KATIE DEY é uma daquelas surpresas que só são possíveis nesses tempos pós-Internet. Ela é de Melbourne, Austrália, novinha e teve numa das bandas preferidas a chance de mudar de “ouvinte” pra “criadora”.
“Eu era fã da banda Elvis Depressedly por alguns anos e Mat Cothran acabou checando meu blogue porque acho que os likes do meu Tumblr foram insistentes demais pra serem ignorados. É o que eu acho que aconteceu. Ele acabou gostando de uma das minhas músicas que postei no blogue e ficamos trocando e-mails. Enviei algumas outras demos e ele elogiou um tanto e acabei colocando-as no Bandcamp. Mat então mostrou esse material pro Warren da Orchid Tapes e ele ficou interessado em lançar”, conta Key, numa curta entrevista à Noisey.
Daí que o primeiro disco da moça, “asdfasdf”, saiu dia 28 de abril de 2015, via Orchid Tapes. Na verdade, um cassete, que se esgotou rapidamente.
Sonoramente, “asdfasdf” tem muito a ver com a banda de Cothran. Se você nunca ouviu a extensa obra dele (num curto espaço de tempo, apenas cinco anos), faça isso. O disco mais recente da Elvis Depressedly, “New Alhambra”, é um folk-experimental-lo-fi deprê, que foi lançado em maio de 2015 (ouça na íntegra aqui). Katie Key andou falando com o ídolo certo, era claro que Cothran ia se identificar.
Mas o som de Key é mais transtornado, embora tenha enfoques infantis vez por outra. Há uma certa balbúrdia, um incômodo intrigante nas suas canções, como em “H.O.E.”. Os ruídos leves tomam conta do todo. Seu vocal arrastado, com efeitos, desconexo, lembra o das moças da CocoRosie. “All On You” lembra os primórdios da Goldfrapp, aquela estranheza gélida. “Y o y o” tem uma certa proximidade com o Flaming Lips. “You Gotta Get Up To Get Up” é um dream pop delicioso.
Apesar dos ruídos, não é um disco difícil de ouvir. Ao contrário, há uma leveza impressionante permeando as sete faixas. Key mexeu e remexeu em tudo, tanto que admite ser difícil reproduzir o disco ao vivo e nem sabe se e como o fará, eventualmente.
Sobre o título, Key tem uma história curiosa, também contada à Noisey: “de certa maneira é porque não quer dizer nada e eu não queria dar um título que pudesse impor algum significado que as canções não têm. Quando eu juntei essas canções nunca pensei num tema ligando-as, então quando publiquei no Bandcamp eu descobri que não havia um título que fizesse realmente sentido pra mim, então eu só teclei aquelas primeiras teclas do meu teclado. Não liguei a mínima, porque achei que ninguém fosse ouvir, mas as pessoas acabaram ouvindo e eu tive que pensar num título. Nunca pensei em teclar qualquer coisa pra dar um título ao disco, e meio que foi consciente escolher ‘asdfasdf’ naquela hora (…). Ninguém realmente tecla aleatoriamente e sai ‘asdfasdf’, assim do nada, você acabaria teclando algo como ‘hgdndgu’ ou ‘ijjasif'”.
Não dá pra saber do que é capaz Katie Dey daqui pra frente. Mas com “asdfasdf” ela já deu um belo exemplo de “faça-você-mesmo” certeiro: criatividade, sensibilidade e força de vontade.
Ouça na íntegra:
Aqui, o vídeo fofinho de “Unkillable”, a música mais acessível do disco:
Uma dica: não confundir com a Katie Day (com “a”).
1. Don’t Be Scared
2. Fear O The Dark
3. Unkillable
4. H O E
5. All On You
6. Y o y o
7. You Gotta Get Up To Get Up