KASABIAN NO ATLANTICO LIVE, EM ROMA – COMO FOI

Show do Kasabian, em Roma. Era dia 24 de fevereiro de 2012, um frio de rachar no Hemisfério Norte, contra um calor cruel abaixo do Equador. Alessandra Lehmen, vocalista da Lautmusik, já estava com tudo certo pra passar suas férias na Europa. Itália ali no roteiro, ingresso(s) pro show no Atlantico Live comprado(s): “resenho pro Floga-se“, ela disse. Abri um sorrisão de orelha a orelha, empolgadão: “claro!”.

Sabia que a moça tinha habilidade com as letras e uma visão perspicaz. O “faixa-a-faixa” que ela escreveu sobre o “Lost In The Tropics”, discão da Lautmusik, era boa prova.

Além do mais, é uma fã declarada, assumida e orgulhosa do Kasabian. Meio como eu, a despeito do último disco, “Velociraptor!”, não ser lá grande coisa, e do que as pessoas possam falar – não sei se as pessoas levam o Kasabian tão a sério quanto levavam há alguns anos.

Deveriam. É uma banda e tanto, talvez um dos melhores shows da atualidade, com hits e pulso, vibração… Daqueles pra deixar o espectador sem muito fôlego – e, como se vê aqui, sem tempo até pra pensar em comer.

QUI (NON) SE MANGIA
Por Alessandra Lehmen

Numa noite agradavelmente fria de fins de fevereiro (especialmente aprazível pra quem vinha do calor de mais de 40 graus do Brasil), mapa devidamente estudado no eficientíssimo site da empresa de transporte público de Roma, rumei ao Atlântico Live (antigo Palacisalfa), que fica pra lá do fim da linha do metrô, num bairro chamado EUR – Esposizione Universale Roma -, construído por Mussolini pra abrigar uma exposição universal que nunca aconteceu.

Depois de dar informações pra duas gurias italianas sobre em que ponto descer, cheguei ao habitual amontoado de barracas de comida, vendedores ambulantes de cerveja e de camisetas não-oficiais da turnê, penduradas em varais e formando um estranho túnel até o ponto de entrada.

Cheguei munida de dois ingressos, comprados, por garantia, nos dois sites de “intermediação e revenda de ingressos” (ou cambistas institucionalizados, como queira) disponíveis, Seatwave.com e Viagogo.com, já que quando decidi ir a Roma os ingressos já estavam esgotados. Minha apreensão se dissolveu quando rapidamente me deixaram entrar (o ingresso não era falso, afinal). Procurei alguém que aparentasse não ter ingresso pra presentear com o que sobrou – ninguém. Guardei como souvenir.

Alguns passos e nenhuma fila depois, vi um sinal de neon com os dizeres “pizza” piscando sedutoramente e percebi que, preocupada com a logística de transportes, esqueci de comer. Mandei uma “pizza romana” de mortadela, fria (não era tão ruim quanto soa), e entrei. Heineken à venda, nenhuma fila: promissor. N.I.B. no som ambiente: idem. A configuração do lugar, um caixotão pra 4 ou 5 mil pessoas: nem tanto. “De jeito nenhum o som aqui há de prestar”, pensei, e me pus a circular.

O show de abertura, da londrina Belakiss, tornou interessantes os trinta minutos que ocupou com um indie britânico contemporâneo sem maiores traços distintivos, a não ser o timbre de voz “bonjoviesco” em alguns momentos – um contraste, digamos, peculiar. A baixista, como tantas outras, emulava a postura de palco da Kim Gordon.

Alguns minutos depois, o lugar finalmente enche, mas continua transitável, o que demonstra que os critérios do lugar pra determinar se o show está sold out são, ao contrário de outros lugares que te tratam como gado, são bastante razoáveis.

Às 21:30h em ponto, o Kasabian subiu ao palco e caiu matando, com a faixa mais grudenta (no bom sentido) dos últimos tempos, “Days Are Forgotten”. Antes do show, tinha passado dias cantarolando o refrão, melódico e grandiloquente – gosto de coisas melódicas e grandiloquentes de vez em quando, linhas vocais em especial.

