GLENN BRANCA NO SESC BELENZINHO – COMO FOI

“O guitarrista e maestro estadunidense traz pra este espetáculo um ensemble composto por 4 guitarras, baixo e bateria, sob sua própria regência. Branca começou compondo pro teatro (…). Quando se mudou pra Nova Iorque, em 1976, entrou em contato com a cena no-wave local (a mesma cena que deu origem ao Sonic Youth, banda que sofreu forte influência de Branca), tendo participado como membro das bandas Theoretical Girls e The Static. Nos anos oitenta, a partir de sua influência com o no-wave novaiorquino, Branca passa a compor pra formações com várias guitarras e percussão, mesclando sua influência de compositores modernos e pós-modernos (…), com a linguagem do rock e ideias diferenciadas de volume, distorções, afinações alternativas, micro-tonalidade, droning e séries harmônicas (…)”.

O parágrafo acima, tirado da apresentação oficial do SESC, pros shows de Glenn Branca na Mostra SESC de Artes 2012 (os principais eventos de música estão listados aqui), resume um tanto do currículo de Branca, mas está longe de ser suficiente.

Ver Glenn Branca em ação, nessa formação de quatro guitarras (Reg Bloor, Eric Hubel, Greg McMullen e Ben Miller), baixo (Arad Evans) e bateria (Owen Weaver), é uma experiência que dificilmente as palavras conseguem expressar. Porque é um show pra muitos sentidos e sensações.

Branca é um amalucado gênio, que se posta de costas pra plateia, como um verdadeiro maestro, e conversa mais com a banda do que com o público – a quem dirige poucas palavras, um “obrigado” aqui, o anúncio de uma ou outra música ali. Ele brinca, é bem humorado, bebe sua água-e-coca-cola-que-passarinho-não-bebe e se interna num mundo de genialidade, regendo seus músicos com vigor que impressiona tanto quanto a própria música que extrai deles.

Duas guitarras (dos mais jovens) e o baixo do seu lado esquerdo. Duas guitarras (dos mais experientes) do seu lado direito. À sua frente, a bateria. Às costas, o público. Seus braços e mãos cortam o ar e música o obedece. As guitarras, puras, limpas, sem pedais, seguem as partituras. Os olhos dos músicos procuram seguir o livreto à frente e, num malabarismo visual, os gestual do maestro. A atenção do público se confunde logo após as primeiras notas do show, de “Carbon Monoxide”: perplexidade, é muita coisa pra ver, uma enorme quantidade de detalhes a serem seguidos.

Cada guitarra toca algo diferente: notas, afinações, ritmo. Não dá pra perceber tudo, até porque ali no meio, se entregando à sua arte e já derretendo em suor, está Branca, louco, a alma da música, um anti-rock star possuído.

A plateia só relaxa e consegue voltar à razão no decorrer da segunda canção. Mas dura pouco. “Lesson Nº 3 (Tribute To Steve Reich)”, com seus vinte minutos, reserva uma experiência impressionante: o maestro libera, nos minutos finais, seus músicos pra uma “anarquia controlada”. Eles fazem o que querem, se contorcem, o volume aumenta; as guitarras, ainda limpas, misturadas, se enchem de sujeira; o esporro é dionisíaco. O público se mexe nas cadeiras. Está estupefato e incomodado. Quando a obra se encerra, com os músicos desfigurados e cansados, a plateia reage com aplausos tímidos – falta-lhe forças, é preciso tempo pra digerir aquilo.

É assim o tempo inteiro, durante pouco mais de uma hora de apresentação. Ao final, Branca e os músicos não se aguentam, estão extenuados, o esforço físico da entrega é nítido. É uma pena, a plateia – os alunos – estão inclinados a mais. A aula não deveria parar, mas é fisicamente impossível.

Daí, fica a certeza: se você é músico e não viu Glenn Branca em ação, perdeu uma grande chance de se tornar um músico mais inspirado. Se você não é músico e não viu Glenn Branca em ação, não se deu conta ainda o que é inspiração.

E se viu, ainda não foi o suficiente.

1. The Tone Row That Ruled The World
2. Carbon Monoxide
3. Quadratonic
4. Lesson Nº 3 (Tribute To Steve Reich)
5. The Blood
6. Lost Chords

(pelos comentários, o Elson informa que o show foi o “The Ascension: The Sequel”, de 2010, na íntegra)

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Comentários

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2 comentários

  1. Opa Fernando, a primeira música que eles tocaram foi “The Tone Row That Ruled The World”. Na verdade o show foi o “The Ascension: The Sequel” na íntegra.

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