LÊ ALMEIDA – TODAS AS BRISAS

“Mantra Happening” saiu em março de 2016 (leia resenha aqui). É o disco mais virada-de-chave de Lê Almeida (ou Conjunto Lê Almeida, que é como a banda assina a obra), que deixou de lado a crueza e simplicidade do Guided By Voices pra mergulhar no kraut como quase ninguém faz no Brasil.

Eu já nutria um enorme respeito por ele e por tudo o que ele fez e faz pela música subterrânea brasileira (ainda mais numa cidade pouco amigável pra esse tipo de som, que é o Rio de Janeiro), mas “Mantra Happening” o elevou a um patamar mais elevado. Canções como “Maré” e “Oração Da Noite Cheia”, com seus mais de doze minutos de fritação, mostram que Almeida não se acanha em distorcer a própria linha criativa.

“Todas As Brisas”, o segundo disco a sair em 2016 (saiu dia 7 de outubro, pela seu selo Transfusão Noise Records), é uma extensão mais doce de “Mantra Happening”. Aqui, ele volta a entregar canções mais curtas e singelas, como “Meditação Oracular”, mas não tem freios pra expandir a viagem em músicas como “Rolezin” (a “Maré” do disco) e “Praia Alta”, que se não é exatamente kraut (não é), tem um corpo de fritação que deixa na saudade o vocal desleixado de Almeida.

São dez músicas aqui; uma delas, “Depois A Gente Dorme”, um arremedo. Gravado no Escritório, entre 2015 e 2016, ou seja, paralelamente a “Mantra Happening”, o disco mostra uma interessante percepção do artista em compreender a própria obra, separando-a em galhos menores que fazem sentido, mesmo que elas se unam pela mesma raiz e tronco. “Todas As Brisas” é diferente de “Mantra Happening”: tem a mesma estrutura “viajante”, mas é mais leve e delicado, é mais ensolarado, por assim dizer, um disco mais solto – o que não quer dizer que seja melhor. Não à toa, foi um disco que surgiu como inspiração de uma viagem a Búzios, no litoral carioca.

Os dois são crias da mesma mente, do mesmo pai. Têm o mesmo DNA, mas personalidades diferentes. Irmãos, os discos oferecem ao ouvinte um Lê Almeida que faz uma provocação: o que virá pela frente? A partir daqui, ele pode dar qualquer passo que já será uma surpresa. Conseguiu dar um nó na cabeça do ouvinte que o acompanha de longa data. Todas as suas brisas são todas as suas possibilidades e viagens.

O disco foi produzido por Lê Almeida e masterizado por João Casaes, guitarrista do Conjunto, que também é formado por Bigú Medine (baixo) e Joab Regis (bateria).

“Todas As Brisas” não é um disco que se encerra em si. As vinte e nove artes/colagens que Almeida fez pro encarte viraram um zine xerocado e uma exposição em cada show que o Conjunto fará nessa turnê. As colagens de Almeida, cujo estilo todos conhecem das capas de seus discos, são outra ferramenta de expressão do artista. É mais uma brisa dele.

01. Rolezin
02. Depois A Gente Dorme
03. Meditação Oracular
04. Derretida
05. Todas As Brisas
06. Quebrante Das Ondas
07. Aflorado
08. Matinê Maruins
09. Por Que Os Muros São Altos?
10. Praia Alta

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