Gilmar Monte, o Gimu, começa 2017 com um lançamento pra engrandecer sua bela discografia: “No Longer Fire. Now Marble. Now Cold”. O disco saiu pelo Assembly Field, dia 15 de janeiro, o mesmo selo que lançou “Moving Still”, em 2014 (ouça aqui).
A nova obra consiste numa única peça de quarenta e oito minutos e meio de texturas, que o próprio autor chama de “provavelmente a mais complexa peça musical que já fiz”.
Gimu gosta de detalhar em palavras os seus lançamentos, jogando uma luz no processo criativo de cada um. Aqui, ele escreveu: “não consigo lembrar o que eu tinha, quais bits (mas definitivamente havia uma melodia) antes de ter essa ideia de converter o que eu tinha em midi e testar praticamente todos os sons deste vst synth pra ver quais esses bits (que eu provavelmente tinha) soariam como se fossem, por exemplo, sons de malho, sons pesados etc., embora eu tivesse dois computadores, usei um notebook (o caderno de papel) e uma caneta pra acompanhar todos esses sons, como eles são chamados. Comecei uma lista dos sons que eu gostei mais. Esse processo durou dias: ‘ok, este som de malho chamado blá, blá, blá, soa bem, então vou colocar na lista, sim, parece maravilhoso, esse som de almofada chamado blá blá blá também vai à lista’. Quando já tinha testando todos esses sons, vi que tinha um bocado de páginas. Essa lista era REALMENTE longa. (…) Eu tinha muitas páginas e toneladas de arquivos wav. Eu tinha que encontrar uma maneira de diminuir o número de arquivos wav. Eu decidi agrupar os sons nessa lista. Cada cinco sons eram um grupo e eu numerava. Fazia alguma equalização pra que eles pudessem soar bem juntos e pra que um som não anulasse o outro. Eu continuei fazendo isso por dias até que fiquei com menos arquivos wav. Era algo como… 100 sons fariam 20 grupos de 5 sons, então 20 grupos fariam 4 grupos de 5 sons e assim por diante e assim por diante. Provavelmente havia mais de 200 sons quando comecei. Essa foi a fundação da música. Não me lembro muito, como tudo evoluiu a partir daí, como a canção acabou tendo quase cinquenta minutos de duração ou como acabou por ter três partes ou seções distintivas. Eu não tenho ideia de quantas camadas tinha até que fiquei com o arquivo final, a música em si, pra ser masterizado. E então havia mais problemas, mais dificuldade. Eu não queria pedir a ninguém pra masterizar a música porque eu meio que sabia o que era provável acontecer, como a canção poderia sofrer com a masterização convencional e era um risco que eu não queria correr. Demasiado longa, muitas texturas, muitos picos e vales. Eu não queria que nenhuma parte soasse muito baixa quando comparada com a anterior ou com a próxima. Eu decidi eu mesmo fazê-lo, algo que eu realmente não sei. Eu cortei a música em três metades. Masterizei cada uma em separado e então eu fiz algo que muitos podem considerar ‘errado’ – porque eu não dou a mínima pro certo ou errado porque não pode haver tal coisa quando se trata de SONS – juntei tudo, de modo a não ter nenhuma emenda desagradável. ‘No Longer…” pode não soar como o resto, estou ciente, mas você deve saber que é uma ode aos sintetizadores vst, à manipulação de som extremo, ao looping e às incansáveis e infinitas camadas. É uma ode ao se doar à música e deixar ser guiado por ela, mesmo quando você está completamente no escuro e você acha que nunca será capaz de terminar algo, mas então é tarde demais pra desistir. A canção quer existir e você é seu fantoche. Faz você estar no computador por semanas, meses. Essa dor nas costas está te matando porque algumas de suas vértebras estão arruinadas. (…) O disco queria nascer e estou muito contente e orgulhoso que ele tenha me usado. Agora, por favor, ignore estas palavras, se você estiver lendo isso antes de ouvir o álbum, e obrigado por nos deixar ‘usar’ você. (…) Não é a minha música. É nossa. Agora é sua. Agradecemos por nos deixar estar na sua vida. Significa muito”.
Quarenta e oito minutos e meio dessa intensidade descrita:
Todo o disco foi escrito, executado e produzido por Gimu.
1. No Longer Fire. Now Marble. Now Cold.