Nunca havia visto o HAB ao vivo. E já tinham me falado que era algo estranho – seja pela ótica do post-rock, seja pela ótica da MPB, seja pela ótica dos muitos regionalismos brasileiros.
O HAB é uma mistura de tudo isso, com ritmos variados e convites a danças variadas.
Com o disco “HAB”, lançado em 2014, apresenta-se o experimento meio dançante, que fica sempre no “quase”. Ao vivo, a banda também não tem tanta força, apesar do baterista Thiago Babalu tocar um maracatu como se fosse punk e ditar literalmente os (deliciosos) ritmos, e do guitarrista Marco Nalesso gingar o tempo todo, envolvendo os rifes crus de Guilherme Valério, o que faz a plateia se envolver e balançar junto.
O disco tem seis canções. O show teve doze. Não foi nem suficiente pra encher uma hora de apresentação, de modo que no bis a banda teve que repetir duas canções.
É início de carreira (a banda existe desde 2012) e o material experimental (no sentido de experimentar a mistura de signos de um rock não popular estrangeiro com elementos de ritmos regionais brasileiros – até difíceis de identificar ao certo, o que leva a crer que a banda, de fato, acertou, por não ser derivativa do que vem de fora nem por reverenciar um patriotismo barato) causa realmente estranheza, o que é muito bom.
Numa banda essencialmente instrumental, a habilidade dos músicos conta bastante, seja na hora de executar, seja na hora de inventar a partir dessa execução. A HAB mostrou no SESC Pompeia, na noite de terça-feira, dia 22 de julho de 2014, ter essa capacidade técnica e inventiva. Músicas de dois, três minutos, se esticam e levam o público a ora se hipnotizar pelos loops dos rifes, ora a dançar timidamente. Mas algo me diz que as verei diferentes numa outra oportunidade.
Havia um bom público, perto de cento e cinquenta pessoas. Mesmo com a certeza de que a maioria presente era de amigos e familiares da banda, aqueles que arriscaram conhecer a HAB ao vivo, tiveram boa impressão, ao final das contas, principalmente se mantiverem na memória o auge com “Kalimba” (quando Valério dá sua guitarra ao baixista Marcos Gerez e vai tocar… kalimba), a canção mais forte e suculenta da apresentação.
Seria demais que a banda enveredasse sempre por esse caminho, mas daí seria o mesmo que pedir pra acabar com o dna do grupo: não há unidade, há uma feliz heterogeneidade.
A simplicidade mostrada com poucas variações de timbres (houve quem dissesse, ao meu lado, que algumas guitarras lembram, acredite, o Vampire Weekend – e isso foi dito, acredite de novo, com bastante empolgação por duas meninas que aparentavam por volta dos vinte anos) e a simplicidade de palco, com apenas uma imagem em looping ao fundo (olhando-se a copa de umas árvores, de baixo pra cima), porém, deixam a sensação de que falta alguma coisa.
Mas não dá pra se enganar: a HAB tem muitos elementos em cena, na sua música. Se a identificação não é imediata, ou fácil, é porque a banda talvez tenha conseguido seu intento: criar algo diferenciado e estranho.
01. Explode
02. New Young
03. Zinca
04. Nalesca
05. Conduz
06. Suco
07. Em Tempo
08. Cratera
09. Kalimba
10. Ciclo
11. Bugio
12. Três Lados
Veja o início da apresentação, com as quatro primeiras canções: