A ideia original era captar em imagens o Hierofante Púrpura no palco pra um projeto que o Floga-se vai colocar no ar em poucos dias, em parceria com um bocado de gente boa. A banda definiu as músicas que iriam fazer parte do tal projeto e estava tudo certo, tudo perfeito, até ela subir ao palco e assumir os primeiros acordes de “Amor Te Quero”.
As câmeras ligadas desrespeitaram o que foi previamente combinado e se puseram a trabalhar até findarem memória ou bateria, ignorando que bastavam três canções. Pareciam ter vida própria em busca do melhor ângulo, na tentativa de decifrar o que essa banda oferece no palco.
Lentes e chips e bits e bytes se unindo pra entender como Danilo Sevali (vocal, baixo e piano), Gabriel Mattos (guitarra) e Diogo Menichelli (bateria) – e Helena Duarte no baixo, a partir de certa hora – se transformam assim que o primeiro plugue é ligado, assim que a primeira nota ecoa, assim que os martelos dos ouvidos de todos os presentes vibram.
Há de buscar foco pra compreender de alguma forma como esse trio/quarteto mergulha num transe e assume outras personalidades durante aqueles pouco mais de sessenta minutos de apresentação. Luzes mudam de cor, alterando o cenário; teclas de piano são espancadas e depois tratadas novamente com carinho; a diversão se faz perceber nos sorrisos de Gabriel vez por outra, quando ele não está imbuído de rasgar as cordas de sua guitarra; e a plateia toda se envolve naquela teatralidade natural. Há coisas que nem todas as câmeras e todos os ângulos são capazes de captar. Mas elas estão lá.
Quem foi ao Studio SP nessa terça-feira, mesmo sem lentes e obturadores e diafragmas profissionais, pôde com os olhos captar essas sensações. O Hierofante Púrpura desfilou com “Discutindo”, “Casa” e “Sujeito Sem Brio”, além da nova “Espírito Espelho” e a cover do Alarde “Coringa” a sua transformação. É um palco, não é um sonho, nem um delírio, e ali estão artistas com sua psicodelia urbana patifebandiana. São bons garotos que assumem por um tempo o papel de causadores da explosão do êxtase marginal, aquele que as câmeras analógicas captavam com espanto quatro, cinco décadas atrás, quando o rock era um adolescente e ainda podia derrubar alguns preconceitos e talvez até governos.
Não sei se isso fica gravado no cartão de memória. Acho que não exatamente, porque a música é momento. Um show é momento. Mas por certo todos os olhos que ali estavam, naturais ou eletrônicos, presenciaram algo inadjetivável. As sensações estão na cabeça de cada um. As câmeras tentam imortalizar, mas quando se trata de Hierofante Púrpura é melhor estar lá pra ver – ou buscar outros pontos de vista.
1. Amor Te Quero
2. Casa
3. Discutindo
4. Sujeito Sem Brio
5. Hospital Das Curas
6. Espírito Espelho
7. Coringa (Alarde cover)
Aqui, um vídeo de “Sujeito Sem Brio”
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