LABIRINTO – KADJWYNH EP

Eis o “próximo passo”. Depois do exuberante “Anatema” (e é difícil arrumar adjetivo mais apropriado pra esse caso) , o disco de 2010, os paulistanos da Labirinto se enchem de energia pra dar esse próximo passo: gravar novas músicas e manter o nível o trabalho anterior.

Não que isso seja, de fato, uma exigência, mas a comparação será inevitável. Segundo Erick Cruxen, um dos cabeças da banda, “esse disco não tem essa exigência, até porque é um EP, não tem a carga do ‘Anatema’, que levou dois anos de gravação e tal, e eu nunca entendi essa preocupação que as pessoas possuem de querer fazer um disco melhor e temer a comparação, mas confesso que isso me veio à cabeça. Nunca pensei que fosse sentir algo assim. Sei que não somos nada, mas passou pela cabeça uma curiosidade, não medo do que as pessoas iriam sentir, já que a gente não esperava o que aconteceu com ‘Anatema’… Até hoje, saem resenhas na gringa, vendemos quase todo dia um disco ou CD pelo site, muitos gringos pegaram músicas do ‘Anatema’ e colocaram no YouTube com vídeos que fizeram… Nunca esperamos isso, mas por outro lado, dá muito mais vontade de criar coisas novas que queremos fazer faz tempo”.

Daí, chegamos ao título do EP. “Kadjwýnh” carrega o conceito dos índios Kayapós de que o ser humano é formado por diversos elementos – pele, órgãos, espírito e energia vital, o Kadjwýnh. A palavra na Jê, a língua kayapó, significa “energia vital”, exatamente o que foi preciso pra dar esse passo, pra seguir em frente e transformar o sucesso criativo de “Anatema” definitivamente num vívido passado.

Erick, porém, destaca: “o EP não tem continuidade conceitual nenhuma com ‘Anatema’, pode reparar até na arte, no estilo… É um momento diferente do disco, mas tivemos que fazê-lo, pois temos composições diferentes. Acho que esse EP tem muitos elementos do ‘Anatema’, digo musicalmente, mas ele é uma ruptura – não forçada, mas natural. Quem prestar atenção perceberá que ele tem uma conotação contestatória política muito mais imediata e engajada que o ‘Anatema’ (que também tem, mas por uma via muito mais niilística e até metafísica). Acho as músicas do EP mais pesadas e diretas que as do ‘Anatema’, tirando a ‘Cairo'”.

A “energia vital” emergiu a partir da indignação da banda com diversas coisas. Uma dessas questões que motivaram na composição foi a construção da Usina de Belo Monte. Erick ressalta que “os Kayapós são um dos mais combativos e atuantes ‘grupos indígenas’ contra a implementação e construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Xingu, desde a década de 80”. A questão ainda não resolvida totalmente pelo governo brasileiro foi alavanca pras intenções de “Kadjwýnh”.

“A Labirinto nunca fez somente música pela música. Sempre tentamos engendrar as composições relacionando-as com outras formas de expressão”, diz Erick, lembrando que a revolta é com “o descaso com a população que vive e viverá diretamente de toda essa situação… Foi algo que apareceu quando estávamos compondo”.

Tirando a citada “Cairo” (que você já pôde ouvir aqui, por conta do lançamento na coletânea “More Hope For Japan”), as músicas do EP têm relação com o embate da usina, ou precisamente com o que ela simboliza: “contra a forma que está sendo implementada, mas não é algo simplista, só Belo Monte… É como tudo está acontecendo, e o que representa (não é uma crítica anti-positivista e evolucionista), porém, de certa forma, a relação simbólica disso com muitas outras coisas (aí você pode colocar muitas outras coisas, da truculenta reintegração de posse no Pinheirinho, até o descaso com o dia a dia). Não é algo que queremos colocar e fazer campanha diretamente, saca? Lógico, podemos ser engajados nisso em nossas vidas pessoais, mas é algo mais subjetivo. Não gostaríamos de colocar o que cada música quer dizer, ou que as inspirações sejam políticas, culturais, sociais. Isso parece oportunismo. Preferimos construir a música movidos por esse sentimento e deixar que as pessoas perguntem elas mesmas”, completa.

