Sempre que começo um post falando da Mansarda Records – a grande e infelizmente pouco reverenciada Mansarda Records – tenho que me lamentar do quão difícil é acompanhar sua prolificidade e, baseado num ou outro estímulo, me dou conta do que andei perdendo.
O selo porto-alegrense é um verdadeiro covil de criatividade na improvisação, um dos grandes expoentes da nossa música subterrânea (aquela que é subjugada em detrimento do equivalente gringo). Ali, uma turma bem entrosada, desmembrada em várias partes e vários projetos, deixa fluir a vontade de tocar, gravando tudo. O resultado é uma enorme e instigante discografias a ser constantemente descoberta e redescoberta.
Só em 2014, já foram quatro discos.
Começou com Diego Dias & Michel Munhoz e seus “Duos Para Sopros E Bateria Vol. 4”, Dias nos sopros e Munhoz na bateria, evoluindo no quarto volume da série cujo nome entrega as intenções. O lançamento se deu em 2 de janeiro.
Ouça aqui na íntegra (e baixe aqui):
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No dia 8 de janeiro, saiu “Improvisação Eletroacústica Vol. 02”, do Hexagotrópicos, que é Gustavo Bode e Leonardo Estevão operando seus laptops, com “material registrado no mês de setembro de 2012 durante sessões de livre improvisação no estúdio Musitek em Porto Alegre, RS”. Os ruídos sobrepondo-se às bases ambient hipnotizam o ouvinte sem deixá-lo naquele transe inoperante: soa como música de fundo, mas incomoda o suficiente a ponto de não ser uma peça chata muzak pra tocar em elevador, ao mesmo tempo que flerta com a música eletrônica, convencional e experimental. É, sem dúvida, um dos melhores e mais instigantes dessa leva. Destaque pra faixa de abertura e seus mais de onze minutos de viagens de estilos, e pra espacial “ILE_03”.
Ouça na íntegra (e baixe aqui):
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O terceiro lançamento se deu em 20 de janeiro: Vó Sibutra, com “Trio I”. Aqui temos Diego Dias nos sopros, Moisés Rodrigues na guitarra e Michel Munhoz na bateria. Parece um trio tradicional. Não é. A fantasmagórica “Overture” já inicia o disco tratando de colocar a banda nos níveis de experimentação de um Body/Head, quem sabe, nos seus dezoito minutos de insanidade e apreço a outros planos espirituais. Mas segue com os esfuziantes dois minutos e meio de “O Trio, Propriamente Dito”, peça exemplar de balbúrdia sonora impactante. “Finale” é, com o perdão da obviedade, o desfile caótico final, bastante insano. Discaço.
Ouça na íntegra (e baixe aqui):
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O quarto e último lançamento desse mês, com data marcada em 29 de janeiro, é Estevão & Munhoz (não, não é uma dupla sertaneja – observação irresistível), com “EM1”, indicando que novas peças com esse nome surgirão no futuro (se bobear, num futuro bem próximo). São experimentações com guitarra (Estevão) e bateria/objetos (Munhoz). Quatro músicas gravadas ao vivo ainda em janeiro de 2014 (dia 17), ao vivo em estúdio. Aficionados em free jazz vão se esbaldar.
Pra ouvir é aqui (pra baixar, aqui):