LÊ ALMEIDA NA LOCOMOTIVA DISCOS: “GRAN PARQUE” E “AMER”

Foi um sábado estranho, pra dizer o mínimo. Mas memorável.

Logo cedo, abriu um baita sol. Calor daqueles de rachar. Meu primeiro compromisso era um samba-com-feijoada no centro de São Paulo, ali onde a Consolação quase se encontra com a Augusta. Um tanto mais à tarde, uma rápida caminhada de cinco minutos me levaria à Locomotiva Discos, pra essa sessão (e outras que serão publicadas aqui, gravadas com o pessoal da Transfusão Noise Records nesse mesmo dia).

Mas o céu desabou num aguaceiro digno de Belém do Pará às cinco da tarde de um dezembro qualquer. A pé era impossível. Atrasei. A luz do dia foi-se numa velocidade maior que o usual e isso poderia comprometer a captação de Lê Almeida e sua turma na loja. Não somos um blogue de recursos…

No final, o atraso foi de apenas quarenta minutos. A chuva deu uma trégua. O calor, não. Abafada e úmida começava aquela noite de primavera, como um verão antecipado. Cheguei depois de todo mundo. No caminho da Consolação à Galeria Nova Barão, apesar da overdose sambística durante todo o dia, vinha só com uma canção na cabeça: “Gran Parque”, de Lê Almeida. Não sabia o motivo.

Mas o cenário era propício. As árvores da Praça Dom José Gaspar e as calçadas vazias e molhadas da Avenida São Luís compunham um quadro de parque europeu. Esse era o visual. Porém, o som que se ouvia não era nada bucólico, de passarinhos, de carros ou de conversas cochichadas: mais duas rodas de samba aconteciam ali. A praça fervilhava em excitação, tamborins e álcool. Mesmo assim, na minha cabeça, “Gran Parque”.

A curiosidade disso tudo é que pra essas sessões “Na Locomotiva Discos”, eu sou vou saber na hora o que o protagonista vai apresentar ali, apenas quando a câmera é ligada e vibram as primeiras cordas do violão. Lê Almeida justamente as fez vibrar nas notas de “Gran Parque” – e ele foi só o terceiro a ser filmado.

Talvez mentalmente ele estivesse na mesma vibração mental que eu. Talvez seja uma daquelas coincidências surpreendentes, que acontecem raramente, vez por outra. Mas valeu a transmissão de pensamento. “Gran Parque” e “Amer” ilustram essa sessão: a estampa sonora daquele dia estranho, mas soberbo.

“Gran Parque”

“Amer”

A sessão “Na Locomotiva Discos” é uma parceria do Floga-se e @indiedadepre com a Locomotiva Discos.

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