Terça-feira, noite de 15 de julho de 2014, inverno um tanto quente em São Paulo, ressaca de Copa do Mundo (a grande final havia acontecido dois dias antes, no Rio de Janeiro), show gratuito, nada melhor pra fazer… então, por que não?
Nem a suave temperatura, nem a gratuidade da entrada, nem a falta de jogos pra ver na televisão e nas redes sociais, nada disso é argumento pra tirar você de casa pra ver um show, quando esse show é um show da Herod (ex-Herod Layne), porque só o fato de poder ver mais uma apresentação da Herod já se sobreporia a qualquer outra desculpa ou argumento ou o que quer que seja. Não dava pra perder.
E não dava pra perder por vários motivos.
Coloque na conta que a banda lançou em 2013 um dos melhores discos do ano, “Umbra”, eleito o melhor do período aqui no Floga-se e aparecendo em tantas outras listas. A obra é a base do show.
Leve em consideração que poucas bandas tocam tão alto e fazem tanto noise ao vivo como a Herod, muito graças a um maluco na guitarra chamado Lucas Lippaus.
Lembre que Robert Smith, o próprio, fez questão que a banda abrisse as apresentações do The Cure no Brasil, em 2013, como já contamos em detalhes aqui. Quem perdeu os shows com a banda inglesa – e mais de quarenta mil pessoas viram, ou estavam presentes, à espera do The Cure – tinha aqui uma grande oportunidade de se redimir.
Mas ok, passado, mesmo que recente, não garante o futuro nem o presente. Era preciso conferir o que o quarteto faria num palco a sua altura, já que certamente abrir pra uma banda daquele tamanho soa ainda hoje um tanto exagerado, e palcos menores, sem adequada estrutura de som e luz, é não usufruir o que o grupo tem de melhor – as longas linhas melódicas, os esporros repentinos, os ruídos, as alternâncias, os silêncios.
Isso tudo o SESC ofereceu e o bom público presente não teve do que reclamar. Era só apreciar.
Mas, como toda banda do subterrâneo brasileiro, cujos integrantes não vivem de sua arte e se deparam com a escassez de palcos, a Herod tem pouca oportunidade de se apresentar ao vivo, de modo que o domínio do seu repertório ainda não está entre seus melhores atributos. Só isso pode explicar a escolha de abrir o espetáculo com “Penumbra”, numa longuíssima e aparentemente interminável ouverture, como cama pra descortinar o poder das guitarras que viria com “Collapse”.
Ao menos, esse seria o único grande erro da apresentação.
De resto, “Umbra”, o disco, se encarregaria de recolocar o drama musical nos eixos. “Blinder”, com o guitarrista e vocalista da Hoping To Collide With, Daniel Ribeiro (que também tocou em “Penumbra” e voltaria no epílogo “Atumbra” e “Umbra”), e principalmente “Limbo”, com a participação especial de um entusiasmado Jair Naves (reproduzindo o agonizante exercício vocal no disco), deram a real dimensão da capacidade da Herod.
Mas ainda tinha o bis. É justamente aqui, com “Atumbra” (uma ouverture no tamanho ideal) e “Umbra”, que a Herod explode, protagonizada pela demente guitarra de Lippaus. Barulho em toneladas, uma prova de fogo pros ouvidos, uma sequência de muitos minutos que presentearão a plateia com um delicioso apito intermitente ao final do show. Isso é tudo o que você precisa pra se convencer de que está diante de uma das melhores bandas da atualidade.
De que outros argumentos você precisa?
01. Penumbra
02. Collapse
03. Crossroad
04. Blinder
05. Limbo
06. Silencio
07. Walking The Valley
BIS
08. Sealand Fire
09. Antumbra
10. Umbra
Veja o show na íntegra aqui:
Fotos por André Yamagami
Eu estava lá e não pude esconder a empolgação diante de um show tão bom como o que eles fizeram. Conheci o Herod por aqui e nunca tinha visto eles ao vivo. Uma das coisas que me chamou a atenção foi essa bateria posicionada na linha de frente do palco- eu nunca havia visto isso antes. Foi incrível!