Ontem vi o último filme do Jim Jarmusch, “Flores Partidas” (Broken Flowers, 2005). Só ontem. Como todo filme do Jarmusch, um espetáculo. Calmo, planos esticados sem diálogos, mas com bastante… conteúdo. Irônico, engraçado. Aliás, mais engraçado que muito besteirol. E tem Bill Murray, fazendo o “mesmo” personagem de “Encontros e Desencontros”. Só rindo…
O bom dos filmes de Jim Jarmusch é que tem música. Tem clima. Tem estilo – o que é que isso queira dizer. “Flores Partidas” tem um grande elenco (Bill Murray, Sharon Stone, Jessica Lange, Tinda Swinton, Jeffrey Wright, Chlöe Sevigny etc.), mas não deixou de ser “independente”. Tem a mesma força dos dois primeiros, os melhores dele, “Estranhos no Paraíso” (Strange Than Paradise, 1984) e “Daubailó” (Down By Law, 1986).
Eu disse, Jim Jarmusch faz música com roteiro e câmera. Os filmes dele são música. “Estranhos no Paraíso” tem John Lurie e sua banda de blues/jazz. “Daubailó” tem de novo Luire, um hilariante Roberto Begnini antes da fama e, principalmente, o mais engraçado, Tom Waits e seu vozeirão, um trio de fugitivos muito comédia (“I scream, you scream, we scream for ice cream!”). Nos dois, a música é ponto forte.
Em “Trem Mistério” (Mystery Train, 1989), tem um casal de japoneses apaixonados por Memphis, na década de 50. O japa pensa que é Carl Perkins. E tem Screamin’ Jay Hawkins mandando ver. Filmaço.
“Uma Noite Sobre a Terra” (Night On Earth, 1991) são cinco histórias, algumas maletas. Tinha Gena Rowlands, Winona Ryder, Begnini, Rosie Perez e Armin Mueller-Stahl no elenco. Música de Tom Waits, o que vale o filme.
“Dead Man” (Dead Man, 1995) é uma viagem só. Coisa de quem curte um mickey em pastilha. Johnny Depp (pensando que é William Blake), Crispin Glove, Robert Mitchum, Gabriel Byrne, Billy Bob Thorton, John Hurt e Alfred Molina tomam contam da loucura. E tem Iggy Pop. Música? Neil Youg, beleza. Ou alguém ainda discute se Neil Youg é espetacular?
“Year Of The Horse” (Year Of The Horse, 1997) é o registro da turnê de 1996 de Neil Young And Crazy Horses. Documentário obrigatório.
“Ghost Dog” (Ghost Dog: The Way Of The Samurai, 1999) é espetacular, embora não pareça em nada com um filme típico de Jarmusch. Forest Whitaker é um samurai caladão, que vive por um determinado código… determinado a morrer por ele. Música de RZA, nada demais.
“Sobre Café e Cigarros” (Coffee And Cigarettes, 2003) é um apanhado de muitos curtas feito por Jarmusch desde o início da carreira. Aqui, ele volta ao preto e branco e às gargalhadas. Roberto Begnini, Tom Waits e Iggy Pop, Steve Buscemi, Cate Blanchett, Jack e Meg White (eles mesmos), Alfred Molina e Steve Coogan (no episódio mais engraçado, o “Primos”), além de GZA, RZA e Bill Murray.
E finalmente “Flores Partidas”. A música aqui é etíope (é!), de Mulatu Astatke, um senhorzinho de 63 anos, que vale o trabalho do Soulseek.
Além de tudo, ele ainda parece um cover do Nick Cave.
Jim Jarmusch é música ou não?