Talvez o show que o Japandroids fez no dia anterior na Casa do Mancha, um espaço bem mais intimista pra aproximar banda e plateia, tenha sido melhor. Mas também não sei se isso é relevante. O mais importante no show dessa sexta-feira, dia 9 de março de 2012, foi o que ele representou, até mais do que o próprio show.
O Japandroids em cima do palco mostra o que se espera da dupla formada por Brian King (guitarra e vocals) e David Prowse (bateira e vocais): músicas rápidas, barulhentas, enérgicas, pra fazer todo mundo pular e suar a cerveja. Isso teve e com louvor: mais de duas horas, passando pelo disco de estreia, “Post-Nothing”, de 2009; pela coletânea de singles “No Single”, de 2010; e por algumas das canções do já anunciado segundo álbum, “Celebration Rock”, a ser lançado em 2012.
Quem aguentou a maratona de zoeira sonora certamente ganhou a noite, mas tenho ciência da dificuldade que foi. A guitarra de King é alta a ponto de pouco se ouvir a sua voz – e faz ouvidos zunirem e cabeças doerem. Problemas na equalização de som eram irrelevantes neste caso específico, até porque o que ele canta pouco importa. O que está em jogo é o quanto você consegue extravasar seus problemas juvenis, ou desprezar os limites da idade e se divertir junto.
A bateria de Prowse, sempre acelerada, quase reduzida a pó ao fim da jornada, faz o papel daquele irrevogável preceito de que o rock de garagem (aqui de mãos dadas com o emo) precisa esculhambar e ser esculhambado mesmo, sem preocupações formais. A guitarra ataca o ouvido e a alma; a bateria, o peito e o coração. Perfeito espetáculo sonoro pra chacoalhar a juventude de hoje.
É por isso que o show do Japandroids é tão importante, mais até do que o próprio show. Trazer bandas desse calibre, ainda pulsando de vivacidade no mercado internacional, é o que faz o mercado brasileiro de espetáculos pop se solidificar (escalar o Macaco Bong pra abrir foi uma sacada inteligente, porque o próximo passo é justamente esse, arrumar espaço pras boas bandas nacionais, longe da esfera do “indie-sambinha”): a quantidade, independente da força mercadológica de tais eventos, enche o calendário, dá opções pra quem gosta de música realmente alternativa (o mercado pra grandes nomes como Roger Waters, Paul McCartney, Morrissey etc. está consolidado) e certamente terá bons reflexos na própria produção brasileira. Pra um jovem, é estimulante ver cara a cara outros jovens como ele, descendo o braço, cheios de vontade, sonhos e aspirações.
“The Boys Are Leaving Town”, que abre o primeiro disco, abriu também o show, com berro ensurdecedor de King. Uma ótima inspiração pra esses jovens. A boa audiência presente no Beco 203, bem aquecida com climão deixado pelo Macaco Bong, foi ao delírio, pulando e socando ar.
A felicidade com que se via a banda discorrendo seu novo trabalho (desconhecido de todos, mas vibrante da mesma maneira na resposta do público), alternando com belezas como “Young Hearts Spark Fire”, “Heart Sweats”, “No Allegiance To The Queen” e “Wet Hair”, dava razão à minha empolgação em presenciar o Japandroids ao vivo.
Melhor ainda: não dá pra ver um show desse de cara limpa. Que me desculpem os caretas ou coisas do tipo, cerveja (ou afins) é primordial pra assimilar a pacandaria do Japandroids. Já na segunda música, a novíssima inédita “Adrenaline Nightshift”, minha cabeça estava do jeito que valeu o investimento no bar da esquina, no bar do Beco e no táxi da volta.
“É isso! É isso!”, pensei ao final – quem me dera na minha época, com aquela idade, fosse assim, eu tivesse esse tipo de opção pra curtir a noite.
O Japandroids me fez voltar àquela idade em que uma grande noite se resumia a encher a cara, ver um show bom, estourando tímpanos, e com um pouco de sorte, um romance no final, pra dormir quase ao raiar do sol. Era um programa raro naquela época. Hoje, se mostra bem comum pra quem tem poucas contas e responsabilidades. Então, esse show foi meio como um convite: aproveite ao máximo esses novos tempos de calendário lotado e ótimas opções.
Veja as duas primeiras músicas do show. Primeiro, “The Boys Are Leaving Town”:
E aqui a nova “Adrenaline Nightshift”:
Todas as fotos por Leandro Devitte.
Todos os vídeos por Fernando Lopes.
muito bom!!!!!
Dupliquei a catarse na Casa do Mancha e no BECO hahaha. Era um dos 10 shows que eu mais queria ver na vida.
A resenha tá linda!
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