HOWLER NO BECO 203 SP – COMO FOI

É oito ou oitenta. Blogueiro/jornalista/formador de opinião lê a New Music Express enaltecendo uma banda recém-saída das fraldas e corre pra 1) baba ovo junto, cegamente; 2) desprezar com todas as forças, indiscriminadamente, num esforço de se mostrar, hã…, “independente” e “inteligente”. Em ambas as alternativas, o público fica que leva em conta essas opiniões fica perdido no meio, seguindo um dos polos.

O caso do Howler (como foi com o do Vaccines, em 2011) é exemplar. Na comparação imediata com o Vaccines, em disco, o Howler, quinteto de Minneapolis, Esteites, sai realmente perdendo, o que não quer dizer que seja exatamente ruim. No pau a pau, “What Did You Expect From The Vaccines?” é muito, muito, muito melhor do que “America Give Up”, a estreia do Howler.

A comparação poderá ser feita também ao vivo, em poucas semanas, quando o Vaccines vier pra sua primeira apresentação no Brasil (veja os detalhes aqui). Ontem, em São Paulo, o Howler fez o seu papel.

Cito frequentemente o Vaccines nesse texto porque é o embate mais justo. Ambos foram hypados pelo mesmo veículo e passaram pelo mesmo processo antagônico de amor ou ódio do público – não há meio termo. Mas a imprensa prefere a comparação injusta e equivocada com o Strokes – e, mais uma vez, todos vão na cola. Não tem nada aqui de “novo Strokes”, nem musicalmente, nem no impacto gerado.

Todavia, ao vivo, nada disso importa. O Howler parece mesmo uma banda colegial, se apresentando pra colegas de classe e pra aquelas menininhas desejadas lá no íntimo. Isso pode ser bom, porque ainda não possuem cacoetes dos ídolos midiáticos-biônicos do novo século. São “puros”, por assim dizer, mesmo que isso não signifique muita coisa em termos de qualidade musical.

O show era pra acontecer na sexta-feira, dia 24 de fevereiro. Mas uma nevasca nos Esteites adiou os planos. No sábado, dia 25, a banda conseguiu chegar e se apresentar em Porto Alegre, na filial do Beco 203 local, o que garantiu o show de domingo, dia 26.

Tudo sugeria, pois – lançamento hypado da banda e adiamento do show de uma sexta pra um domingo (de Oscar e chuva, ainda por cima) – um fracasso monumental, uma daquelas noites de índio. Mas não foi bem assim. O adiamento – e a chuva e o Oscar – não atrapalhou. O Beco 203 estava lotado, a noite estava quente, e o público mostrava-se animado – e não só formado por recém-saídos da puberdade, havia gente na casa dos trinta, quarenta…

Já era possível, de antemão, projetar um quadro desses, de sucesso: a iniciativa de trazer o Howler foi da PlayBook, via financiamento coletivo (a mesma que já trouxe o Tokyo Police Club e o Penguin Prison). Eu repito que é preciso aplaudir tal movimento, independente da banda que se tente trazer. Isso ajuda a criar um calendário recheado, diminuir a ansiedade, expectativa e carência do público, e a solidificar o mercado de shows. Não há como não torcer por tal iniciativa.

Com tudo certo, produção redondinha, casa cheia, calor ideal pra uma cerveja, banda no palco (e, milagre, praticamente no horário programado), nada poderia dar errado. E não deu. O Howler se mostrou uma banda decente ao vivo, embora não consiga traduzir em show a energia e distorção calculada que entrega em CD. É esforçada, tenta divertir a audiência e Jordan Gatesmith, o vocalista e guitarrista, mostra-se dotado de uma ingenuidade genuína ao se dirigir aos seus espectadores – o que sempre é cativante.

Em determinado momento, Gatesmith perguntou sobre o hino nacional brasileiro e o público, que começou a cantar timidamente, pra mostrar pra banda a canção, acabou se empolgando e surpreendendo os gringos com o tamanho da letra e da euforia pátria. Com vinte anos de idade, não me espanta que o artista tenha essa curiosidade infantil.

Musicalmente, há pouco o que acrescentar. A banda começou como começa a maioria dos shows: “America”, “Beach Sluts”, “For All Concern”. Apresentou os hits “Wailing (Making Out)” e deixou “Back Of Your Neck” pro fim, presentando ainda a plateia com um bis, algo não comum, com “Black Lagoon”.

Foram onze músicas no total. É pouco, mas é tudo o que a banda tem por ora. Infelizmente, não é o suficiente pro público se posicionar sobre questões de amor ou ódio relativas a sua música, mesmo que tenha bastado pra fazer dessa uma noite divertida.

Setlist:
01. America
02. Beach Sluts
03. For All Concern
04. Too Much Blood
05. Wailing (Making Out)
06. This One’s Different
07. Pythagorean Fearem
08. Told You Once
09. Back To The Grave
10. Back Of Your Neck

BIS
11. Black Lagoon

Veja a banda tocando “America”:

E “Beach Sluts”:

Fotos de Leandro Devitte

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