No resumão do Prata da Casa 2014, quinta-feira, 5 de março de 2015, foi dia de recordar Herod (veja como foi aqui) e Giallos (veja como foi aqui) no palco do SESC Pompeia.
Ao contrário dos dias do Prata da Casa, quando o evento é gratuito, no resumão, a entrada custa vinte dinheiros, dez reais pra cada banda, não é caro, obviamente. Mas muita gente parece que acha um preço abusivo porque a plateia de todos os dias do resumão, que começou na terça-feira e vai até sexta, ficou às moscas, com poucos gatos pingados. Uma pena, porque é a chance de ver bons nomes da música subterrânea usufruindo de boa estrutura de palco, som e luzes.
A Herod, principalmente, ganha muito com uma boa estrutura. Seu som é meticuloso, ensaiado, detalhado. Enquanto na apresentação de 2014 a banda ainda estava degustando a boa recepção de “Umbra”, seu ótimo disco de 2013, e teve uma hora e meia de palco, aqui com um show mais compacto, pôde ser mais direta e eficaz, sem muitas firulas (ainda o calcanhar de aquiles da banda).
“Umbra”, o disco, sobrevive bem, agora que o furor passou. Em cima do palco, é ainda melhor. Como essas música têm força!
“Collapse” tem um rife impressionantemente grudento e pesado, na mesma medida, e aqui o jogo de luzes ajudou a pontuar as batidas. “Blinder”, toda quebrada e lenta, teve participação de Filipe Albuquerque (da Duelectrum, que a canta no disco) e a timidez do vocalista deixou a música ainda mais hipnótica, porque é como se ele não estivesse ali e o vocal saísse de dentro das nossas cabeças. “Limbo”, com a participação de Jair Naves, sempre vibrante e carismático, é ainda mais explosiva ao vivo.
E a faixa-título é uma porrada insana toda vez que é apresentada.
A banda que me desculpe a sinceridade, mas com “Umbra” no currículo, pra quê diabos tocar qualquer outra música de qualquer outro disco de sua discografia? A superioridade do disco faz as outras canções parecem bobagens sonolentas (e “Crossroad” ao vivo é um bom exemplo dessa comparação).
O ouvinte poderá argumentar que a Herod faz post-rock, que os climões e ambiências e paisagens sonoras fazem parte do pacote. Ok, mas tá na cara que ao vivo a banda é bem mais do que isso (“Lumia”, por exemplo, que está no disco, deve residir sempre no disco e só no disco, lá ela funciona muito bem – já ao vivo, não deve ter boa estampa).
Quando as três guitarras (de Sacha Ferreira, Lucas Lippaus e Daniel Ribeiro) se entrelaçam, rasgando, ruidando, estraçalhando, e encontram uma cozinha distorcida de baixo (de Elson Barbosa) e bateria (de Raphael Castro), a gente logo pensa: climões e ambiências é o diabo!
Que o grupo deixe isso pros discos. Ao vivo tem que ser Herod na porrada, curta e grossa.
1. Penumbra
2. Collapse
3. Crossroad
4. Blinder
5. Limbo
6. Sealand Fire
7. Umbra
Veja “Collapse”:
Na sequência, veio o Giallos. O trio formado pelo insano Cláudio Cox (voz), Flavio Lazzarin (bateria) e Luis Galvão (guitarra) é o esporro blueseiro que o punk nacional sempre necessitou. “¡CONTRA!” é o disco que o Black Keys precisava ouvir se quisesse voltar a ficar legal, como eram em “The Big Come Up” (2002) e “Thickfreakness” (2003) – se bem que eles nunca tiveram um vocal como o de Cox e nunca escreveram letras como essas.
Não consegui ver o show inteiro – tinha o Sonics na sequência, a alguns bons metros dali, na Audio Club, temi que não desse tempo, mas o atraso no show do Sonics me fez remoer de arrependimento por não ter visto essa apresentação até o final, daria tempo de sobra.
Mas tive tempo de ver cinco músicas. Entre elas, a divertidíssima porrada “A Maldição Do Velho Boca Rica”. Infelizmente, perdi a apresentação conjunta com Herod no palco.
O que contou contra o Giallos foi o ajuste de som, que estava muito baixo e fazendo sumir a voz de Claudio Cox. Comparando com os petardos da Herod, acabou sendo desproporcional. Melhor seria se tivesse sido ao contrário: primeiro a Giallos ensandecia, depois a Herod levava ao clímax.
Pra se ter uma ideia de como é uma apresentação do Giallos com todos os recursos, vale ouvir o disco ao vivo que a banda gravou durante o show no Prata da Casa, em 2014. “Giallos Live At Pompeii” dá uma boa dimensão do qual anárquico parece o trio.
E mostra como você não pode cometer o mesmo erro que eu: um show do Giallos é pra se esbaldar até o fim.
01. Giallo
02. A Maldição Do Velho Boca Rica
03. Bem-vinda!
04. 1973
05. Eles
06. Dança Macabra
07. NEU (Krias de Kafka) + Mateus Novaes
08. Anjos Negros
09. El Santo Diesel
10. Geórgia, A Carniceria (Ave Sangria) / Funhouse (The Stooges cover)
Veja “A Maldição Do Velho Boca Rica”:
Fotos: André Yamagami
grande noite!!! obrigado pela resenha! o lance do público (quantidade) é sempre uma incógnita, não acredito que tenha sido o valor do ingresso, até porque na outra edição a entrada era free e isso não refletiu no quorum, enfim… bem, tivemos a infeliz coincidência do Sonics no mesmo dia, alguns amigos fizeram a jornada dupla, mas outros preferiram não arriscar, o que é mais que compreensível… no caso dos Giallos, tocamos pouco em SP (não só em SP, tocamos pouco no geral por uma série de fatores que nem cabem aqui), mas venho percebendo um aumento de interesse pela nossa música, principalmente por colegas músicos… acho que é construção, não tem jeito, e no caso do Giallos e também do Herod, bandas que não se encaixam numa “tag” muito específica, talvez esse processo seja um pouco mais demorado, sei lá… depois de algum tempo a gente vem conseguindo lotar nossos shows aqui na nossa cidade e isso tem sido um termômetro legal, o lance agora é expandir esse horizonte… lançaremos um disco novo esse ano e ao contrário do primeiro, não somos mais completamente desconhecidos… abraxxxx!