouco espaço na mídia de seu próprio país. Ouvindo “Heighs & Abysses”, isso se torna mais claro. Ele é do Espírito Santo, você sabe, e pode ser uma besteira, mas isso deve dificultar as coisas ainda mais.
Mas a diferença entre os “que estão no topo” e “nas profundezas” de relevância da mídia deveria cair por terra já na primeira canção, “Highly Expected (Pending) Doom”, uma sublime linha de ambiências de pouco mais de doze minutos. Ele é um artista que gosta de experimentar – e só por isso já mereceria o respeito de qualquer um.
“Trabalho em música o tempo todo, mas pro ‘Heights…’ eu quis começar do zero, testar novos sons e possibilidades e no final eu mesmo me surpreendi”, conta. “A segunda música do disco, ’14 Homes’, é diferente de tudo que eu tinha feito antes. Adoro os sons nela, aquele loop que usei (que eu mesmo criei). Ela ficou com um clima leve, desencanada. Aí, falei que é minha canção de verão. De putaria, coloquei som de gaivota no final dela, piada mesmo porque colocar som de pássaros em música… Haja, né? (ri)”.
Não há como não se encantar com o resultado final, que embora denso, é possível perceber algo mais solto, desprendido de formalidades. Gimu está se divertindo. “Canção de verão”? Imagine um verão na Islândia – e, sim, com gaivotas naquela praia gélida – e você tem uma ideia. Ou, voltando a “Highly…”, é como uma trilha alternativa a “2001 – Uma Odisséia no Espaço”.
De fato, uma salada de referências – e de percepções.
“Quando não tinha muito idéia do que estava fazendo, mostrei as músicas pra uma amiga (não tinha ‘Rupture’ ainda, nem ‘Exosphere’) e ela disse que soava como uma canção das profundezas e uma outra desse nosso plano aqui, e que deveria então criar uma outra que tivesse a ver com ‘as coisas lá em cima’. Fui e fiz ‘Exosphere’, que ficou mais hell do que a ‘Highly Expected…’. ‘Rupture’ não entraria no disco. Na verdade, foi criada só depois das outras três terminadas e aí saquei que eu ainda estava no clima do disco, que ela tinha a mesma atmosfera, então a usei como uma ‘quebrada’ (ruptura…). Revirei as partes de todas as músicas, são várias e várias camadas em cada uma delas, então tem pedaço de ‘Highly…’ em ’14 Homes’, pedaço de ’14 Homes’ em ‘Exosphere’… Tem trecho de ‘Highly…’ em ‘Exosphere’ também. No final das contas, foi meu jeito de costurar tudo. A sonoridade final do disco, a coisa saturada, foi dada pelo meu irmão, que o masterizou e meteu a mão no grave”, explica Gimu.
Há mais referências: “A capa é uma pagina de ‘A Paixão Segundo GH’ (lançado originalmente em 1964, pela Rocco) da (Clarisse) Lispector. O título do disco tirei de um livro do (Antonio) Bivar. Não tinha ideia de como dar nome a esse disco. O lançamento atrasou por causa disso. Um dia, lendo um livro do Bivar (que ja devo ter lido e relido 100000000 vezes) achei lá ‘alturas e abismos’ em alguma passagem e pensei: ‘porra, Bivar, valeu!’, não poderia ter nome mais perfeito”, conta.
“Heights & Abysses” sucede o EP “The Inexplicable Iceberg Blue”, de dezembro de 2011. Pra ouvir mais do Gimu, acesse sua página no Bandcamp.
“Heights & Abysses” é esse:
1. Highly Expected (Pending) Doom
2. 14 Homes
3. Rupture
4. Exosphere
Ouça o álbum na íntegra aqui (pra baixar de graça, é só clicar aqui):
[…] já havia postado sobre o disco que ele lançou em março, o “Heights & Abysses”, e achava que tava indo bem. Mas aí, ele lançou “They All Left One By One. They All Left […]