Os títulos entregam, como “Non Sunt Daemones”, que traduz-se por “não são demônios”; e “Piam Ket”, por “sem vergonha”.

Aliás, “Cairo” é diferente da que saiu na coletânea. Ela foi remixada e ganhou violinos. Ela, como todo o EP foi gravado e mixado no Dissanso Studio e no Mosh, em São Paulo, nos últimos quatro meses. A masterização ficou por conta do estadunidense Bob Weston (Shellac e Mission Of Burma), conhecido da banda desde o trabalho com o “Anatema”.

A Labirinto que você ouve em “Kadjwýnh” é Ana Carolina Miguez (violoncelo), Daniel Fanta (guitarra), Erick Cruxen (guitarra/efeitos/synths), Heitor Fujinami (violino), Hugo Falcão (guitarra/tambores orquestrais/piano), Muriel Curi (bateria/synths), Rafael Rodrigues (contrabaixo acústico) e Ricardo Pereira (contrabaixo elétrico).

São 21 minutos distribuídos em quatro músicas:
1. Non Sunt Daemones
2. Tuira
3. Piam Ket (clique aqui pra ver o vídeo)
4. Cairo

Ouça na íntegra:

A bela capa é um projeto gráfico do ilustrador Ricardo Sasaki, que já realizou trabalhos pro Peixonauta, Palavra Cantada e Sala Gabriel Garcia Marques, na Colômbia.

O álbum será rodado nos EUA em dois formatos: vinil picture disc e CD. Mas ainda não há uma data certa pro lançamento. Mesmo assim, a banda já antecipa o anúncio de uma turnê pelos Esteites e Canadá, durante os meses de março e abril, “com participação em dois festivais internacionais, o Canadian Music Fest, em Toronto, Canadá; e o Heart of Texas Rock Fest, em Austin, Esteites”, informa Erick, que lembra, empolgado: “a banda também foi convidada a lançar o novo EP na renomada Casa del Popolo, em Montréal, de propriedade dos integrantes do Godspeed You! Black Emperor. O Labirinto dividirá o palco, neste evento, com dois dos nomes mais respeitados da cena experimental da atualidade, os canadenses Thisquietarmy e Sweet Mother Logic”.

Veja as datas confirmadas até o momento e acompanhe no novo site oficial da banda as alterações, novas datas e, claro, um diário de viagem:

07/03 – Chicago/IL (EUA) – Bottom Lounge
08/03 – Des Moines/IA (EUA) – Vaudeville Mews
10/03 – Kansas City/MO (EUA) – The Record Bar
11/03 – Oklahoma City/OK (EUA) – Local a ser informado
13 a 17/03 – Austin/TX (EUA) – Heart of Texas Rock Festival
20/03 – Newport/KY (EUA) – Southgate House
21/03 – Hamtramck/MI (EUA) – Paychecks Lounge
22 a 24 – Toronto/ON (Canadá) – Canadian Music Festival
25/03 – Montreal/CQ (Canadá) – Casa del Popolo
26/03 – St-Hyacinthe/CQ (Canadá) – Le Zaricot
28/03 – Boston/MA (EUA) – Middle East Club
31/03 – New York/NY (EUA) – Arlene’s Grocery
01/04 – New York/NY (EUA) – Pianos
02/04 – West Chester/PA (EUA) – Local a ser informado
04/04 – Lexington/KY (EUA) – Cosmic Charlie’s
06/04 – Chicago/IL (EUA) – The Elbo Room

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7 comentários

  1. […] Uma das mais festejadas bandas instrumentais do país, o Labirinto já prepara um novo EP para lançamento em março/abril, pelo selo alemão Denovali. O registro se chamará Kadjwýnh, que significa ‘energia vital’ na língua dos Kayapós, e terá 4 canções (em ordem): “Non Sunt Daemones”, “Tuira”, “Piam Ket” e a já conhecida “Cairo” (remixada e com adição de violinos). Novamente Bob Weston (do Shellac e Mission Of Burma) assina a masterização e o ilustrador Ricardo Sasaki assina o projeto gráfico (capa acima e encarte aqui). Mais infos no Floga-se. […]

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