Não perca a conta. O GRUTA é o quinto projeto no qual Cadu Tenório está envolvido. Sobre A Máquina, Ceticências, VICTIM! e Santa Rosa’s Family Tree são os outros, sem contar o selo recém-lançado, o TOC, pra abrigar as ideias todas.
Ao seu lado está Thiago Miazzo, que abraçou o Gruta, um projeto experimental e diferente até o osso. Os dois formam a banda que, segundo eles, “utiliza apenas microfones e pedais pra criar, através da captação de superfícies e ambiências processadas, uma sonoridade inerte e bruta baseada em climas soturnos e subterrâneos que oscilam entre tensão e calmaria”.
Isso é o que diz o release. Em outra palavras, não há instrumentos, só microfones de voz e de contato, além de uma pancada de pedais: “microfones, voz, superficies, ecos, tudo processado por pedais, só existe uma flauta que eu toco na última faixa, que mesmo assim é toda processada pelos microfones”, diz Cadu, que completa: “é uma mistura de dark ambient, ritual ambient e harsh noise – mais pelo modo de produção”.
É experimental, é incidental (já que, embora controlados e processados, são barulhos e ruídos), é uma não-música. “É um projeto calcado em improvisos (…), nem sei se pode ser chamado de música, talvez possa por que tem momentos, tem uma certa estrutura, mas é focado única e exclusivamente nos climas”, resume Cadu.
Ele ainda explica o porquê de mais um projeto: “o motivo é que eu e Thiago sempre quisemos produzir algo à distância, calcado em feedbacks. (…) As idéias são antigas, só aproveitamos o momento pra colocarmos em prática”. Sim, eles produzem à distância, não se encontram. Maravilhas da tecnologia.
Thiago reflete sobre o processo: “Gruta é sobre isolamento, que nasceu na base do diálogo. Pouco ouvimos o que o outro vinha produzindo, não trocávamos demos. Apenas idéias. ‘Vamos fazer um som assim’, e o som estava pronto. Por onze dias, dividi meu dia entre testar ambientações e passar o resto do tempo pensando nelas. Andava com o gravador sempre pronto e registrando uma série de trechos em áudio. Não usei nenhum deles, mas precisava me manter constantemente alerta a toda sonoridade que havia ao meu redor”.
“Curiosamente, ao longo do período de gravação, meu interesse por música diminuiu drasticamente. Quando ouvia música, ouvia field recordings. A única música que me despertava o interesse era a minha própria música. De certa forma, direcionei toda a ansiedade que vinha sentindo ao processo criativo”, conclui.
Thiago sá sua visão do trabalho final: “‘Estal’ e ‘Agmite’ – respectivamente primeira e segunda faixas do álbum – são por assim dizer mais intensas, enquanto ‘Stala’ marca um processo de transição para algo mais calmo e equilibrado, que prevalece até o derradeiro fim. Cadu e eu concordamos que foi um verdadeiro alivio terminar esse álbum, acabou porque precisava acabar. Com exceção da flauta que acompanha a última música – ‘Ctite’ – nenhum instrumento foi utilizado, apenas microfones e feedback, encharcados em efeitos. Cada ruído e ambientação, tudo é dolorosamente sincero, reflexo de algo que sentiamos ou tinhamos até medo de nos permitir sentir”.
São quatro músicas. Elas foram produzidas por Cadu Tenório e masterizadas por Emygdio Costa (também do Sobre A Máquina e que vem dando corpo sonoro aos projetos do TOC). Thiago fez a capa.
“O resultado é bem abstrato, mas tem ápices e momentos específicos que te passam uma impressão de construção, embora tudo tenha brotado da improvisação”, diz Cadu. Um bom exemplo dessa maluquice toda? “Estal”, a música que você ouve abaixo:
O disco ganha vida dia 28 de junho de 2012, via TOC, e pode ser baixado de graça (no Bandcamp do projeto).
1. Estal
2. Agmite
3. Estal
4. Ctite
Ouça na íntegra aqui:
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