Guilherme Granado não é um nome estranho ao ambiente do Floga-se. Em março desse ano, um outro projeto seu, o Bode Holofônico, apresentava seu disco homônimo, num arranjar de ideias de livre improviso (conheça aqui).
Mas Granado é um daqueles seres incansáveis e colocou pra todos os ouvidos no seu Bandcamp e via Proposito Records (o mesmo selo que lançou o Bode Holofônico) dois discos recentes. Um deles é de 2014, “The Transition Hustle”, um trabalho que totaliza dezenove minutos numa tacada só, mas que é composto por seis temas em que prezam repetições, colagens e um clima bastante ameno e, por vezes, alegórico de um mundo inusitadamente divertido e apreensivo ao mesmo tempo.
“The Transition Hustle” tem cara de improviso, mas soa como um exercício preciso de imaginação, de quem sabe o que quer, que tem começo, meio e fim – embora seja uma história que o ouvinte resolva na própria imaginação. É um disco mental.
Ouça aqui:
1. transition #1 (faraonana)
2. hustle #1
3. hustle #2
4. transition #2 (can somebody smile?)
5. hustle #3
6. transition #3 (final hustle)
O outro é “Homeless Loops Vol. 2”, obviamente uma continuação do disco de 2015 (vale ouvir aqui). Segundo o próprio artista escreveu, são “dois discos novos, um de 2014, feito numa época difícil mas com a melhor intenção da minha vida, e outro seguindo a mesma ideia do primeiro ‘Homeless Loops’: feito em menos de um mês com dois synths pequenos, uma bateria e um sampler. Dois lados do espectro”.
“Homeless Loops Vol. 2” tem apenas um tema, “blue tribe”, com quase trinta e oito minutos de duração. Faz jus ao título, com climas e repetições, sons com mais “ataque” (não necessariamente “agressivos”), viajantes, espaciais e até mesmo singelos e nostálgicos (os ouvidos vão aos oito bits de joguinhos eletrônicos da infância).
Aqui, ao contrário do primeiro, o artista aparenta mais claramente improvisar sobre uma temática única. Permite menos imaginação ao espectador, e sugere maior imersão. Sendo mais claro: os loops indicam um universo menos da mente e mais do corpo, pra se soltar, suar.
Em todas as alternativas, Guilherme Granado faz dos sons uma ferramenta pro ser humano se movimentar, seja pela mente, seja pelo corpo, enquanto ele mesmo movimenta sua arte.
1. homeless loops 2: brute tribe