“Tranque a faculdade e passe 1 ano dormindo / se você tiver dinheiro / Seja o orgulho dos seus pais / Termine o namoro ruim / Brigue com os seus amigos chatos / Pare de fumar bebendo / E tente não ser preso”. “Nome Sujo” é o máximo de rebeldia que Jonathan Tadeu vai despejar nos ouvidos com seu quarto disco, “Sapucaí”, lançado dia 23 de agosto de 2018, via Geração Perdida.
Tadeu faz parte de uma geração que não precisou ou não precisa se rebelar, porque tem mais o que fazer. É preciso se encontrar, ao que parece – e esse não é um processo exatamente tranquilo. Em “Rihanna”, ele diz: “Hoje eu fiz os meus 30 anos / E tá tudo bem / Só não me deixa envelhecer / Feito banda de rock” – depois de Whitney Huston, Lupe De Lupe e Diana Ross, é a vez de Rihanna ganhar luzes na obra de Tadeu.
As preocupações prosaicas do músico – e de todas as gerações vivendo em certa estabilidade econômica e democrática há vinte e cinco anos (rasgada a partir de 2013, mas sem impacto ainda visível nelas) – não são preocupações descartáveis ou menores. Isso simplesmente não existe, afinal preocupações são preocupações, não se mede pela régua alheia.
Só que quando o indivíduo é também um artista essas preocupações picham a obra e a obra de Tadeu está rabiscada por elas. “Sapucaí”, sucessor do interessantíssimo “Filho Do Meio”, de 2017 (ouça aqui), identifica uma maturidade distante do autor. Ele se sujeita a brincar com suas preocupações em letras simples e meio preguiçosas, que podem ser lidas como objetivas e diretas, e isso não é tão distante de ficar nu na frente de todos, mostrando imperfeições que roupas e pudores escondem.
Em comparação com “Filho Do Meio”, “Sapucaí” é um irmão menor pra pegar no colo e todo mundo apertar as bochechas fofinhas. Musicalmente, é um trabalho tão interessante quanto e talvez envelheça tão bem quanto (o disco anterior tem apenas um ano de diferença, mas isso nos dias de hoje deve equivaler a, sabe-se lá, uns três séculos), porque Jonathan Tadeu tem um jeito especial de trabalhar com quase nenhum recurso, o que o distancia de certas armadilhas – de acordo com a própria descrição, ele “faz um retorno às guitarras lo-fi noventistas, marca registrada dos álbuns ‘Casa Vazia’ (2015) e ‘Queda Livre’ (2016), além do seu contínuo fascínio pela obra de Sparklehorse”, embora só a referência ao Sparklehorse seja digna de nota, porque a turma do falecido Mark Linkous tinha à disposição bem mais que um quarto, um microfone e um computador. As colagens/reflexões nas faixas “Interlúdio”, “Vamo Marcar De Sair” e “Último Gás (Vamo Dale)” fazem justiça a essa aproximação.
Jonathan explica ainda, no informe oficial, que este “é o primeiro disco produzido integralmente” por ele. É uma obra, por assim dizer, mais pessoal, reforçando o sentimento descrito no início deste artigo. Gravado durante a Copa do Mundo de 2018, uma época inebriante até pra quem não suporta muito futebol, “Sapucaí” saiu como um distanciamento de percepções das reações que cercam o artista. É como se ele não fizesse parte desse tempo, do seu entorno, da sua própria vida, e visse tudo de fora. Não é fácil se olhar no espelho, se perceber e se descrever com certo refinamento artístico.
É curioso que Jonathan tenha sido dão afetuoso e generoso, afinal de contas. Sem se rebelar, ele pode até não aceitar o que enxerga, mas não discute, não questiona. “Sapucaí” é uma doce e bem articulada dose de melancolia sobre a vida que muita gente vive e vai vivendo, sem se importar e, às vezes, sem nem mesmo perceber.
Produzido, escrito, executado e gravado por Jonathan Tadeu, com exceção exceto das guitarras de “Nome Sujo”, que tem os dedos de João Carvalho, produtor e colaborador constante do artista. Carvalho também responde pela mixagem.
01. Réveillon (Eu Tive Um Futuro Promissor) (clique aqui pra ver o vídeo)
02. Março (clique aqui pra ver o vídeo)
03. Interlúdio
04. Nome Sujo
05. Conta Comigo
06. Rihanna (clique aqui pra ver o vídeo)
07. Anos 2000 (clique aqui pra ver o vídeo)
08. Vamo Marcar De Sair
09. Só Deus Sabe
10. Último Gás (Vamo Dale)