KOVTUN – DEATH

Vamos ser sinceros: falar de morte é algo bastante sedutor. O mistério que envolve o evento pelo qual todo e qualquer ser vivo deve encarar (e não só os seres vivos, mas estrelas, galáxias, o universo e a própria luz, tudo caminha pra morte) é tentador e desafiador. E saboroso.

No caso do Kovtun de Raphael Mandra (apoiado pela banda Ab Marduk, na guitarra; Will Wentz, no baixo baixo; e Lukão, na bateria), faz bastante sentido, porque sua música obscura é um convite ao mistério, a qualquer mistério, sendo a morte o mais espetaculoso deles. Entretanto, não só. “Death”, seu oitavo disco cheio, lançado dia 11 de janeiro de 2019, via Sinewave (baixe aqui), não deixa dúvidas de que o prazer atrativo do tema uma hora esbarraria no projeto paulista.

Ora, apesar da obviedade enfrentada pelo tipo em questão (dark ambient é a etiqueta que mais salta na mente pro Kovtun), “Death” não é exatamente um disco óbvio. Há drones e processos lentos, mas a bateria tribal-metálica de “The Swarm” e o sentido igualmente ritualístico de “The Treasure Of The Humble” dão uma impressão ainda mais densa e majestosa ao trabalho. Pode ser a trilha pro evento de passagem, que soa dolorido, mas pode ser também uma análise mais ampla do fim em si: não é como nós percebemos a nossa morte, mas como a morte pode vir a ser, pra tudo e pra todos. Daí, vêm “Everything Must Finish Exempt From Suffering” e “Wisdom And Destiny” retorcer toda a teoria, com seu dedilhado fúnebre e setentismo estranho.

Se não há uma clareza científica quanto a esse assunto, a arte tudo pode especular, como fazem Mandra e sua turma aqui. Na especulação, vive a criação e morre o obscurantismo do cotidiano inercial, sem tempo pra reflexões.

“Death” é um disco interessante, enfim, por abordar um tema já bem vasculhado, sem se precipitar no óbvio marcado pelos simbolismos, pela fé, pelo mistério, pelo sobrenatural. Embora chegue a todos, a morte é algo muito pessoal.

O disco tem produção e mixagem de Raphael Mandra. “Death” chega um ano e meio depois de “Infernal” (ouça aqui) e um ano após a parceria com o Umbilichaos, “Belong To Nothing” (ouça aqui).

01. Chrysanthemums
02. The Swarm
03. The Treasure Of The Humble
04. Everything Must Finish Exempt From Suffering
05. Wisdom And Destiny
06. The Measure Of The Hours
07. The Double Garden
08. The Buried Temple
09. The Life Of The Bee
10. DEATH

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