A banda de Austin, Texas, chegou ao quarto disco, apropriada e preguiçosamente chamado de “IV”. O Letting Up Despite Great Faults não lançava um disco desde “Neon”, de 2014 (lembre aqui), e não que alguém sentisse muita falta, mas esse novo trabalho é uma boa surpresa, e quem gosta de dreampop ou um shoegaze mais inofensivo agradece.
Ok, a descrição assim sugere um disco ruim, o que não é verdade. “IV” é, dentro do estilo, uma “delícia de verão”, algo que soa até contraditório por si só, mas que indica um convite a se espreguiçar numa rede, final de tarde, relaxamento e tals.
A obra começa com a instrumental “Kisses” que já é, de cara, algo delicioso. Mas “Corners Pressed” e “Softly, Bravely”, que poderiam ser do Diiv, Wild Nothing, Beach Fossils, ou de qualquer uma dessas bandas rigorosamente idênticas, mostra que tudo bem não haver um pingo de novidade ou coisa que o valha, o que importa é o sentimento ao ouvir a música – e vale se adiantar: ok, se a música não lhe disser absolutamente nada, talvez o processo seja randômico mesmo.
Mike Lee (vocal e guitarra), Kent Zambrana (baixo), Annah Fisette (vocal e guitarra) e Daniel Schmidt (bateria) dizem que o disco “investiga narrativas pessoais sobre crescimento, perda, arrependimento e renovação”, o que também é um troço um tanto vago, mas essa é a maravilha das informações aleatórias que recebemos nos dias atuais. A quantidade é imensa e nem é possível compreender tudo. Algo de ontem já é tão antigo quanto do século passado. Nesse sentido, pra quê mesmo o esforço por algo realmente inovador, que dois dias depois virará no máximo um meme ou um NFT enganador?
“Sonoramente, o som do grupo também explora uma abordagem mais agressiva, em que Lee optou por quebrar o escudo hermético de sintetizadores e filtragem”, segue a banda, ao descrever o trabalho, em mais uma frase que pouco quer dizer. “O álbum liderado por guitarras representa as indagações da vida sobre revelações muitas vezes duras sobre mortalidade e amor, como observa Lee, ‘por que você ama, por quanto tempo você ama'”: não é maravilhoso dizer, dizer e só dizer?
Pois esse é o nosso mundo atual e saibamos conviver com ele, dessa forma, e tirar o melhor do cenário. Onde “IV” se encaixa é onde você pretende que seja naquele momento, porque, em breve, o disco vai provavelmente desaparecer do seu campo de atenção. O que seria uma pena, porque “She Spins” merece uma nova ouvida, bem como “Self-Portrait”. Mas parece que todo disco hoje é um “disco de momento”: uma audição, uma sensação, um encaixe.
Não vai mudar sua vida, mas pode fazer seu dia melhor.
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O disco foi lançado dia 4 de março de 2022, de maneira independente.
01. Kisses
02. Corners Pressed
03. Softly, Bravely
04. Gorgeous
05. New Ground
06. Gemini (clique aqui pra ver o vídeo)
07. She Spins
08. Tumble
09. Curl
10. Self-Portrait