KID FOGUETE – A BRIEF STUDY ON HOW TO FAIL COMPLETELY VOL. 1

“Todo mundo passou por uns apertos nesse último ano… E foi logo quando eu larguei a vida corporativa pra tentar fazer mais música, viver mais imerso nisso… Aí, foi meio frustrante. Porque eu tava pronto pra tocar, mudei a vida mesmo”, diz Rafael Carozzi, guitarra e vocal do Kid Foguete, sobre o clima do novo disco, “A Brief Study On How To Fail Completeley Vol. 1”.

Toda a banda, por diversos motivos, passou por problemas pessoais e isso se refletiu em como o disco foi feito. No caso de Rafael, o problema é o mesmo de milhões e milhões de brasileiros desde sempre: a falta de grana, alta competitividade pra viver do que gosta e a frustração que decorre disso.

“Comigo, tava tudo de boa, era só grana curta – e tem o fato de eu ser desesperado”, diz.

Como seus problemas eram “menores” que os dos demais integrantes, todos entraram numa concordância natural de que Rafael tocasse em frente o projeto do disco: “eles foram bem legais de entenderem a importância que tem pra mim ao deixar o processo na minha mão”.

De qualquer forma, o “rápido estudo de como falhar completamente” acabou refletindo o ambiente e o período: “sim, é uma alusão a isso, talvez mais no sentido da minha escolha de largar tudo pra seguir o sonho do que a situação de todos, porque o título já existia quando os problemas começaram, uma coisa de rir de si mesmo pra deixar um pouco mais leve”.

Apesar do clima ser um tanto pessimista, quase nenhuma das seis canções do disco trata sobre falta de grana ou dos problemas diretamente ligados a qualquer um dos integrantes: “‘The Plan’ é a que mais tem a ver, meio que conta a história do disco, sobre esperar, entender, contar com a ajuda, e no fim fazer por si mesmo; ‘Looking…’ é a única sobre amorzinho e fala desse rolê de aplicativos de date na real… Então, tava tentando achar o fio condutor, e percebemos que era ‘solidão’. A única coisa em comum é de se sentir à parte das situações. A ‘An Ever Expanding Universe’ é um exemplo bom porque fala de afastamento entre as pessoas, coisa de tecnologia, de escolher lados políticos e rachar total com outros, mas num paralelo com o Paradoxo de Fermi, em que o universo está sempre se expandindo, então os corpos celestes estão se afastando sempre. O esforço pra chegar em algum lugar sempre precisa do cálculo do quanto essa coisa tá se afastando enquanto você vai até ela”.

Mas tem um “vol. 1” no título, o que sugere que vem mais por aí. Rafael explica que a banda fez quinze músicas e que já tem a pré-produção dos volumes 2 e 3. O disco, então, pode virar uma trilogia: “a intenção é que (os discos) saiam – só mesmo se não perderem o sentido até a hora de fazer”.

A capa do disco, de autoria de Thais Curvelo (acesse o trabalho dela aqui), foi feita pro EP anterior, “Pure Places” (de 2014), mas acabou não virando a capa oficial. O belíssimo desenho do abraço foi resgatado agora.

“Um abraço é muito mais coerente (com relação ao humor do disco). O lugar de repouso, de confiança. mas a imagem ganhou significado conforme foi existindo oficialmente como capa. O disco não é um chororô de ‘tá tudo uma merda’, saca? É meio que um ‘se toca, cacete, a gente tá junto na merda’, é quase um pedido por compreensão. Acho que quase todas as músicas têm esse momento também. ‘Walls’ é a mais bad vibe e termina num ‘take your time'”, explica.

Pro disco, há uma troca: nos sintetizadores, sai Piero Locatelli e entra Alinne Anno, baixista de outro trabalho com Carozzi, a Readymades (conheça aqui). O resta da banda é: Rafael Carozzi (vocal e guitarra), André Garbin (guitarra), Felipe Petroni (bateria) e Pablo Turazzi Vilanova (baixo).

O trabalho foi todo gravado no agora bem melhor equipado estúdio caseiro de Carozzi, que também fez a mixagem e a masterização.

O resultado é que “A Brief Study On How To Fail Completely Vol. 1” é um disco “menos roqueiro, tem mais brincadeira com o tempo das coisas, algo que eu gosto demais. Tipo o baixo da ‘An Ever…’, que fecha em 16 enquanto todo mundo toca 4/4 normal; ou a ‘The Plan’, onde parece que tá cada um fazendo uma coisa, sabe? Como não tinha hora de estúdio pra pagar e limitar o tempo, deu pra fazer essas brincadeiras de compor de acordo com o que a música fala, tentar passar a sensação exata do discurso. As letras do ‘Pure Places’ são tão bad vibes quanto essas, mas as molduras dão uma amenizada. Nesse disco, o discurso e o som são uma coisa só”.

E, apesar da temática, é o que a banda chama de “um disco mais acessível”. Rafael explica por onde: “a voz mais na cara é um fator importante; tem esse monte de coisa de composição… Acredito que conseguimos colocar tudo isso nas músicas sem fazer com que isso seja a música, sabe? Não é metal melódico ou math rock, em que o tanto de técnica aplicado é exatamente o valor da composição. Não precisa contar os compassos do baixo pra ‘An Ever…’ ficar interessante, mas se contar ela pode ficar mais interessante ainda. Falamos do acessível e logo depois falamos que o ouvinte atento vai pescar coisas legais. Talvez isso seja indissociável”.

“Tem um esforço ativo de se conectar, eu tô falando de mim, mas acho que falo pela banda quando afirmo que a gente quer ser ouvido, saca? Eu nunca tive essa coisa romântica do artista fodido. O que não quer dizer que você vai ouvir o Kid fazendo rock bombado do BR, mas que a gente gosta do que tá fazendo, talvez o nosso acessível signifique que nesse momento a gente encontrou o nosso som, e estamos convidando as pessoas pra ouvirem”, diz.

“O Kid não mudou pra se tornar acessível. Acho que o tempo limpou algumas coisas do nosso som, mas mesmo assim ainda tem nossas maluquices. Música de sintetizador no meio do disco, nenhuma música tem refrão… Mas eu não acho que isso seja complexo ou inacessível, sabe? Achar isso um absurdo do experimentalismo é chamar o ouvinte de burro. E o ouvinte não é burro. Nós somos honestos no que estamos fazendo e o convite é pra quem se identificar. Não é um movimento pra ser mais parecido com o que as pessoas costumam gostar, mas é um movimento pra mostrar pro máximo de pessoas possível, pra tentar trazer mais gente pra perto de nós. Mas pra nós de verdade, não pra nós maquiados e malhados posando pra foto com cara de mau”.

O disco foi lançado nesse dia 7 de julho de 2016, via Mono.Tune Records e você pode ouvir na íntegra aqui:

1. Looking For The Right Things (In The Wrong Places)
2. The Plan
3. An Ever Expanding Universe
4. Walls
5. A Brief Study On How To Fail Completely
6. Bound

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