Gustavo Paim é um camaleão musical. Acenando ao noise, ao pós-punk, ao experimental, em seus variados projetos (Cãos, As Lágrimas – cujo álbum é imperdível), ele se mostra capacitado a dialogar com as notas diversas em muitas frentes. Com “Fantasma Elétrico”, álbum-solo, lançado em 10 de outubro de 2018, pela Gowpe, ele se embrenha pelo electro-industrial com pés nas pistas subterrâneas.
Tal como no trabalho anterior, “Sharpest Knife”, de 2017 (leia resenha aqui), Paim se embala com bits e bytes pra criar uma música tão sombria quanto massacrante pra casas noturnas sabiamente escondidas. A violência é travestida de batidas e certa aproximação com a aceitação a partir do embalo que tais beats causam.
A faixa-título viaja no tempo como se fosse possível reverter símbolos e aspectos da música de outras épocas. Então, de repente, tudo poria estar novamente aceito e dentro de padrões estabelecidos. O electro-house (ou coisa que o valha) hipnotiza e carrega o ouvinte junto até o clima oitentista de “Capital Violence, Capital Control”, uma peça que só aparenta nostalgia, mas que como seu título indica é bem atual. “Vigiar E Erradicar” acrescenta ruídos e acelera o processo e te coloca pra dançar (funcionaria muito bem numa pista). Já “Death Driving” é feita pra incomodar, mais do que pra descansar.
“Fantasma Elétrico” é um trabalho estranho aos dias de hoje, porém: tempos em que a informação é bem mais ágil, fugaz e muitas vezes irreal. Não há símbolos duradouros, não há apego. O esquecimento é o terreno mais cômodo. E esse disco não é acessível, apesar de parecer vez por outra. Ele trabalha nas entranhas, com luzes estrobo. Daí que sua estranheza não leva a conclusão alguma porque talvez ele esteja olhando pra algum futuro que se volta ao passado por aprendizado. Um ciclo.
Paim, que produziu e executou todas as seis faixas, camaleônico que é, parece ciente que envolve suas referências nesse olhar futurista do passado (ou pretérito do futuro, aquele deveria ter sido sem nunca ter chegado lá), e vai testando sua linguagem e se aprimorando (se divertindo, por certo). Você pode até dançar, mas o que ele está fazendo mesmo é se transformar.
1. Cruel
2. Fantasma Elétrico
3. Capital Violence, Capital Control
4. Vigiar E Erradicar
5. Death Driving
6. Constrição