Primeiras observações: o som no dito caixotão estava ótimo (o que pode ser notado no vídeo abaixo, descontadas a perda de qualidade da câmera de celular e minha posição lateral ao palco) e quem é aquele sujeito parecido com o Dave Gahan? O Tom Meighan de cabelo escovinha, jaqueta jeans e óculos escuros, fazendo com que me sentisse em 1991.

“Fast Fuse”:

Vídeo por alehmen

Os primeiros vinte minutos de show não viram sinal de arrefecimento do entusiasmo do público italiano: na sequência vieram “Shoot The Runner”, “Velociraptor!” (cujo refrão “futebolístico” não desanimou a plateia – sempre me vem à mente algo como “Veloci-rap-tor, Veloci-rap-tor, olê-olê-olêee”), “Underdog” e “Where Did All The Love Go?”.

A plateia só se acalmou – mas continuou atenta – em “I.D.” e “Take Aim” (esta dedicada por Tom ao Império Romano, coisa que acho que até os locais estranharam). “Club Foot”, a música seguinte, pôs todo mundo pra dançar de novo.

A propósito do público, observei que dançavam e sorriam boa parte do tempo e que interagiam apenas com seus grupos imediatos, sem desviar a atenção do palco. Acrescento que não tomei nenhum pisão ou cotovelada. Fecha parênteses.

O clima de festa continuou com “Re-Wired” e “Empire” e chegou ao paroxismo com “Fast Fuse” (uma das minhas favoritas); estancou, porém, com a balada “Goodbye Kiss” (pra mim a mais fraca do show – balada é sempre um negócio perigoso e definitivamente não é pra qualquer um). Passado, felizmente, o momento meloso, o pique foi retomado com uma energética versão ao vivo de “L.S.F. (Lost Souls Forever)”, que terminou o set regulamentar.

Logo depois, sem que o público tivesse de insistir muito, a banda voltou pro bis, com “Switchblade Smiles”, seguida de “Vlad The Impaler”. Minha ansiedade pela falta de “Fire”, outra favorita, acabou em seguida: essa veio como música de encerramento (acho que de fato ela tem envergadura pra isso). Perdeu um tanto na execução por conta de um provável cochilo da mesa, que deixou o baixo abafado e a caixa altíssima, mas nada que anuviasse minha alegria de fã. Foi uma versão estendida e modificada, que teve até o Sergio Pizzorno conclamando o povo a sentar no chão – muitos de fato sentaram – com um “down, down, down” entoado como em “Fool’s Gold”. Diga-se, do Pizzorno, que ele foi muito bem nos vocais que fez e tem uma presença de palco imponente, sem contar minha imediata identificação por ele também vestir plumas pretas no palco.

Sumarizando, o Kasabian é tudo o que eu esperava ao vivo ou até mais. Excelentes músicos, criatividade, ótimas referências sem apelação pra revivals, timbres magníficos, peso, melodia e – pensei uns segundos se esse seria o melhor termo e achei que sim, é – groove. No tranquilo e longo caminho de volta ao meu hotel (interrompido por uma única interação humana, pra avisar um casal de italianos que o metrô era pra outro lado!) recapitulei todas essas sensações e só fui perceber que a fome tinha voltado quando, quase chegando, meu estômago se manifestou. Pensando bem, talvez o melhor resumo da noite seja: o Kasabian me fez esquecer de comer.

Considerando o quanto aprecio a boa mesa e que estava, afinal, em Roma, pode-se dizer que foi um show e tanto.

Setlist
01. Days Are Forgotten
02. Shoot the Runner
03. Velociraptor!
04. Underdog
05. Where Did All the Love Go?
06. I.D.
07. Take Aim
08. Club Foot
09. Re?Wired
10. Empire
11. Man of Simple Pleasures
12. Fast Fuse
13. Goodbye Kiss
14. L.S.F. (Lost Souls Forever)

BIS
15. Switchblade Smiles
16. Vlad the Impaler
17. Fire

Veja “Days Are Forgotten”:

Veja “Underdog”:

Vídeos por Blacktapeblog (exceto onde indicado)

Fotos por Emanuelle Gambino/Atlatico Live.

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