GUM TAKES TOOTH – ARROW

Jussi Brightmore e Tom Fug chegam ao terceiro disco, “Arrow”, um pouco mais palatáveis. Isso não quer dizer exatamente que estão mais fáceis de digerir ou que sua música pode ser apreciada por gente o suficiente pra lhes garantir o reconhecimento merecido. “Arrow” é mais cuidadoso que “Mirrors Fold”, o disco anterior, de 2014 (ouça aqui), só que não está nem perto de ser o produto apropriado pra diversão das massas. Longe disso.

“Arrow” começa com uma sutileza sedutora. “Cold Chrome Hearts” tem uma estranheza associada à calmaria encontrada no estereótipo do experimentar do novo século. Entretanto, apesar dos seus cinco minutos sugerirem algo, a faixa seguinte, “The Arrow”, demole a sensação de entrega: a canção desenvolve nos seus sete minutos uma mistura densa de kraut e electro que aponta um novo caminho – um novo caminho que também não será seguido, e isso já nos tambores apocalípticos, seguidos de sacolejantes elementos eletrônicos, de “No Wall, No Air”, logo quebrados pelo ambient eletrizante de “Slowly Falling”.

Isso porque o Gum Takes Tooth não está disposto a se aninhar no travesseiro do comum: quer corpos dilacerados pelo incômodo, torcicolos deflagrados por posições impensáveis e danças desiguais. Parece querer ser mais sentido do que ouvido e isso, com “Arrow”, se torna inevitável.

Um ou outro crítico percebeu na obra um grito pedindo ajuda pro mundo atual, como uma sirene e um giroscópio alertando dos perigos aos quais nos acostumamos e por isso não atribuímos mais pontos de exclamação. Se nada mais nos impressiona ou nos espanta, nada mais nos indigna (fora do ambiente virtual, é claro). O próximo passo é agir como robôs a aceitar tudo, visando a simples sobrevivência.

O curioso é que a banda não deixa isso claro e nem se preocupa em elucidar tal proposto. Em todos os casos, não é pra se descartar o sinal de alerta. Goma de mascar ferram os dentes, não é alimento, não sacia, mas ela está por aí em milhões e milhões de bocas – o próprio nome da dupla já deixa claro nossas incoerências.

A reta final, com “Borrowed Lies”, “Fights Physiology”, “A Still Earth” e a desestruturada “House Built Of Fire”, é o melhor do álbum, como um Coil assombrado por esperanças futurísticas, e nos coloca de frente a essa brilhante definição do disco: “‘Arrow’ oferece uma fúria dinâmica, ritmicamente dirigida e flagrantemente inclassificável, que flerta tanto com pirotecnia do psych-rock quanto com acid house destruidora de sinapses”.

É um disco amistoso, inquieto e perspicaz na sua audácia de não ser claro, ao mesmo tempo que é acessível e potente. As incoerências são nossas.

“Arrow” foi lançado em 25 de janeiro de 2019, via Rocket Recordings, em versão CD, arquivos digitais e vinil duplo.

01. Cold Chrome Hearts
02. The Arrow
03. No Walls, No Air
04. Slowly Falling
05. Apogee
06. Borrowed Lies
07. Dream Circle / Cloud Cycle
08. Fights Physiology
09. Seizure
10. A Still Earth
11. House Built Of Fire

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