I BURIED PAUL – IN SCHWARZEN TÖNEN, IN LAUTEN FARBEN

Pedro Oliveira não é exatamente um “músico”. Ele é designer, que mora Leipzig, na Alemanha, e tem em I BURIED PAUL seu “monstrinho musical”.

O projeto já lançou, em 2009, o EP “The 633”, pela Sinewave. Eram cinco músicas. “In Schwarzen Tönen, In Lauten Farben”, o novo lançamento, independente, de 8 de agosto de 2012, tem apenas duas músicas e bate mais forte na experimentação.

Mas voltemos antes no tempo. A ideia do projeto surgiu em 2008, quando ele começou a se “interessar por música eletrônica experimental”, diz Oliveira, “primeiro com os projetos do Mike Patton (solo e no Fantômas), passando por John Cage, Stockhausen e depois indo parar em Amon Tobin, Aphex Twin e outros. Vindo de uma formação musical calcada em rock e metal, foi uma expansão um tanto quanto radical nos horizontes musicais; quando menos percebi já estava ouvindo Merzbow e achando do caralho”.

Ele continua: “na época, estava concluindo a faculdade em design e achei uma boa oportunidade testar algumas ideias que surgiram enquanto eu ministrava workshops de ‘percepção sonora’ pra estudantes de design Brasil afora – daí surgiram as primeiras ideias pro meu primeiro EP, chamado ‘633’. Esse EP nasceu como meu projeto de conclusão de curso na faculdade, e nele eu estava tentando achar um bom meio termo entre música eletrônica criada 100% no computador e improvisação livre. O resultado acabou sendo bem calcado em métodos e influências de jazz, e apesar de ter sido uma primeira incursão bem interessante, senti que ainda faltava um componente mais ‘solto’. Mandei as músicas totalmente na cara de pau para o Elson da Sinewave (que eu já acompanhava o trampo do selo e achava uma iniciativa sensacional) e ele felizmente comprou a ideia. O lançamento do EP pelo selo foi bem legal pra divulgar e nesse processo recebi feedbacks muito interessantes, tanto positivos como negativos”.

Foi um impulso pra Oliveira continuar o projeto. Daí pra frente, ele resolveu estudar métodos de composição e performance. Nesse meio tempo (em 2009), se mudou pra Alemanha pra estudar. “Até que finalmente achei um ponto legal com a combinação de guitarra e computador, especialmente com software livre (que é aberto e torna mais fácil construir coisas muito específicas e customizadas). Criei uns patches estranhos no Puredata, pluguei a guitarra em pedais de distorção e delay e comecei a brincar, testar combinações e estratégias que ficassem do meu agrado”, ele conta.

Até que surgiu uma oportunidade única. Oliveira foi chamado pra se apresentar num congresso de música eletrônica em Belfast, na Irlanda do Norte: “lá gravei alguns takes da performance, onde eu manipulava rifes e melodias pré-gravados no computador (não pude levar a guitarra por questões financeiras) pra criar texturas e camadas de ruídos e distorções. Voltando pra Alemanha, comecei a fazer um processo de cut-and-paste, tentando manter a espontaneidade da performance, e o resultado é ‘In Schwarzen Tönen, In Lauten Farben’. Levou um pouco de tempo pra sair, pois estava em processo de conclusão do mestrado, que desta vez não teve nada a ver com isso”.

O disco está disponível gratuitamente na página do projeto no Bandcamp. Embora Oliveira seja designer, a parte gráfica foi feita pelo seu amigo, também designer, Rafael Nascimento – “traduz muito bem a parte sonora”.

“No fim das contas, o projeto surgiu como uma maneira de botar em prática idéias sobre processos em Design e Música que eu tinha na cabeça, mas acho que a coisa tomou uma vontade própria e acabou se tornando menos um “statement” e mais uma entidade musical por si só. Acho que no fundo, era isso que eu buscava e só precisava de uma desculpa pra começar. Hoje em dia, não me preocupo mais em provar um ponto, qualquer que seja, e sim em buscar algo que me satisfaça. Tenho um objetivo pessoal que é de privilegiar a espontaneidade da expressão musical no que eu faço, o que na verdade é só uma maneira de dizer que eu sou um péssimo compositor, com o mínimo de parafernália possível, e no momento meu tesão tem sido em explorar essas texturas ultra-distorcidas com variações muito sutis, quase drones mesmo. Mas na real, o projeto é livre pra se tornar o que der na telha”, diz.

“In Schwarzen Tönen, In Lauten Farben” é um disco denso, pesado (“In Schwarzen Tönen” quer dizer “em tons pretos”), mas, em contraponto, bastante relaxante. São duas canções extensas, uma de dezessete minutos e meio e outra de dez minutos, que dão título ao disco.

É pra ouvir com atenção, desenhando imagens próprias a cada nota. I Buried Paul tem a capacidade de fazer seu cérebro trabalhar em outros espectros, em outros prismas de cores, em outro mundo.

1. In Schwarzen Tönen
2. In Lauten Farben

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